Ativistas do Greenpeace levaram este sábado ao parque da Redenção, na região central de Porto Alegre, uma cela de 2x2 metros para protestar contra a prisão dos “30 do Ártico”, grupo detido por autoridades russas em 18 de setembro ao protestar contra exploração de petróleo no Ártico. Entre os 28 ativistas do navio "Arctic Sunrise" da ONG, detidos juntamente com dois jornalistas independentes que viajavam na embarcação, está a bióloga brasileira Ana Paula Maciel, natural de Porto Alegre.
Durante a manifestação, era possível ser algemado e experimentar a sensação de aprisionamento dentro da "jaula", que lembra a cela onde Ana Paula e seus colegas eram obrigados a ficar durante os depoimentos. "É uma ideia genial, porque proporciona a experiência da concretude, possibilita a sensibilização e a dimensão da realidade da violência que eles (ativistas) estão passando", avaliou a psicóloga e professora universitária Raquel Silveira, que levou a filha Cecília Silveira Burgedurff, 7 anos, e mais duas amiguinhas para participar da manifestação. "As crianças precisam saber o que está acontecendo com o planeta", disse, referindo-se aos danos ambientais que o Greenpeace combate.
A prisão dos ativistas e dos jornalistas está prestes a completar dois meses e pode ainda ser prolongada, porque o Comitê de Investigação russo pediu ontem a extensão da prisão preventiva por mais três meses, explicou a coordenadora da Campanha Clima e Energia da ONG ambiental, Fabiana Alves. Segundo ela, trata-se da segunda maior crise que a ONG enfrenta em sua história. A gravidade da situação só perde para a crise de 1985, quando um navio do Greenpeace foi bombardeado pela França quando fazia uma manifestação contra teste nucleares no Atol de Mururoa, no Pacífico. Na ocasião, um ativista morreu.
Para a mãe da ativista gaúcha presa, Rosângela Maciel, que esteve presente ao ato, a notícia do pedido de prolongação da prisão dos ativistas foi um choque. "Se eles fizeram algo errado, esses dois meses foram o suficiente para refletirem", afirmou. Para ela, mesmo a acusação de vandalismo (mais branda que pirataria) é injusta, uma vez que os ativistas não tiveram nem um ato de violência e destruição. "Aqui no Brasil, nós vimos vandalismo de verdade nesses prostestos, com destruição, quebradeira. Aquele menino que quebrou porta de banco e feriu o olho de um policial está solto. Isso é vandalismo, não abrir uma faixa contra extração de petróleo", comparou Rosângela.
Apesar da saudades e da apreensão, Rosângela não é pessimista e conta com a libertação da filha e seus colegas. Ela se comove com o apoio dos manifestantes anônimos e famosos, como Madonna, Paul McCartney e a atriz francesa Marion Cotillard, que ontem, em Paris, se trancou em uma cela similar à montada em Porto Alegre. "A visibilidade desses artistas atrai a atenção para que os ativistas são capazes de fazer pelo planeta."
De pirataria para vandalismo
O Conselho de Direitos Humanos adjunto à presidência russa solicitou a liberdade provisória dos 30 acusados. Em carta do dia 8 de novembro, divulgada na última terça-feira em seu site, o Conselho solicita ao chefe do Comitê de Instrução (CI) da Rússia, Aleksandr Bastrikin, analisar a mudança da medida cautelar de prisão preventiva para a de liberdade pagando uma fiança ou liberdade provisória com proibição de abandonar o país. O Conselho adjunto à presidência argumentou seu pedido com o fato de que em 23 de outubro os órgãos de instrução rebaixaram as acusações contra os tripulantes do "Arctic Sunrise" de "pirataria" para "vandalismo" – cujas penas são mais brandas. No caso de vandalismo, a pena pode chegar a sete anos de reclusão, e no de pirataria, a 15 anos.
O Greenpeace declarou que também recorrerá da acusação de vandalismo, que classificou de "igualmente absurda" à de pirataria, "já que os ativistas não cometeram nenhum ato que violasse gravemente a ordem pública".
Transferência
Na última segunda-feira, Comitê de Instrução (CI) da Rússia anunciou a transferência dos 30 réus da prisão preventiva do porto ártico de Murmansk, onde estavam, para prisões em São Petersburgo, uma vez que os delitos a eles atribuídos não entram na jurisdição do tribunal de Murmansk.
Dia 24 de novembro, quando termina o prazo da prisão preventiva, há três possibilidades: a prisão preventiva dos ativistas ser estendida - o que foi pedido ontem pelo CI -, o caso ser julgado ou o grupo ser solto, para que eles respondam ao processo em liberdade.