Inocentada após 31 anos da morte do menino Evandro Ramos, Beatriz Abagge comemorou a decisão tardia, mas reforçou que ainda há uma batalha para vencer. Durante o programa Encontro, da TV Globo, desta segunda-feira, 13, a filha do então prefeito de Guaratuba disse que espera que os policiais que a torturaram sejam julgados e responsabilizados pelo que aconteceu.
"A nossa luta terminou agora com a vitória de absolvição. E acho que começa uma nova luta para responsabilizar as pessoas que nos torturaram", disse.
Beatriz contou que, quando soube da decisão favorável a ela e aos outros três condenados pela morte de Evandro, só soube sorrir. Já sua mãe, Celina Abagge, que também foi torturada, chorou muito.
"Ela chorou bastante. Eu só sabia sorrir. Eu não estava acreditando naquilo, principalmente quando eu vi o voto do Ministério Público, porque, pela primeira vez em 31 anos, eles admitiram 'não, elas foram torturadas'", afirmou Beatriz.
O pedido para anular as condenações foi embasado em fitas de áudio que vieram à tona em 2021 e que revelam que os acusados foram torturados por policiais militares, para que fizessem uma falsa confissão de que teriam assassinado Evandro, segundo publicado na decisão.
A tortura
Durante o programa matinal, Beatriz também relembrou as torturas que viveu. Segundo ela, ainda há marcas em seu corpo até hoje. "Nos meus dedos tenho marcas do choque elétrico e em outras partes do meu corpo", disse. Além dos choques, ela contou ter sofrido com afogamentos e violência de cunho sexual.
As memórias do que passou naquela época não surgem de maneira linear. Beatriz explicou que o cérebro dela apagou algumas coisas, por causa do trauma. "Eu tenho flashs, tudo que eu conto, que eu contei no júri de 2011, eu fiz um diário e fui contando", disse.
Ela e os outros três acusados, Davi dos Santos Soares, Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula Ferreira (morto em 2011) foram absolvidos com a anulação das condenações. Apesar de também ter sido forçada a confessar o crime, Celina Abagge não chegou a ser condenada, porque o crime já estava prescrito para ela, depois de ter completado 70 anos.