Depois de insinuar que a China pode ter criado o novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro recuou no posicionamento e frisou que não citou o nome do país asiático no discurso feito mais cedo nesta quarta-feira em que falou em uma possível "guerra bacteriológica".
Questionado por jornalistas sobre a declaração feita em discurso pela manhã no Palácio do Planalto, Bolsonaro chamou de "maldade" o que disse ser uma tentativa da imprensa de criar um atrito entre o Brasil e a China.
"Eu não falei a palavra China de manhã. Eu sei o que é guerra bacteriológica, química, nuclear... não falei mais nada", disse Bolsonaro a jornalistas no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, onde recepcionou a chegada do brasileiro Robson Oliveira, que passou mais de dois anos preso na Rússia e foi solto após intermediação do governo federal.
"É muita maldade tentar aí um atrito com uma país muito importante para nós, e nós para eles também", acrescentou. "Nunca nos distanciamos da China. Ela tem os interesses legítimos no Brasil e vamos continuar vendendo para China, porque ela precisa o que produzimos".
Mais cedo, em um discurso exaltado e sem citar nominalmente a China, Bolsonaro insinuou que o novo coronavírus pode ter sido criado pelo país asiático como parte de uma "guerra bacteriológica", em mais um episódio que tem potencial de gerar atrito com o principal fornecedor de insumos para vacinas do Brasil. (nL1N2MS284)
"É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em um laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem que é uma guerra química bacteriológica e radiológica. Será que estamos enfrentando uma nova guerra? Qual país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês", afirmou.
Apesar de o presidente não ter citado diretamente o país asiático, a China foi o único país que teve um aumento do Produto Interno Bruto em 2020, de 2,3%. O novo coronavírus foi detectado primeiro na província chinesa de Wuhan, ainda em dezembro de 2019, mas o país também foi o primeiro a controlá-la com medidas muito duras de lockdown.
Bolsonaro também voltou a criticar na entrevista no aeroporto as medidas de isolamento social e restrição de circulação importas por Estados e municípios para conter a Covid-19, ao argumentar que "roubam empregos" e fragilizam a economia.
"Isso é um crime que estão fazendo no Brasil", afirmou. "O Brasil tem que voltar a trabalhar e não pode se endividar mais".
Também no discurso de mais cedo no Planalto, Bolsonaro afirmou que tem pronto para editar um decreto para "garantir o direito de ir e vir", e disse que se o texto for publicado "não será contestado em nenhum tribunal". O decreto, disse, seria para repetir incisos do artigo 5º da Constituição, que trata das garantias e direitos do cidadão.