"Tu sabe o que foi que aconteceu? Me explica, que eu ainda não sei o que foi”, assim começa a entrevista com Betina Baino, 35 anos, a lutadora de MMA que protagonizou o segundo episódio de nudez pública ocorrido em Porto Alegre nas últimas semanas. A indignação e o desespero acumulados em uma vida de erros e acertos a levaram ao ato extremado em um momento no qual se sentia completamente desamparada por tudo e por todos.
“Eu não quero pena, porque eu acho que ninguém tem o que não mereça e que não aguente. Mas quero que de repente as pessoas não façam o mesmo que eu, que vejam que não sou só um corpo, que possam manter a dignidade”, diz Betina.
Ela se refere à prostituição, trabalho ao qual teve que recorrer para comer, sendo que, naquele momento no qual resolveu ficar nua, nem a venda do próprio corpo lhe garantia o mínimo necessário para viver. “Estou em uma fase da minha vida em que eu não tenho mais nada”.
Enquanto caminhava nua, em meio aos carros e debaixo de chuva, ouvindo buzinadas e gritos de "gostosa", Betina disse, entre outras coisas, que era do MMA. O carinho que ela tem pelo esporte é imensurável para quem vê de fora, porque, nos três anos nos quais praticou o esporte, pela primeira vez na vida sentiu o que era ter autoestima.
“Tu treina para aquilo, é respeitada. Eu nunca achei que merecia ser tratada com tanta admiração, porque fiz muita coisa errada na minha vida. Mas quando virei prostituta para ser atleta, parece que eu virei um bicho (...) não tenho como começar, porque tenho 35 anos. Não tenho carteira assinada, um salário de R$ 800 não paga o meu quarto de R$ 500, mais a minha passagem, a minha comida, e os meus filhos.. Então me deu um desespero tão grande, porque se era o meu corpo que queriam ver, que olhem de graça porque não quero mais cobrar por isso”, desabafa em uma entrevista na qual chorou em vários momentos.
Os motivos que levaram Betina a uma atitude extremada de protesto pelas ruas são apenas a ponta do iceberg de uma vida de sofrimento. Diagnosticada como borderline (um transtorno de personalidade), ela diz que sempre soube que eu era diferente. "Fiz escolhas erradas e era mais fácil me rotular como louca, inconsequente e drogada, mas eu não era nada disso”. A vida difícil fez com que se separasse dos filhos, uma adolescente de 17 anos, com quem ainda tem contato, e um menino de 3 anos, que nem sabe que ela é sua mãe. “Foi tanta dor que eu tive que fazer alguma coisa”.
“Sempre tive uma vida em família, mas fui muito porra louca, fiz muita besteira, morei aqui, morei ali, usei droga, tive depressão, passei por internação... sempre tentando melhorar, mas eu não conseguia”, conta.
Mas hoje, sua família são seus amigos, os mais próximos conquistados através do MMA. Eles são as pessoas que mais tem lhe dado apoio desde que seu caso ganhou repercussão nacional. Sem ter bem uma direção certa, ela passa os dias na academia onde treina e faz planos para buscar um trabalho e um futuro melhor, do alto da experiência de quem já sofreu muito na vida, mas se recusa a desistir.