O coronel Marcelo Vieira Salles, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, colocou o cargo à disposição nesta sexta-feira, 6, e deverá deixar o posto que ocupa desde 2018. A relação do oficial com o governador do Estado, João Doria (PSDB), vinha se desgastando desde o ano passado e piorou durante o caso Paraisópolis, onde após uma ação da PM nove jovens morreram pisoteados. O nome do substituto para o cargo ainda não foi escolhido.
Salles ocupa o comando da corporação desde maio de 2018, quando foi escolhido pelo então governador Márcio França (PSB). Ele sobreviveu à troca no Palácio dos Bandeirantes e continuou comandando os mais de 90 mil policiais durante o primeiro ano da gestão Doria. Antes ele já tinha sido ajudante de ordens do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), comandante da Cavalaria e havia atuado na Defesa Civil e na Casa Militar.
O coronel assumiu meses após um recorde de letalidade policial, registrado em 2017, e teve como desafio o controle dessas estatísticas. A letalidade caiu em 2018, mas voltou a subir em 2019, acompanhando um discurso do governador de "mandar bandido para o cemitério", em caso de resistências e confrontos. Ao longo da sua gestão, as outras estatísticas de criminalidade mantiveram a tendência de redução e o Estado voltou a registrar uma mínima histórica nos homicídios.
Apesar disso, o caso Paraisópolis opôs Doria e Salles. Na madrugada de 1º de dezembro, uma ação de policiais causou correria que culminou com o pisoteamento e morte de nove jovens. A corporação sustentou desde o início que os agentes realizaram uma perseguição após serem alvos de disparos por parte de criminosos. Esses criminosos teriam desencadeado a correria no baile da DZ7.
A pedido dos parentes das vítimas, o governador se comprometeu a afastar todos os policiais da ocorrência para serviços administrativos, retirando-os de atividades operacionais nas ruas. Trinta e um policiais seguem nessa condição. A decisão do governador soou como uma punição antecipada aos agentes, cuja preservação era o objetivo de Salles até que a investigação apontasse alguma conclusão sobre o caso.
Nesta semana, veio a público a conclusão da Corregedoria de que a ação dos policiais causou as mortes, mas o inquérito pede que eles não sejam punidos porque teriam agido em legítima defesa. Outra investigação, essa da Polícia Civil, continua em andamento.
Além disso, causou estranheza no Palácio dos Bandeirantes a ida do comandante à Brasília pouco tempo após as mortes em Paraisópolis. Em vídeo distribuído por Salles, ele aparece comentando a "vitória" do projeto da previdência dos policiais militares, com garantias para esses trabalhadores. Em São Paulo, a crise de Paraisópolis se intensificava e a interpretação foi de que Salles lidava com assuntos corporativos em vez de dedicar atenção ao caso com mortes.
O governo do Estado ainda estuda nomes que poderão substituir o coronel no comando da corporação. Entre os coroneis, há o indicativo de que Salles pretende lançar carreira na política com auxílio do PSL, ex-partido do presidente Jair Bolsonaro. Em outubro do ano passado, o governador Doria foi vaiado durante o evento de formatura de sargentos da PM de São Paulo, enquanto Bolsonaro, também presente, foi aplaudido pela plateia.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que Salles solicitou ao secretário da Segurança, general João Camilo Pires de Campos, sua passagem para a reserva. "Ao secretário, na ocasião, o comandante ressaltou que a decisão é de caráter pessoal. A Secretaria da Segurança Pública já avalia o substituto para dar sequência ao excelente trabalho desempenhado pelo coronel Salles, que permanece à frente do comando da PM até a conclusão desse processo", informou a pasta.