'Brasil precisa do mesmo entusiasmo anti-Lula para fazer faxina em todo o sistema político', diz biógrafo britânico

Questionado sobre a possibilidade do líder petista ter se envolvido ou ter fechado os olhos para corrupção, Robert Bourne afirma que Lula poderia ter sido mais 'vigilante'; pesquisador diz também que o Brasil precisa do mesmo entusiasmo anti-Lula para fazer uma 'faxina' em todo o sistema político.

6 abr 2018 - 16h31
(atualizado às 17h28)
Bourne diz ainda que gostaria de ver o PT fazendo autocrítica sobre as acusações que pesam contra a legenda e seus filiados
Bourne diz ainda que gostaria de ver o PT fazendo autocrítica sobre as acusações que pesam contra a legenda e seus filiados
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil / BBC News Brasil

Autor de Lula of Brazil, biografia de Luiz Inácio Lula da Silva lançada em 2008, o pesquisador britânico Richard Bourne diz que o petista "não foi tão forte quanto deveria" em combater a corrupção.

Questionado sobre a possibilidade de o líder petista ter se envolvido ou ter fechado os olhos para corrupção, Bourne afirma que Lula poderia ter sido mais "cuidadoso".

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"Pelo que eu sei do início da carreira dele, eu diria que ele não foi tão cuidadoso quanto deveria. Certamente havia pessoas no PT, e não há dúvidas sobre isso, que estavam envolvidas em vários tipos de corrupção. Ele não foi tão forte quanto deveria. Quando comparamos o que aconteceu recentemente com seus primeiros anos de Presidência, o idealismo existiu, mas houve um triste declínio", disse Bourne à BBC Brasil.

O pesquisador, contudo, pondera que o Brasil precisa do "mesmo entusiasmo" anti-Lula para fazer uma "faxina" em todo o sistema político e punir todos os políticos envolvidos com corrupção no país.

Bourne diz ainda que gostaria de ver o PT fazendo uma autocrítica sobre as acusações que pesam contra a legenda e seus filiados. Para ele, o partido deveria agir contra os petistas envolvidos com corrupção.

No livro sobre o ex-presidente, o britânico já criticava o legado do governo do petista justamente por achar que era necessária uma postura mais incisiva contra a corrupção na política brasileira.

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Condenado a 12 anos e um mês de prisão, Lula é também alvo de outros processos e investigação por suspeita de crimes como corrupção, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Nesta semana, o petista teve a prisão decretada pelo juiz Sérgio Moro, depois de ter tido o pedido de habeas corpus para esperar em liberdade até o fim do processo negado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Bourne diz não ter se surpreendido com a decisão do Supremo em determinar a prisão imediata de Lula, mas sim com a quantidade de votos favoráveis ao petista. O julgamento no STF terminou em 6 votos a 5 pela prisão do ex-presidente antes de exauridas todas as possibilidades de recurso.

'Faxina'

Para o pesquisador, contudo, os escândalos recentes de corrupção no Brasil indicam uma série de problemas não apenas com o PT, mas com toda a classe política. "O Brasil precisa de uma faxina em todo o sistema político. Eu gostaria de ver um entusiasmo (anti-Lula) em banir (o presidente Michel) Temer e outros membros da classe política que estão envolvidos em corrupção".

Questionado se a narrativa de vítima e de perseguição política é bem sucedida, Bourne diz "ser difícil de generalizar".

"Apoiadores fora do Brasil têm visto os fatos como vingança política. Mas há outros preocupados em ver o sucesso do Judiciário e da democracia que tendem a reconhecer que o juiz Sergio Moro, o Ministério Público e outros também merecem apoio", observa.

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Richard Bourne: 'Gostaria de ver o mesmo entusiasmo (anti-Lula) para banir Temer e outros membros da classe política envolvidos com corrupção'
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil / BBC News Brasil

A grande preocupação do pesquisador, contudo, é uma confiança exagerada no sistema judicial em detrimento da democracia. "Políticos envolvidos em corrupção têm sido banidos pelo Judiciário, não pelas pessoas nas eleições", diz.

Ele emenda que há o risco de os eleitores brasileiros continuarem votando em corruptos. "Meu receio é que os brasileiros não punam nas urnas os políticos envolvidos com corrupção".

Apesar de as acusações e da ordem de prisão contra Lula, Bourne destaca que o petista ainda é um líder extremamente popular e capaz de influenciar as eleições mesmo sem estar nas urnas. Para o biógrafo, Lula vai atuar nos bastidores e tem condições de transferir popularidade mesmo preso.

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