João Fellet
Da BBC Brasil em Brasília
Brasileiros vão às urnas neste domingo na eleição presidencial mais disputada dos últimos 25 anos e em meio a uma indefinição sobre quem concorrerá em um eventual segundo turno.
A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, manteve-se numa confortável dianteira. Já a briga pelo segundo lugar acirrou-se nos últimos dias entre Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), e pesquisas divulgadas no sábado apontam para um empate técnico entre os dois e uma disputa voto a voto.
Marina, que chegou à disputa após a morte de Eduardo Campos em um acidente aéreo em agosto, perdeu parte de seu apoio nas últimas semanas ao virar alvo preferencial de seus rivais.
Já Aécio, que havia caído para o terceiro lugar com a entrada de Marina e era visto por alguns como fora do jogo, está em trajetória ascendente e, pela primeira vez, apareceu numericamente à frente nas sondagens divulgadas no fim de semana.
Assim, são três cenários possíveis para o voto deste domingo: um segundo turno entre Dilma e Aécio, um duelo entre Dilma e Marina ou uma reeleição da presidente já no primeiro turno, até agora tido como menos provável.
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Pesquisa Ibope divulgada no sábado sugere Dilma com 46% dos votos válidos - quando se excluem os brancos, nulos e indecisos. Aécio, com 27%, e Marina, com 24%, estão tecnicamente empatados dentro da margem de erro, de 2 pontos percentuais.
Já levantamento Datafolha, também divulgado no sábado, apontou Dilma com 44% dos votos válidos, Aécio com 26% e Marina com 24% - também em empate técnico dentro da margem de erro, de 2 pontos percentuais.
"São as eleições mais acirradas que assisti no Brasil desde que voto", disse à BBC Brasil Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Vai dar Aécio ou Marina?
A corrida à Presidência sofreu uma reviravolta com a morte de Campos, lançando Marina - até então candidata à vice - na disputa central. O cenário Dilma x Aécio foi transformado pela ambientalista, que chegou num forte segundo lugar, empurrando o tucano para a terceira posição da disputa.
Vendendo-se como representante de uma nova política, como repetiu diversas vezes na campanha, Marina parecia ser a opção daqueles descontentes com a polarização PT x PSDB e ávidos por mudança, especialmente entre aqueles que participaram dos protestos de 2013.
"Boa parte daqueles votos que inflaram a candidatura da Marina vieram da classe média urbana brasileira, sobretudo a paulista, que via nela a possibilidade de retirar o PT do poder", disse Romano.
Mas a candidata perdeu apoio ao tornar-se alvo preferencial de seus rivais, que apontaram inconsistências em seus discursos, e viu parte de seu apoio desmoronar nas últimas semanas.
A campanha de Dilma, que viu sua liderança ameaçada pela chegada da rival, adotou um discurso de que os programas sociais estariam sob risco com a eleição de adversários e de que um Banco Central independente, proposto por Marina, significaria criar um "quarto poder", representado pelos bancos.
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Mas o maior beneficiado da queda de Marina foi Aécio, que recuperou-se nas últimas semanas e pode protagonizar uma recuperação inédita na disputa presidencial.
"Com a viabilização lenta do Aécio, é perfeitamente possível que ele vá para segundo turno", disse Romano.
Para Antonio Flávio Testa, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), a queda de Marina também pode ser atribuída a "erros táticos" de sua campanha. Um do seus maiores erros, diz, foi ter lançado seu programa de governo muito antes dos rivais e, pouco tempo depois, ter alterado o trecho em que expressava apoio ao casamento gay.
Para o professor, a mudança se deveu a pressões do "mundo evangélico". Segundo ele, Marina também não soube se defender das críticas de Dilma por sua proposta de conceder independência ao BC.
Questões econômicas também foram centrais na campanha e a recessão no Brasil serviu de munição para rivais - mas não o suficiente para minar o apoio de Dilma.
Disputa acirrada
O cientista político Jairo Nicolau, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que desde o fim da ditadura só houve uma eleição com disputa tão acirrada pelo segundo lugar: em 1989, quando Leonel Brizola e Luiz Inácio Lula da Silva disputaram voto a voto um lugar no segundo turno com Fernando Collor de Mello.
Lula foi adiante, mas perdeu para Collor na segunda volta.
Por outro lado, diz o professor, as últimas três eleições presidenciais também tinham resultados incertos. Havia dúvidas se o PT conseguiria vencê-las no primeiro turno. O partido acabou vencendo as três, mas todas na segunda volta.
Neste ano, segundo Nicolau, o partido deve mais uma vez disputar o segundo turno. Para o professor, Aécio tem "leve favoritismo" no duelo com Marina.
"Ele recapturou boa parte do voto útil que tinha perdido para Marina", afirma.
Segundo Nicolau, isso se deu porque, nas últimas semanas, Dilma reverteu a vantagem de Marina nas simulações sobre o segundo turno.
"Como a Marina não ganha mais da Dilma nas pesquisas, o eleitor clássico do PSDB que tinha migrado para ela voltou para o PSDB".
"Desde que chegou ao ápice, Marina não segura os votos de uma pesquisa para outra, e o Aécio conseguiu ter o momento dele muito perto do dia da eleição".
Por isso, diz o professor, Aécio entraria no segundo turno embalado pela trajetória ascendente, enquanto Marina passaria à segunda etapa com o desafio de frear sua queda.