A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro divulgaram nesta quinta-feira notas de repúdio aos casos de agressão a jornalistas durante a cobertura dos protestos que eclodiram no País em junho. “Desde meados de junho a imprensa vem sendo hostilizada durante protestos nas principais cidades brasileiras. A Abraji contabilizou quase 60 casos de agressão contra repórteres. Sedes de emissoras foram cercadas ou apedrejadas, e diversos veículos de reportagem ou de transmissão foram depredados. Esses dados justificam a posição do Brasil entre os países mais perigosos para o exercício de jornalismo no mundo”, diz a nota da Abraji.
A associação também afirma que o “clima de hostilidade que profissionais vêm enfrentando na cobertura de manifestações não condiz com um estado democrático. Quaisquer tipos de agressões e violações a jornalistas, sejam elas perpetradas pelo estado ou por manifestantes, constituem ofensa violenta ao livre exercício da comunicação. Nenhuma instituição que apoie a democracia pode tolerar conduta deste tipo”.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro afirma que “não podemos admitir que jornalistas atuantes na cobertura das manifestações populares por direitos se tornem alvo de qualquer grau de violência ou do cerceamento ao seu trabalho. Nem por agentes do Estado, nem por manifestantes”. A entidade, no entanto, lembra que “não podemos admitir que, no afã de defender a nossa categoria, caiamos na armadilha de criminalizar os movimentos de protesto organizados por diferentes setores da população”.
Segundo o sindicato, nos protestos da última segunda-feira em frente ao Palácio Guanabara, em Laranjeiras, no Rio, várias equipes da imprensa foram acuadas e impedidas de trabalhar. Um repórter cinematográfico da TV Bandeirantes chegou a levar um soco nas costas, conforme a entidade.
“Nesse sentido, reivindicamos a realização de um debate mais profundo sobre o problema. Propomos à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal a realização de uma audiência pública sobre o tema da Liberdade de Imprensa, com a participação das entidades representativas dos jornalistas, porta-vozes dos manifestantes, OAB-RJ, Ministério Público e Segurança Pública”, diz a nota do sindicato.
Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.