Em ato público na capital alemã, ex-presidente reafirma que não apoia impeachment de Bolsonaro e acusa EUA de estarem por trás de sua prisão e da queda de Dilma. Petista também critica opositor venezuelano Juan Guaidó.Durante um ato público em Berlim, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta terça-feira (10/03) as políticas do atual governo, mas se posicionou contra o impeachment de Jair Bolsonaro. O petista acusou ainda os Estados Unidos de estarem por trás de sua prisão e lançou críticas ao líder opositor venezuelano Juan Guaidó.
"Duvido que em algum momento o Bolsonaro acreditou quer seria presidente da República, porém, ele ganhou as eleições e agora teremos que amargar porque sabemos que o mandato é de quatro anos ", afirmou Lula, arrancando gritos de "fora Bolsonaro" da plateia.
"Não sou daqueles que ficam torcendo para que governos eleitos deem errado, porque quem paga o pato, quando dá errado, é o povo mais humilde e mais pobre", acrescentou.
Falando num espaço de eventos lotado, com capacidade para 500 pessoas, o ex-presidente criticou as políticas do atual governo, a contenção de gastos e falta de investimentos públicos para impulsionar a economia diante da atual crise.
"Um país que não tem investimento em ciência, tecnologia, educação e cultura é um país que não quer efetivamente democracia e liberdade", ressaltou Lula, destacando que as nações mais justas dos mundo são aqueles que possuem os Estados mais fortes.
Lula afirmou ainda que o Brasil enfrenta uma política de destruição da democracia, que descreveu como "uma sociedade em movimento buscando conquistar mais direito para todos". "O Brasil não precisa de mais golpe, o Brasil precisa de mais democracia. Temos que ir para rua exigir que esse governo respeite os direitos da sociedade e cumpra os compromissos com a educação".
Durante seu discurso de quase 40 minutos, Lula falou de sua prisão, agradeceu o apoio que recebeu neste momento e acusou - sem apresentar provas - os Estados Unidos de estarem por trás da sua prisão e do impeachment de Dilma Rousseff.
"O golpe que sofremos tem muito a ver com os interesses americanos pelo petróleo", afirmou. "Tenho certeza que nos meus processos tem o braço do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, fomentando e incentivando o que aconteceu no Brasil e na tentativa de eleger um picareta como [Juan] Guaidó presidente da Venezuela".
Lula criticou ainda o apoio do governo da Alemanha ao oposicionista venezuelano. Em janeiro de 2019, Guaidó foi declarado presidente interino da Venezuela pelo Assembleia Nacional do país após a reeleição de Nicolás Maduro. A vitória de Maduro ocorreu num pleito criticado pela comunidade internacional e repleto de acusações de fraude e intimidação de eleitores. O líder oposicionista foi reconhecido por mais de 50 países.
Em Berlim, Lula afirmou que Maduro foi eleito democraticamente e que se alguém quisesse derrubá-lo deveria fazê-lo nas urnas.
O meio ambiente também foi citado durante o discurso. Segundo o ex-presidente, é preciso debater a questão ambiental e o uso dos recursos do planeta para um mundo mais justo. Ao falar sobre a Floresta Amazônica, voltou a criticar o governo.
"A Amazônia não é da França, não é internacional, é do Brasil, portanto, o país precisa exercer a soberania sobre a floresta, mas com um governo democrático, e não troglodita como este. Um governo que saiba que a riqueza da biodiversidade da região pode ser estudada por cientistas do mundo inteiro para resolver problemas da humanidade, sobretudo, na área da saúde", destacou.
Em tom de campanha, o ex-presidente citou as políticas dos governos do PT, arrancando aplausos da plateia. Lula voltou a criticar a imprensa, acusando os meios de comunicação de disseminar o que chamou de ódio e mentiras contra o PT por "não suportarem as políticas de inclusão social" dos governos petistas.
"Não consigo compreender o ódio que está estabelecido entre a sociedade. Perdemos o sentido da humanidade, do humanismo, da solidariedade e da compaixão. O ódio tomou conta do nosso país", disse.
Ao final do discurso, o ex-presidente foi ovacionado pela plateia e recebeu presentes de vários apoiadores.
O ato em Berlim faz parte da agenda de 12 dias que Lula está cumprindo pela Europa. A primeira parada do ex-presidente foi na França. Em Paris, o petista recebeu o título de cidadão honorário da cidade numa cerimônia na prefeitura da capital francesa, além de se reunir com os ex-presidentes do país François Hollande e Nicolas Sarkozy, com quais conversou sobre o avanço da extrema direita.
Na França, ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff e do ex-candidato do PT à Presidência Fernando Haddad, Lula se encontrou ainda com o economista o Thomas Piketty e com o líder do partido França Insubmissa e ex-candidato à Presidência do país, Jean-Luc Mélenchon.
De Paris, Lula seguiu para Genebra onde participou de uma reunião com Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que reúne representantes de mais de 120 países. O encontro teve como tema a desigualdade social. Ele ainda se encontrou com o diretor-geral da Organização Mundial do Trabalho (OIT), Guy Ryder.
Em sua última parada, na Alemanha, Lula se reuniu com líderes políticos, entre eles, os co-presidentes do Partido Social-Democrata (SPD), Norbert Walter-Borjans, e da legenda A Esquerda, Bernd Riexinger, além do deputado social-democrata Martin Schulz, que o visitou na prisão em Curitiba.
Em Berlim, o petista também participou de uma conferência de sindicalistas e se encontrou com a ex-ministra alemã da Justiça Herta Däubler-Gmelin.
Essa foi a segunda viagem internacional do ex-presidente desde que ele deixou a prisão em novembro do ano passado, após 580 dias de encarceramento, depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) mudar seu entendimento sobre o cumprimento de penas após condenação em segunda instância. Em meados de fevereiro, o ex-presidente foi recebido pelo papa no Vaticano.
Lula foi condenado no caso do tríplex no Guarujá em primeira instância em 2017, pelo então juiz Sergio Moro, e teve sua condenação confirmada em segunda instância no ano seguinte. Ele começou a cumprir a pena em 7 de abril de 2018 na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Em abril de 2019, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a condenação, mas reduziu a pena de 12 anos e um mês de prisão para 8 anos, 10 meses e 20 dias.
O ex-presidente ainda foi condenado em segunda instância a 17 anos, um mês e dez dias de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do sítio de Atibaia. Ele nega as acusações e recorre de ambas as decisões. Ele argumenta que é alvo de uma perseguição política.
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