A manhã desta quarta-feira na região central de São Paulo foi de muita tranquilidade. Um cenário completamente diferente de ontem, quando a Polícia Militar cumpriu uma ordem judicial de reintegração de posse na avenida São João, retirando cerca de 800 pessoas do prédio. De acordo com a PM, os sem-teto reagiram atirando pedras e outros objetos nos policiais e a corporação utilizou bombas de gás e balas de borracha para conter a revolta. Ainda antes do meio-dia de ontem, lojas foram saqueadas, um ônibus foi incendiado e o caos foi estabelecido. Porém, hoje os comerciantes e pedestres não tiveram medo de uma possível repetição do fato o centro voltou a funcionar normalmente.
“Eu nunca tinha visto uma guerra de perto e ontem eu estava no fogo cruzado”, disse o bem-humorado atendente de uma lanchonete na rua 24 de Maio, que preferiu não se identificar. Ao longo da rua Barão de Itapetininga, bem próxima ao prédio em questão, muitos telefones públicos ainda estavam no chão. Por volta das 10h, apenas duas lojas ainda estavam fechadas. Os estabelecimentos que foram saqueados, uma loja da Claro e outra da Oi, permaneceram de portas abaixadas.
A responsável pela segunda loja afirmou que abriria dentro de uma hora, mas que não podia informar os prejuízos. Ela disse que, além de as portas terem sido arrebentadas, celulares e monitores de computadores foram levados.
Anne Caroline, que trabalha no caixa de uma perfumaria, que hoje o dia amanheceu normal, mas que o policiamento não foi reforçado na área. “Um dia normal. Todos os estabelecimentos estão abertos e espero que não aconteça de novo. Aqui eles chegaram a tentar abrir, espancaram a porta, mas não conseguiram entrar. Era um cenário de guerra. Não sei que revolta era essa”, disse Anne, que viveu momentos de pânico no meio da manhã de ontem. “Uma hora que o choque parou aqui na frente com o caminhão, eles começaram a jogar gás de pimenta e o cheiro entrou aqui dentro. Foi horrível”. De acordo com a funcionária, a loja calculou um prejuízo de R$ 8 mil a R$ 9 mil por ter permanecido fechada por quase todo o dia.
Já Michele Biancardi, que trabalha em uma banca de jornal na Barão de Itapetininga, também ficou surpresa com a confusão instalada ontem na região central, mas afirmou que não está com medo. “Não estou (com medo) porque é muito simples. Fecho a porta e vou embora. O único problema é que ontem todos os produtos estavam lá fora e quando a ‘muvuca’ começou tivemos que colocar tudo pra dentro, mas não roubaram nada e nem quebraram nada”.
Perto dali, em frente ao prédio desocupado, curiosos tiravam fotos de alguns vestígios do confronto, como pedras e sujeira. Cinco viaturas da Polícia Militar fizeram a segurança do local. “Apenas por precaução”, disse o tenente. Com o passar das horas apenas um dos carros permaneceram em frente ao edifício.
Destino dos sem-teto
Na manhã de ontem, durante o confronto, muitos policiais chegaram a dizer que a prefeitura teria disponibilizado outros abrigos para os ocupantes do prédio na São João no próprio centro. Porém, nesta quarta a secretaria de Habitação afirmou que a assistência social estava resolvendo o problema e que as pessoas que estivessem interessadas teriam que procurar o Centro de Referência da Assistência Social (Cras) da Sé. Porém, segundo a pasta, ninguém procurou o centro até agora.