Em uma série de tuítes neste domingo, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 e atacou, sem citar o nome, a Rede Globo, depois que a emissora de TV criticou duramente o presidente por sua condução do combate à pandemia na véspera, quando o Brasil atingiu a marca de 100 mil mortes pela doença.
O presidente iniciou a sequência afirmando que no Reino Unido o Departamento de Saúde estima que 16 mil pessoas morreram das mais diversas formas por não terem acesso ao sistema público de saúde devido à pandemia, enquanto 25 mil morreram de Covid-19.
Na sequência, o presidente correlaciona esses dados ao lockdown imposto por autoridades como forma de frear a disseminação no vírus. Para ele, os números significam que "o lockdown matou 2 pessoas pra cada 3 de Covid no Reino Unido".
Mesmo admitindo não ter dados desse tipo no Brasil ainda, Bolsonaro diz então que "os números não seriam muito diferentes".
Desde o início da pandemia no Brasil, o presidente critica governadores e prefeitos que adotaram medidas de quarentena para desacelerar a disseminação do vírus, afirmando que a crise econômica resultante da paralisação de atividades mataria mais que a Covid-19.
Segundo o presidente, no Brasil não faltaram recursos, equipamentos e medicamentos para Estados e municípios no enfrentamento da pandemia. Ele repete então uma declaração recorrente sua de que "não se tem notícias, ou seriam raras, de filas em hospitais por falta de leitos UTIs ou respiradores".
Ele elogiou profissionais de saúde e gestores que "fizeram de tudo pelas vidas do próximo", que teriam agido "diferentemente daquela grande rede de TV que só espalhou o pânico na população e a discórdia entre os Poderes", iniciando seus ataques à Globo.
Segundo ele, a emissora "desdenhou, debochou e desestimulou" o uso da hidroxicloroquina. Mesmo admitindo que não existe "ainda comprovação científica" da eficácia do medicamento, o presidente afirma taxativo que o remédio "salvou a minha vida e, como relatos, a de milhares de brasileiros".
Bolsonaro anunciou no dia 7 de julho que estava com a covid-19 e imediatamente reforçou sua defesa do uso da hidroxicloroquina, inclusive divulgando um vídeo no qual aparecia tomando um comprimido.
O presidente destaca então que "a desinformação mata mais até que o próprio vírus" e diz que "o tempo e a ciência nos mostrarão que o uso político da Covid por essa TV trouxe-nos mortes que poderiam ter sido evitadas".
No meio dos tuítes, o presidente presta homenagem a policiais militares mortos no sábado ao afirmar que "lamentamos cada morte, seja qual for a sua causa, como a dos 3 bravos policiais militares executados em São Paulo".
No sábado, os presidentes do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, decretaram luto em homenagem aos mortos pela Covid-19.
Já Bolsonaro, ao menos publicamente, no sábado se limitou a retuitar um post da Secretaria de Comunicação que dizia "lamentamos as mortes por Covid, assim como por outras doenças. Nossas orações e nossos esforços têm a força de um governo que dá tudo para salvar vidas". A publicação trazia ainda alguns números gerais sobre a situação da doença no país.
Dados do Ministério da Saúde divulgados na noite de sábado mostram que o Brasil já registrou um total de 100.477 mortes pela Covid-19 e 3.012.412 casos, sendo o segundo país do mundo mais afetado pela pandemia, atrás apenas dos Estados Unidos.