Após dois anos de procura e pedindo ajuda de autoridades, filhos descobrem que pai foi enterrado como indigente

Idoso desapareceu em 2021, e família registrou boletim no mesmo mês, só que apenas esse ano polícia pediu que filha colhesse DNA no IML

6 dez 2023 - 17h26
Livia Abreu e o pai David Abreu, por quem não desistiu de procurar por mais de dois anos
Livia Abreu e o pai David Abreu, por quem não desistiu de procurar por mais de dois anos
Foto: Arquivo Pessoal

O agente de saúde David Soares de Abreu, de 67 anos, falou pela última vez com os filhos no dia 19 de março de 2021 e nunca mais foi visto. Depois de mais de 2 anos procurando por ele e em contato com a polícia para ter informações sobre as investigações, a família o encontrou de forma que menos imaginava: enterrado como indigente no litoral de São Paulo. 

"Não desistimos nem um dia de encontrar meu pai. Fiquei durante esses mais de dois anos entrando em contato com o delegado, mandando mensagens perguntando se tinha alguma novidade. O último dia que meu pai foi visto foi 19 de março, esse corpo chegou ao IML dia 20, um dia depois do desaparecimento dele. Eles sabiam que tinha uma filha procurando um pai, porque não pediram essa coleta de DNA antes? Nós nem conseguimos enterrá-lo, nem pudemos nos despedir dele", disse a filha do agente de saúde, Livia Abreu, que à época registrou boletim de ocorrência pelo desaparecimento da vítima. 

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Livia falou com o pai pela última vez no dia 19 de março de 2021, por telefone. No mesmo dia, à noite, o irmão dela esteve na casa do agente de saúde, que fica no bairro Jardim Praia Grande, em Mongaguá, e os dois conversaram por algumas horas.

David Abreu
Foto: Arquivo Pessoal

Conforme relatado por Livia, a conversa entre pai e filho naquela ocasião abordou principalmente o desejo do pai de vender a casa onde residia há sete anos, visando mudar-se para São Paulo e ficar mais próximo da família. Ele compartilhou com o filho que ainda não havia encontrado um comprador disposto a pagar o preço solicitado pela propriedade.

No dia seguinte, nenhum dos filhos conseguiu contatar David. Dois dias depois, um parente foi a casa dele para verificar se ele estava bem, preocupado com a possibilidade de um novo acidente, considerando que ele havia sofrido um AVC. No entanto, ao chegar lá, descobriu que outra pessoa estava morando na residência.

Os pertences do idoso, incluindo seus móveis e os óculos que sempre usava, foram descartados. O idoso não foi localizado, e seu celular estava desligado. Naquele ano, a nova moradora do imóvel que pertencia ao agente de saúde informou aos parentes dele que adquiriu a propriedade pela metade do preço que o idoso mencionou ao filho. A venda foi verificada pelos familiares no cartório, porém, chamou a atenção a data registrada. A filha relatou que a nova proprietária alegou que a transação ocorreu no dia 19, embora, na mesma data, seu pai tenha afirmado que ainda não havia encontrado um comprador.

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Desde então, a família não sabia de seu paradeiro e vivia em contato com a delegacia para saber se tinha alguma atualização sobre o desaparecimento do agente de saúde. 

Filha e pai, enterrado como indigente mesmo após família registrar boletim e manter contato com polícia sobre desaparecimento dele
Foto: Arquivo Pessoal

"Foi só em março desse ano que a polícia me pediu para ir ao IML fazer o DNA, sendo que poderiam ter me orientado a fazer isso em 2021. Coletei e ficou por isso mesmo. Aí agora, em novembro, eu recebi uma mensagem do IML de Praia Grande falando que meu DNA bateu com o de um corpo de um homem que ficou um ano no IML esperando algum familiar o reconhecer, e em fevereiro do ano passado foi sepultado como indigente. Esse homem era meu pai. É um descaso total, nós não tivemos a chance de dar um enterro digno para ele", lamentou ela. 

Livia relata que ao questionar no Instituto Médico Legal (IML) sobre a causa da morte de seu pai, foi informada de que ele estava carbonizado, mas que a causa oficial foi um traumatismo craniano. O corpo de David Soares de Abreu foi encontrado em uma área de mata.

Atualmente, ela está tentando alterar o atestado de óbito, originalmente emitido como "indigente", para incluir o nome dele. No entanto, enfrenta um impasse ao ser notificada pelo cartório de que é necessária uma ação judicial para realizar essa modificação

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Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirmou ao Terra que o caso segue em investigação pela Delegacia de Mongaguá.

"O desaparecimento foi registrado no dia 24 de março de 2021. Já o encontro do corpo ocorreu quatro dias antes, em 20 de março. Na época, não foram localizados indícios de conexão com o desaparecimento do idoso. As diligências prosseguiram, inclusive com perícia técnica na casa do idoso. A autoridade policial também solicitou aos familiares a disponibilização de material genético para possível confronto, o que possibilitou a descoberta da identidade da vítima", diz a SSP.

A pasta acrescenta que as diligências prosseguem para o total esclarecimento dos fatos e detalhes serão preservados para não comprometer o trabalho policial.

Fonte: Redação Terra
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