RIO - Depois de dois dias de chuvas intensas que deixaram quatro mortos no Estado, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), em entrevista nesta segunda-feira, 2, responsabilizou pelos danos "grande parte da população", por jogar lixo nos rios. Na véspera, ele afirmara que "as pessoas gostam de morar ali perto (das encostas) porque gastam menos tubos para colocar cocô e xixi e ficar livre daquilo". Quando conversava com repórteres em Realengo, bairro da zona oeste castigado pela tempestade, foi atingido por uma bola de lama lançada por um morador. Não comentou o episódio.
"A culpa é de grande parte da população, que joga lixo nos rios frequentemente. Chuva no Rio é sempre um problema, mas o pior é o lixo. Temos excesso de lixo nos rios, bueiros e encostas, e, quando vem a chuva, tudo desce. As chuvas são um problema, mas dessa vez nem foram as piores que enfrentamos", afirmou Crivella em Realengo. "Temos que agir preventivamente para não jogar lixo nas encostas. Olha a grande quantidade, esse é o problema. Se não jogarem lixo no bueiro e na beira dos rios, melhora".
A bola de lama acertou o prefeito do lado esquerdo da cabeça. Sujou a testa e a jaqueta de Crivella, quando começava a dar entrevista. Ele, porém, continuou a falar com os jornalistas. Além das críticas aos moradores, o prefeito reclamou das decisões judiciais que impedem demolições de construções ilegais.
"As obras irregulares estamos tentando (derrubar), amanhã vamos derrubar série de prédios na Muzema (zona oeste), o que a Justiça não permitia", declarou.
A chuva que atinge o Estado do Rio desde a tarde de sábado, 29, já matou três pessoas na capital e uma em Mesquita, na Baixada Fluminense. Segundo a prefeitura, da zero hora de domingo, 1, às 8h de segunda-feira, 2, choveu mais da metade da média para o mês de março em toda a cidade.
A zona oeste do Rio foi a mais atingida. Sirenes de alerta foram acionadas em 16 favelas. Pelo menos 600 pessoas estão desabrigadas. Um museu na zona oeste foi alagado. Nesta segunda-feira, pelo menos 53 escolas suspenderam as aulas em função da chuva. Ela deve continuar nesta terça-feira, 3.
Uma das vítimas foi Wellington Ferreira Batista, de 40 anos. Ele morava em uma localidade conhecida como S, na favela de Acari (zona norte). Durante o temporal, tentou ajudar uma família a sair de uma casa alagada. Segundo familiares, ele conseguiu retirar duas crianças do local. Quando tentava resgatar a mãe delas, pisou em um bueiro sem tampa e foi levado pela correnteza.
A mulher pediu socorro e outras pessoas tentaram salvar Batista, mas ele foi encontrado já morto. Era casado, tinha cinco filhos e estava desempregado. Nesta segunda-feira, a família esperava uma vaga em cemitério para enterrá-lo.
As chuvas fizeram mais duas vítimas na capital fluminense. Uma foi Flávio da Silva, de 40 anos, atingido pelo desabamento de uma casa na rua Almirante Melquíades de Souza, no Tanque (zona oeste). Outra foi Vânia Nunes, de 75 anos, que morreu eletrocutada após ter encostado a uma banca de jornal e sofrer uma descarga elétrica na Estrada do Tindiba, na Taquara (zona oeste).
Museu
As chuvas também inundaram o Museu Casa do Pontal, no Recreio dos Bandeirantes na zona oeste. Para evitar danos, funcionários puseram obras de arte para lugares mais altos do que aqueles em que ficavam expostas. Até à tarde desta segunda-feira não havia balanço de prejuízos. Segundo empregados da instituição, foi a oitava vez que o museu foi alagado, desde a construção de condomínios na vizinhança.
No início da madrugada de domingo, 1, o Rio entrou em estágio de alerta. Trata-se do quarto nível em uma escala que vai de um a cinco. Significa que uma ou mais ocorrências graves impactam a cidade que ou há incidência simultânea de diversos problemas de médio e alto impacto em diferentes regiões. A recomendação à população é permanecer em local seguro, evitar deslocamentos e oferecer abrigo a parentes e amigos.