O trágico caso de Jean Charles de Menezes, morto pela Polícia Metropolitana de Londres depois de ser confundido com um terrorista, teve grande repercussão na Grã-Bretanha e grande espaço nos noticiários do país por um bom tempo.
Os detalhes sobre a operação policial que resultou na morte do eletricista, a reação de parentes e amigos e o inquérito que apurou a responsabilidade dos órgãos de segurança trouxeram à tona vários personagens que hoje são diretamente identificados com o caso.
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Mas que fim levaram os principais personagens desse caso?
Jean Charles de Menezes
Jean Charles se transformou num símbolo da luta de ONGs de direitos humanos que cobram mais responsabilidade da polícia britânica em ações envolvendo o uso de agentes armados.
O brasileiro também foi tema de produções artísticas, incluindo um filme sobre sua vida, estrelado por Selton Mello.
Jean Charles ganhou ainda um memorial na estação de Stockwell, que virou uma espécie de atração local. A citação mais famosa ao brasileiro, porém, foi feita pelo músico Roger Waters, um dos fundadores do grupo de rock progressivo Pink Floyd.
Durante uma turnê pelo Brasil, em 2012, o músico exibiu fotos do brasileiro no telão e recebeu os pais do eletricista mineiro em um show em Porto Alegre.
Osman Hussain
O etíope naturalizado britânico era o homem que a polícia realmente procurava em 22 de julho. Participou da tentativa de explodir bombas em trens do metrô de Londres no dia anterior, e, quando fugiu, deixou para trás uma carteirinha de academia de musculação que levou à polícia ao prédio de apartamentos em Tulse Hill, o mesmo em que morava Jean Charles. Agentes da polícia acabaram confundindo o brasileiro com Hussain.
Em meio à comoção pela morte de Jean Charles, o etíope fugiu para Roma, onde morava um irmão. Foi preso dias depois na capital italiana e extraditado para o Reino Unido. Em julho de 2007, Hussain foi condenado a um mínimo de 40 anos de prisão. Durante o julgamento, ele afirmou ter sido coagido pelos outros comparsas a participar da operação.
Cressida Dick
Cressida Dick foi uma das lideranças da Scotland Yard mais criticadas nos inquéritos que apuraram a morte de Jean Charles. Era ela quem estava no comando da operação em 22 de junho.
No entanto, Dick acabaria promovida e durante anos foi a mais graduada oficial feminina do Reino Unido.
Durante o inquérito que investigou as circunstâncias dos eventos de Stockwell, ela admitiu que a polícia não poderia garantir que mortes de mais inocentes em operações antiterrorismo poderiam ser evitadas.
Hoje, Dick trabalha no Ministério das Relações Exteriores.
Ian Blair
Ian Blair ficou no centro da tempestade gerada pelas disparidades grosseiras entre a versão oferecida inicialmente pela polícia para as circunstâncias da morte e os fatos que emergiram.
O endosso público dado pelo comissário às alegações de que Jean Charles teria tentado escapar dos policiais que o seguiam - na verdade, o brasileiro sequer percebeu ser alvo -, foi particularmente danoso à reputação de Blair.
O então comissário da Scotland Yard se recusou a aceitar os pedidos para que deixasse o cargo. Mas em 2008, depois de ser atacado publicamente pelo prefeito de Londres, Boris Johnson, viu-se forçado a renunciar.
Em 2010, Blair ganhou um título de lorde, uma decisão que gerou protestos da família de Jean Charles.
Policiais
Depois de várias investigações, a Justiça britânica decidiu que nenhum policial seria responsabilizado pela morte.
As identidades dos policiais jamais foram divulgadas.
Em 2008, um dos homens que atiraram em Jean Charles, identificado apenas como 'C12', prestou depoimento na presença da mãe do brasileiro. Teve dificuldade para controlar suas emoções e mais uma vez disse estar agindo com a informação de que o eletricista mineiro "era" Hussain.
Quatro anos mais tarde, veio à tona que um dos técnicos da equipe britânica de hóquei nas Olimpíadas de Londres, Andy Halliday, era um dos policiais armados que fazia parte da equipe destacada para Stockwell. Mas ele era o "C3", que não disparou contra o brasileiro.
Parentes
Do quarteto de primos de Jean Charles, apenas Alex Pereira voltou para o Brasil.
Seguem em Londres Vivian Figueiredo, Alessandro Pereira e Patrícia Armani.
No mês passado, a família entrou com uma ação na Corte Europeia de Direitos Humanos, na França, pedindo que a polícia seja investigada criminalmente. O processo deverá durar vários meses para ser analisado pelo tribunal.