Barracos são demolidos no 2º dia da reintegração em Osasco

Moradias ficavam em área com restrições ambientais e habitacionais, segundo a prefeitura da cidade

10 jun 2015 - 15h48
Moradores revoltados atearam fogo em alguns barracos ontem
Moradores revoltados atearam fogo em alguns barracos ontem
Foto: Elisa Feres / Terra

A reintegração de posse na Comunidade Nelson Mandela, entre as cidades de Barueri e Osasco, na Grande São Paulo, entrou nesta quarta-feira (10) no segundo dia. A desocupação da área é lenta, pois existiam aproximadamente 3 mil moradias, onde viviam mais de 10 mil pessoas, em uma área de 200 mil metros quadrados. De acordo com a Polícia Militar (PM), a demolição das casas e dos barracos deve terminar até a tarde de hoje.

Ontem, a reintegração começou às 6h em clima tenso, pois alguns moradores mostraram resistência, ateando fogo a alguns barracos. Um grande contingente da Tropa de Choque e da Cavalaria da Polícia Militar, além das Guarda Civis Metropolitanas de Osasco e Barueri acompanharam a ação. Não houve confronto, nem feridos.

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Segundo o capitão da PM Márcio Agamenon Goes de Souza, ao final da operação, cinco adultos foram presos e dois adolescentes, apreendidos. De acordo com o capitão, os adolescentes e um adulto estavam ateando fogo a barracos de outras pessoas, inclusive queimando bens que ainda estavam dentro das casas. Os adolescentes foram acusados por incêndio e o adulto por corrupção de menores. Mais quatro adultos, um morador da própria comunidade e três moradores de regiões vizinhas foram presos por furto de materiais de construção das casas que eram demolidas.

O espaço onde a comunidade estava instalada, próximo ao Rodoanel, tinha 200 mil metros quadrados construídos e 412 mil metros quadrados de área total. A área foi ocupada em fevereiro de 2014 e pertence à empresa Dias Martins S.A. Mercantil e Industrial.

Segundo a Justiça, laudos comprovaram que o terreno tem restrições ambientais, habitacionais e geológicas que impossibilitam a instalação de residências. Em nota, a prefeitura de Osasco reiterou que o local não é adequado ao uso habitacional, pois apresenta restrições ambientais com riscos severos à saúde e à segurança, pela proximidade com o aterro sanitário. Há também riscos de deslizamento de solo, segundo a prefeitura.

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Hoje de manhã, os tratores derrubavam as últimas casas e barracos que restavam. Ainda havia fumaça por causa dos barracos que foram incendiados. “A demolição começou ontem à noite por uma necessidade. Ontem, havia mais focos de incêndio por causa do material mais combustível, como madeirite, papelão, madeira, e estava se alastrando muito fácil. Então, quando colocava fogo em um barraco se alastrava muito rápido. A gente começou a demolir os barracos em volta para o fogo não se alastrar”, explicou o capitão da PM.

O motorista Josenilton Jesus Faria, de 37 anos, estava na casa do irmão quando soube da reintegração de posse, e só hoje pôde ver o que sobrou de sua casa. “É triste para mim porque eu estava viajando, não tirei minhas coisas ainda. Quero ver se ainda dá para tirar meu fogão, minha geladeira que estão lá”, disse. Ele chegou a gastar R$ 5 mil na construção da moradia.

Elenita de Melo Souza, assistente de Service Desk, conta que seu prejuízo foi ainda maior. “Sinto muita tristeza e muita revolta, porque eu gastei todo o meu dinheiro aqui, a minha casa já era de alvenaria com acabamento. Tudo que eu tinha eu gastei na esperança de ter uma casa para morar, em torno de R$ 35 mil a R$ 40 mil. Antes de vir para cá, eu pagava aluguel. Então, vendi um carro e investi tudo aqui”.

Ela morava na comunidade com o marido e quatro filhos pequenos. Agora, Elenita disse que não sabe para onde ir. “Coloquei minhas coisas na casa da minha irmã, mas não posso ficar lá. Eu não sei para onde vou, nem sei o que fazer”, lamenta.

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Julimar Pereira da Silva, ajudante de cozinha desempregado, com 27 anos, veio do Piauí para São Paulo há sete anos e ainda não conseguiu uma moradia. “Foi uma dor insuportável quando disseram que a gente ia perder aqui, eu vi muita gente chorando, crianças. Porque era o nosso cantinho, e muitos não têm condição de pagar aluguel. Neste momento, eu não sei nem para onde vou. Não tenho pra onde ir. Vou ter que correr atrás de um serviço, arrumar um canto para mim e continuar a vida, não baixar a cabeça”, disse.

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Agência Brasil
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