O presidente Jair Bolsonaro visitou pela primeira vez duas terras indígenas na Amazônia como chefe de Estado, na quinta-feira, apesar de protestos de líderes ianomâmis contra sua iniciativa de liberar as áreas protegidas para mineração comercial.
Cercado por oficiais do Exército e um chefe indígena local, Bolsonaro, com um cocar na cabeça, assistiu a um ritual da comunidade local na Terra Indígena Balaio, onde inaugurou uma ponte.
Líderes indígenas regionais representados pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) disseram que não foram convidados para qualquer diálogo com Bolsonaro e que ele privilegiou uma agenda com líderes autoproclamados como forma de "preparar palanque para fotos e vídeos de sua campanha eleitoral" para as eleições de 2022.
"Mesmo a FOIRN sendo a instituição que há mais de três décadas trabalha em prol de políticas públicas para os povos da região, não fomos incluídos na agenda e sequer convidados para qualquer diálogo com o presidente da República a respeito destes planos de gestão e outros temas de nosso interesse", disse a federação em nota.
"O desprezo por nosso povo indígena é tanto que o presidente sequer se deu o trabalho de conhecer nossa diversidade, criando ao seu bel-prazer uma nova etnia, a do povo balaio, que não existe no Brasil e em nenhum lugar do mundo."
O Palácio do Planalto não respondeu de imediato a um pedido de comentário.
PONTE DE MADEIRA
A ponte de madeira inaugurada por Bolsonaro foi construída pelo Exército em uma estrada que vai até a fronteira com a Venezuela, passando pela Terra Balaio, onde foram encontradas grandes reservas de nióbio.
O metal é usado para fortalecer o aço e em motores a jato, e Bolsonaro tem regularmente mencionado seu valor em discursos sobre as riquezas inexploradas da Amazônia que o Brasil deveria explorar.
Posteriormente, Bolsonaro visitou e passou a noite em um posto da fronteira militar em Maturacá, que fica no extremo oeste da Terra Ianomâmi, a maior do país.
A área foi invadida por mais de 20 mil garimpeiros ilegais na região leste do Estado de Roraima, encorajados pelo apoio de Bolsonaro à legalização da mineração em terras indígenas no Brasil.
Líderes ianomâmis lamentaram a visita do presidente à terra e reiteraram seus apelos ao governo para expulsar os garimpeiros.
"Não aceitamos a legalização de atividades mineradoras em nossas terras. Esta ação mineradora, entendemos que não trará beneficio satisfatório para nenhum de nós indígenas ianomâmis", disseram lideranças ianomâmis em Maturacá, em carta enviada a Bolsonaro no dia 15 de maio.
A visita de Bolsonaro ocorreu um dia após garimpeiros que exploravam ilegalmente terras dos indígenas munduruku no Alto Tapajós, no Pará, dispararem contra uma comunidade munduruku e incendiarem a casa de uma liderança.
O Congresso Nacional, onde Bolsonaro tem conseguido garantir apoio da maioria, está atualmente considerando o PL 490, proposta do governo que liberaria a mineração comercial e a agricultura em terras indígenas.