Apartamento, pousadas e hostels cobram passaporte vacinal

Anúncios no AirBnB já incluem exigência, medida apoiada pela plataforma; parte dos estabelecimentos de hospedagem oferece descontos e drinques grátis aos imunizados

26 dez 2021 - 03h01
(atualizado às 08h13)

O turismo tenta recuperar a força neste ano, mas sem perder de vista os cuidados com a covid-19. Donos de imóveis e pousadas em destinos turísticos já têm cobrado, por conta própria, comprovação das duas doses da vacina antes de fechar a locação. Em alguns estabelecimentos, o passaporte garante desconto nas diárias e até drinques grátis em hostels, opções de hospedagem mais econômicas baseadas no compartilhamento de espaços.

Passaporte da vacina em São Paulo
Passaporte da vacina em São Paulo
Foto: Divulgação/Governo de São Paulo

Com um apartamento disputado em Cabo Frio (RJ), o comerciante Ibsen Ruas Almeida, de 57 anos, pede o documento desde setembro para os interessados que aparecem na plataforma Airbnb. E garante que ainda não cancelou hospedagens. "Pedimos porque é segurança para todo mundo, tanto para os hóspedes quanto para nós. E não adianta uma pessoa se vacinar. Toda a população precisa fazê-lo", alerta.

Publicidade

Dona de um estúdio de 33 metros em frente ao mar, na praia de Itararé (SP), a fisioterapeuta Júlia Gandara, de 41 anos, decidiu cobrar a imunização dos hóspedes nas próximas reservas. Segundo ela, a intenção inicial não é cancelar reservas. "Caso a situação fique mais complicada, vou analisar a possibilidade de colocar algo no anúncio", afirma.

Já o anúncio do apartamento de Sônia Pereira na praia de Iracema (CE) pede, logo de cara: "devido à pandemia da covid-19, estamos solicitando de todos os hóspedes a foto do passaporte de vacina".

A iniciativa tem apoio da plataforma. "Os anfitriões devem especificar na descrição do anúncio, como nas regras da casa, eventuais exigências sobre vacinação de hóspedes", informa o AirBnB, que reúne mais de 4 milhões de anfitriões pelo mundo. Se o hóspede descumpre as regras, diz a empresa, o anfitrião podem cancelar a reserva sem penalidades.

A necessidade de comprovar a vacinação para entrar no Brasil foi oficializada dia 20, em portaria que atendendo ao Supremo Tribunal Federal (STF). A ordem foi dada em ação contra a gestão Jair Bolsonaro, opositora do passaporte.

Publicidade

Brasileiros e estrangeiros residentes não vacinados, porém, podem optar por quarentena de pelo menos cinco dias, seguida de teste negativo. Estrangeiros não têm essa opção.

O Desfrute Hostel Guarujá (SP), entre as praias do Tombo e Astúrias, pede comprovante desde que reabriu, em maio. Ali há preocupação extra pela proximidade com o porto de Santos, entrada de navios estrangeiros para muitos turistas no verão "A grande maioria entende que a vacina é o único meio de vencer a pandemia, mas já tivemos casos em que declinamos da hospedagem para não colocar o ambiente e os hóspedes em risco", diz o dono, Paulo Geraldini.

Isso se repete em outros Estados. "A pessoa precisa comprovar a vacinação no momento do check-in", avisa Luigi Moraes, 31 anos, responsável pelo atendimento do Zili Pernambuco Hostel, no Recife.

Prêmios

A vacinação completa também pode garantir benefícios. A campanha "Vacina no braço, mochila nas costas" estimulou estabelecimentos a dar vantagens - descontos e até drinques grátis - para imunizados. "Foi uma forma de mobilizar os hostels do Brasil, colocando todos novamente no radar do viajante e incentivando as pessoas a tomarem a 2ª dose", explica o idealizador, Diego Bonel, do site Brasil Hostel News. Ao todo, 147 estabelecimentos participaram da ação, que terminou em novembro.

Publicidade

Os resultados foram tão bons que vários hostels mantiveram os descontos, como o Ô de Casa. Vacinados que procuram o endereço boêmio da Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, ganham caipirinha de boas-vindas e 10% de desconto no fim da estadia. "A gente esperou muito esse momento. A vacina é que vai fazer o turismo retomar", diz Marina Moretti, dona do local.

O Green Haven Hostel, em Ubatuba (SP), também oferece descontos no check-in. "Nos últimos meses, a gente recebeu muita gente que apresentou o comprovante. Agora, notamos diminuição. Não sei se é por esquecimento ou porque já normalizaram essa questão de todos estarem vacinados", falou o proprietário Vinícius Fiore, 39 anos.

O Madá Hostel, em São Paulo, planeja ofertar descontos. "Acredito que é uma maneira de promover a vacinação", fala Ramon Mascena, 22 anos, responsável pela comunicação do local."É uma forma de o cliente se sentir mais seguro."

Cidade do Rio e Ceará criam exigência para hotel, bar e restaurante

Estudo da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), de dezembro, aponta que em 18,3% das cidades já foi editado decreto ou similar com obrigação da vacina para frequentar espaços coletivos públicos. O levantamento envolveu 2.662 prefeitos - quase a metade do País.

Publicidade

Uma das cidades com maior nível de exigência é o Rio de Janeiro, onde a comprovação de vacinação é necessária para check-in em hotéis, pousadas e também para comer em áreas internas de restaurantes.

O prefeito Eduardo Paes (PSD) recuou da exigência em táxis, veículos por aplicativos e shopping centers, como previa originalmente o decreto carioca. "Não adianta criar medidas que a gente sabe que ninguém vai cumprir", disse ele, à época.

A partir do dia 3, academias, hotéis, pousadas e estabelecimentos do gênero no Ceará passarão a cobrar passaporte, já obrigatório em bares e restaurantes desde novembro. Para especialistas, a cobrança do comprovante incentiva a vacinação e ajuda no controle do vírus.

Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se