Carne vencida e mascarada com produtos cancerígenos: o escândalo que atinge as maiores empresas do Brasil

18 mar 2017 - 00h11
(atualizado às 12h20)

Mudar a data de vencimento de carnes estragadas, maquiar seu aspecto ou usar químicos para mascarar seu mau cheiro - até mesmo em produtos usados na merenda escolar.

Esta são algumas das táticas ilegais que, segundo as autoridades do Brasil, cerca de 30 empresas de carne do país usavam para vender alimentos em mau estado de conservação, incluindo fornecedoras de grandes frigoríficos.

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Cerca de 30 empresas estão sendo investigadas pela PF, incluindo as gigantes do setor, JBS e BRF, que negam irregularidades
Cerca de 30 empresas estão sendo investigadas pela PF, incluindo as gigantes do setor, JBS e BRF, que negam irregularidades
Foto: Reuters / BBC News Brasil

A Operação Carne Fraca, realizada nesta sexta-feira (17), revelou que as empresas JBS e BRF - que são as maiores do Brasil e estão entre as maiores exportadores mundiais de carne - também adulteravam a carne que vendiam no mercado interno e externo.

A operação foi a maior já realiza na história da Polícia Federal, segundo as autoridades. A investigação, que mobilizou 1.100 policiais em sete Estados, revelou uma extensa rede de subornos e propinas nos quais estariam implicados dezenas de inspetores do governo encarregados de garantir que os produtos cumpriam com as normas sanitárias.

As empresas negam que práticas de alteração tenham sido realizadas em seus produtos e dizem que estão colaborando com as investigações.

O aspecto físico da carne vencida era maquiado com produtos químicos e ou injetado com água
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Merenda escolar

A descoberta de que, no Paraná, alunos da rede pública estadual consumiram salsicha de peru sem carne - preenchida com proteína de soja, fécula de mandioca e carne de frango - deu início à investigação de dois anos.

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"Inúmeras crianças de escolas públicas estaduais do Paraná estão se alimentando de merendas compostas por produtos vencidos, estragados e muitas vezes até cancerígenos para atender o interesse econômico desta poderosa organização criminosa", disse o delegado da Polícia Federal Mauricio Moscardi Grillo.

As práticas fraudulentas incluíam alterar os rótulos e as datas de vencimento dos produtos, injetar água na carne para aumentar seu peso e tratar as carnes com ácido ascórbico, substância potencialmente cancerígena. A PF encontrou produtos com estas alterações em supermercados.

A liberação da carne vencida e adulterada era feita por fiscais do Ministério da Agricultura, que recebiam propina dos frigoríficos para afrouxar a fiscalização.

Segundo a PF, há provas de que as empresas falsificaram documentos para exportar a carne para a Europa, a China e o Oriente Médio.

A Justiça Federal do Paraná determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão das investigadas.

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O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina e de frango, e o quarto em carne suína. As exportações em 2016 representaram 7,2% do comércio global do setor, segundo a agência EFE.

Ligações com a política

Parte da propina paga a funcionários do Ministério da Agricultura para relaxar a fiscalização das carnes ia para PMDB e PP, diz polícia
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Na sexta-feira, a Polícia Federal cumpriu 38 mandados de prisão, 34 deles para funcionários públicos, principalmente agentes sanitários. Também foram detidos quatro executivos de empresas, incluindo o gerente de Relações Institucionais e Governamentais da BRF Brasil, Roney Nogueira dos Santos, o diretor da BRF André Luiz Baldissera e o funcionário da Seara, empresa da JBS, Flávio Evers Cassou.

Ao todo, foram 309 mandados judiciais, incluindo condução coercitiva e busca e apreensão.

Mauricio Moscardi afirmou também que "a investigação deixa bem claro que uma parte dos valores (das propinas) era revertida para partidos políticos". O dinheiro, segundo ele, beneficou membros do PMDB e do PP, cujos nomes não foram citados.

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, emitiu um comunicado no qual informou ter ordenado a suspensão de 33 funcionários do governo acusados de estar envolvidos no escândalo.

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Operação Carne Fraca cumpre mandados em todo Paraná
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