Durante quase um ano, o gerente André Luis Rafanelli, da padaria Cinco Estrelas, em Tapiraí, interior de São Paulo, foi obrigado a se deslocar duas vezes por semana para Piedade, a 35 km, para realizar serviços bancários. A agência do Bradesco, única da cidade de 8 mil habitantes, foi atacada com explosivos por uma quadrilha no dia 30 de março de 2018 e só voltou a funcionar plenamente há duas semanas.
"A agência reabriu há um mês em outro prédio, mas os serviços estavam limitados. Só agora os caixas eletrônicos foram repostos", conta Rafanelli.
O gasto adicional com viagens à cidade vizinha girou em torno de R$ 400 por mês, segundo ele. O banco de Tapiraí ostenta um recorde indesejável: foi atacado com explosivos oito vezes nos últimos seis anos. Foram dois ataques em 2012 e três em 2014.
Em outubro de 2015, até o cofre central foi alvo. Em dezembro de 2017, os criminosos não conseguiram levar o dinheiro, mas avariaram as instalações. "Acredito que o banco mudou de prédio agora porque aquele já foi explodido muitas vezes", disse a servidora municipal Larissa Daniel da Silva.
Outras cidades paulistas vivem o drama dos bancos fechados após ataques das quadrilhas. Em Sarutaiá, os 3,6 mil habitantes estão sem banco desde que a única agência, do Banco do Brasil, foi atacada com explosivos em 2014. O prédio foi reformado, ainda tem as cores e marcas do banco federal, mas nunca reabriu.
Em 2017, o banco anunciou a desativação definitiva da agência. A prefeitura foi à justiça para tentar a reabertura e conseguiu decisão favorável em primeira instância, mas o banco recorreu e obteve efeito suspensivo. O processo ainda terá julgamento final.
O aposentado Horácio Ribeiro, de 71 anos, é obrigado a tomar o ônibus e seguir para Fartura para receber a aposentadoria e fazer serviços bancários. "Tem gente que paga conta com celular, mas, na minha idade, sempre preciso da ajuda de um funcionário", disse.
Os 10,8 mil moradores de São Bento do Sapucaí, no Vale do Paraíba, também sofrem os efeitos das ações das quadrilhas de roubo a banco. As agências do Santander, Bradesco e Banco do Brasil foram explodidas num mesmo ataque, na madrugada de 11 de fevereiro último.
Os prédios foram recuperados e as agências reabriram, mas o atendimento no Banco do Brasil ainda é parcial. "Os caixas eletrônicos não foram reinstalados e virou um problema, porque as filas para atendimento pessoal são muito grandes. Tem um posto bancário no Fórum, mas só funciona a partir das 12h30 e durante o expediente forense", reclama o comerciante José Spadotto Alves.
As agências do Banco do Brasil e do Santander já haviam sido explodidas por criminosos em setembro de 2017. A prefeitura informou que firmou convênio com a Secretaria da Segurança Pública do Estado para instalar câmeras de monitoramento nas ruas.
Os 14,5 mil moradores de Boa Esperança do Sul, na região norte do Estado, vivem um drama parecido. No dia 23 de março, uma quadrilha atacou, de uma vez, as três bancárias da cidade - Bradesco, Santander e Caixa Econômica Federal - e os moradores foram obrigados a buscar serviços bancários em outras cidades.
"Quando não dá para resolver por aplicativo, não tem jeito, tenho que pegar o carro e vou bater em Araraquara, a 37 quilômetros. As agências ainda não voltaram a funcionar totalmente. O problema é que isso se repete com frequência", disse o operador telefônico Emerson Simplício do O. Desde 2014, houve cinco ataques a bancos na cidade.
Em nota, o Banco do Brasil informou que a agência de São Bento do Sapucaí deve voltar a funcionar em junho deste ano. Segundo o banco, a recomposição estrutural das agências danificadas é um processo oneroso e sujeito à legislação específica de empresas estatais. O BB informou que não pretende reabrir a agência de Sarutaiá. O Bradesco informou que a agência de Tapiraí está com todos os serviços normalizados.
Em dois anos, foram registrados 202 ataques com explosivos a bancos no Estado de São Paulo. Foram 100 em 2017 e 102 em 2018, segundo a Secretaria da Segurança Pública. Em janeiro e fevereiro deste ano, 12 agências foram atacadas.