Caso Genivaldo: letalidade policial em Sergipe é a terceira maior do Brasil

Sergipe, onde Genivaldo de Jesus Santos foi morto durante abordagem da Polícia Rodoviária Federal, é o estado com 3º maior índice de mortes por intervenção policial do país.

26 mai 2022 - 16h03
(atualizado às 16h24)
Sergipe tem taxa de 8,5 mortes por cada 100 mil habitantes em ações policiais
Sergipe tem taxa de 8,5 mortes por cada 100 mil habitantes em ações policiais
Foto: SSP-SE / BBC News Brasil

O Estado de Sergipe — onde Genivaldo de Jesus Santos foi morto durante abordagem da Polícia Rodoviária Federal na quarta-feira (25/05) — é a unidade da Federação com 3º maior índice de mortes por intervenção policial do país.

O Estado tem taxa de 8,5 mortes por intervenção policial por cada 100 mil habitantes, atrás apenas do Amapá (13) e de Goiás (8,9), segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública publicados no ano passado.

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Os dados são de 2020 e incluem mortes causadas por policiais civis e militares do Estado — ações da PRF não estão na estatística.

Foram 196 pessoas mortas pela polícia em Sergipe em 2020, 44 delas em Aracaju — o que torna a capital sergipana o 19º município do Brasil com maior número de mortes por intervenção policial.

Segundo relatório sobre violência policial produzido pelo Fórum, o país atingiu em 2020 o maior número de mortes em decorrência de intervenções policiais desde que o indicador passou a ser monitorado pela entidade. Foram 6.416 vítimas fatais de intervenções de policiais civis e militares da ativa, em serviço ou fora, um crescimento de 190% em relação a 2013, primeiro ano de monitoramento.

"É urgente aperfeiçoar o controle da atividade policial, sobretudo no que se refere ao uso da força letal por parte de policiais", escrevem Samira Bueno, David Marques e Dennis Pacheco, autores do estudo do Fórum de Segurança Pública. "Mecanismos tecnológicos, do sistema de justiça criminal (Judiciário e Ministério Público) e de controle social/comunitário, articulados, são fundamentais neste processo."

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'Câmara de gás'

Genivaldo morreu durante abordagem policial
Foto: Reprodução / BBC News Brasil

Genivaldo de Jesus Santos tinha 38 anos e morreu durante uma abordagem pela Polícia Rodoviária Federal em Umbaúba (SE). Ele passava pela BR-101 em uma moto quando foi abordado, imobilizado e colocado por agentes no porta-malas de uma viatura que estava cheia de uma fumaça branca.

Após ficar desacordado, ele foi levado para o hospital José Nailson Moura, mas não sobreviveu.

O episódio foi filmado por uma testemunha e compartilhado nas redes sociais, onde causou revolta e levou as pessoas a usarem o termo "câmara de gás" para forma como ele morreu.

Segundo um laudo preliminar do IML (Instituto Médico Legal), a causa de morte da Genivaldo foi asfixia mecânica e insuficiência respiratória. Ele era casado e deixou um filho.

A Polícia Rodoviária Federal emitiu uma nota nesta quinta (26) afirmando que os agentes usaram "técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo", que "lamenta o ocorrido" e que foi aberto um procedimento disciplinar.

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A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o caso e o Ministério Público de Sergipe afirmou que abriu procedimento para acompanhar as investigações.

Os movimentos que se articulam para protestar por causa da morte de Genivaldo agora exigem que a PRF divulgue o nome dos agentes envolvidos que devem ser investigados.

"É uma barbárie isso que aconteceu. A segurança publica é pra proteger, não pra torturar e matar. É lamentável esse sistema de segurança pública que tem essa postura de ter o cidadão como inimigo", diz a ativista de direitos humanos Linda Brasil, vereadora de Aracaju (PSOL). "a gente luta contra essa diferença na abordagem quando é alguém negro ou da periferia."

"É algo presente em todas as esferas - na militar e civil, mas também nas guardas municipais, na Polícia Federal e na Polícia Rodoviária Federal", diz ela.

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