O caseiro Rogério Pires negou nesta terça-feira ter confessado envolvimento na morte do coronel reformado Paulo Malhães. Ele foi ouvido informalmente por integrantes da Comissão Estadual da Verdade e Comissão Nacional de Direitos Humanos e Legislação Participativa do Senado na manhã desta terça-feira na sede da Delegacia Antissequestro, no Leblon, no Rio de Janeiro.
"Ele disse que não participou do crime, que não confessou. Ele é analfabeto, não sabe ler e escrever, não tem advogado, foi ouvido sem nem mesmo um defensor público", afirmou a senadora Ana Rita (PT-ES), presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Senado.
O caseiro contou à comissão ainda que reconheceu o irmão entre os criminosos devido a uma tatuagem e que durante o cativeiro ele os viu fazendo ligações solicitando que alguém fosse busca-los, o que implicaria a participação de outras pessoas no crime.
A versão apresentada aos senadores, no entanto, vai contra a divulgada pela Polícia Civil anteriormente que afirmou que Pires confessou a sua participação no crime, ocorrido em abril em um sítio na Baixada Fluminense.
Segundo a polícia, que entende que não houve ilegalidade em ouvir o caseiro, principal suspeito do crime, sem a presença de um advogado, Pires teria confessado a participação no crime nos três depoimentos que prestou. Os delegados, no entanto, preferiram não dar mais informações sobre o caso alegando segredo de Justiça. Eles reafirmaram apenas que nenhuma hipótese foi descartada ainda.
Após conversar com o caseiro a comissão foi a sede da Polícia Civil onde solicitou uma cópia do depoimento e do inquérito, que corre em segredo de Justiça. Além da presidente da comissão, integram a comitiva os senadores João Capiberibe (PSB-AP) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e o presidente da Comissão da Verdade do Estado do Rio, Wadih Damous.
Para os senadores, é suspeita a morte do coronel exatamente um mês depois de prestar depoimento à Comissão da Verdade, quando confirmou ter participado de torturas durante o Regime Militar. Ele também falou sobre o desaparecimento dos restos mortais do deputado federal Rubens Paiva e trouxe outros detalhes sobre os procedimentos dos agentes do Centro de Informação do Exército (CIE), que mutilavam corpos de vítimas da repressão na Casa da Morte (Petrópolis) arrancando arcadas dentárias e pontas dos dedos para impedir sua identificação.
O corpo do coronel, de 77 anos, foi encontrado em seu quarto no sítio em que morava pela viúva, Cristina Batista, 36, por volta das 22h 24 de abril. Segundo a polícia, Malhães aparentava ter sido asfixiado, já que estava deitado no chão, de bruços e com o rosto num travesseiro. A casa foi invadida e a esposa do coronel e Pires foram feitos reféns.