O presidente da República, Jair Bolsonaro, admitiu na noite desta quarta-feira, 15, que demitiu servidores do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) porque os funcionários paralisaram uma obra da loja de seu aliado político, o empresário Luciano Hang.
A fala ocorreu durante um evento com empresários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e confirma denúncias feitas por ex-servidores.
"Eu tomei conhecimento que uma obra de uma pessoa conhecida, Luciano Hang, estava fazendo mais uma loja e apareceu um pedaço de azulejo durante as escavações. Chegou o Iphan e interditou a obra. Liguei para o ministro da pasta né? Que trem é esse? - porque eu não sou tão inteligente quanto meus ministros. O que é Iphan?, com ph. Explicaram para mim, tomei conhecimento e ripei todo mundo do Iphan. Botei outro cara lá e o Iphan não dá mais dor de cabeça pra gente", disse aos empresários sob aplausos.
O caso refere-se a obra de uma das unidades da loja Havan no Rio Grande do Sul, em 2019. À época, durante as escavações, azulejos e cerâmicas foram encontradas no local. Como é de praxe, a obra precisa parar para a análise dos artefatos. A paralisação ocorreu por conta da própria empresa e os trabalhos seguiram após um termo assinado pela Havan, que se comprometia a "contratar um profissional de arqueologia" para monitoramento.
O assunto também havia sido citado na polêmica reunião ministerial de 22 de abril de 2020, quando, entre outras coisas, Bolsonaro falou que tinha demitido servidores por conta do aliado.
Em maio do ano passado, em entrevista ao jornal "Folha de São Paulo", a ex-diretora do órgão Kátia Bogéa havia denunciado que ocorreram demissões no Iphan por pedidos políticos porque Bolsonaro queria alguém no órgão que "passe por cima da lei".
O Iphan foi criado em 1937 com o objetivo de cuidar e promover os bens culturais de todo o território nacional.