BH: sobrevivente de tragédia esteve em outro grave acidente

"Foi horrível, como se uma cortina de concreto imensa descesse de uma vez. E a gente só não morreu porque a Hanna (Cristina dos Santos, 25 anos, motorista) foi uma heroína"

5 jul 2014 - 18h44
(atualizado em 6/7/2014 às 11h42)
Mulher sobrevive a segundo acidente envolvendo ônibus em BH
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A vendedora de roupas infantis Maria Nilza Loiola, 54 anos, é daquelas pessoas que, no linguajar popular, pode-se dizer que tem sete vidas. Duas ela “gastou” ao escapar de dois dos mais graves acidentes envolvendo ônibus em Belo Horizonte.

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Na última quinta-feira, Nilza, como gosta de ser chamada, estava dentro do coletivo suplementar da linha 70 que foi esmagado pelo viaduto Batalha dos Guararapes. Em 16 de julho de 1999, a vendedora estava dentro do ônibus da linha 1505 que caiu no Rio Arrudas no centro de Belo Horizonte. Neste desastre, nove pessoas morreram e 52 ficaram feridas.

“Graças a Deus eu sobrevivi (aos dois acidentes), mas eu não aguento mais não. Eu não aguento mais sofrer, não quero ver isso nunca mais", disse. "Estou sofrendo muito e não é a dor física por eu ter machucado o braço, ou pelos meus dentes que eu implantei em 99 e que agora estão precisando de implante de novo, porque estão todos moles dentro da minha boca, não é isso. É um sofrimento que fica lá no coração e na minha mente. É esse sofrimento que eu não desejo para ninguém”, desabafou.

Nilza recordou que saiu de casa por volta das 14h na última quinta-feira para ir trabalhar em um shopping da região da Pampulha. Ela entrou no coletivo no bairro Tupi e quando o veículo passava pela avenida Pedro I, foi atingido pelo viaduto. “Foi horrível, como se uma cortina de concreto imensa descesse de uma vez. E a gente só não morreu porque a Hanna (Cristina dos Santos, 25 anos, motorista) foi uma heroína. Ela salvou a vida de todos nós porque teve o instinto de frear. Com isso ela evitou que o viaduto caísse em cima do ônibus,” relembrou.

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Nilza contou que percebeu a presença da filha de Hanna, a pequena Ana Claudia, de 5 anos, no coletivo. “Quando eu entrei, a menina estava sentada na cadeira da cobradora, que era uma tia dela. Ela brincava com os botões de liberar a roleta. No trajeto, a tia voltou para a cadeira e ela foi ficar em cima do capô. Foi quando a mãe dela percebeu a queda do viaduto e, num gesto rápido, atirou a filha para trás, num movimento com o braço, mesmo que aquilo deixasse a menina machucada, mas viva. A Hanna salvou a vida da filha e a nossa”, disse.

A sobrevivente Maria Nilza Loiola
A sobrevivente Maria Nilza Loiola
Foto: Ney Rubens / Terra

“Eu estava sentada em uma cadeira à frente da porta traseira, na parte de trás do ônibus. Quando o viaduto desceu, foi um desespero muito grande. Eu bati a boca e machuquei o braço na freada brusca, mas saí viva. Ainda vi a Hanna viva também,” afirmou. “Eu sou mãe, eu imagino a dor que o pai e a mãe dela estão sentindo."

No primeiro acidente, em 1999, a vendedora perdeu os dentes e teve outras escoriações, mas o momento trágico da queda do coletivo no rio e o sofrimento dos passageiros são o que ainda insistem mais em fazê-la sofrer. “Na época, eu saí da loja que trabalhava no (bairro) Barro Preto e estava indo para casa. Quando chegou no ponto da Rua Tupinambás com a Rua da Bahia ele atravessou. No sinal, eu lembro bem, veio um Tempra e depois uma moto. Foi onde ele bateu na cerquinha (parapeito de proteção de pedestres). Eu nunca achei que ele iria passar. Pois ele ultrapassou a cerquinha, caiu e capotou, ficando com as rodas para cima. Quando eu consegui sair, começamos a salvar as pessoas,” explicou.

Vítima de queda de viaduto em Bh relata momentos de aflição
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Na época, a maioria das vítimas morreram afogadas na água poluída do Arrudas: “Eu tive contato com a água, só que eu fiquei de pé, e saí andando para o canto do rio. Só que a coleção de ratos grandes, lixos e baratas que era aquilo ali (...), teve uma moça que quebrou o ombro e a perna e não conseguia firmar. A gente pegou ela de lado e ficou arrastando para tirá-la. Eu fui tirada (resgatada) lá perto do Parque Municipal (cerca de 50 m abaixo do local da queda do coletivo).”

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Por ter passado por duas situações dramáticas em 15 anos, Nilza disse que desde o dia da queda do viaduto ainda não conseguiu dormir. Neste sábado, foi o primeiro dia de trabalho após a tragédia, mas ela contou que evitou passar pela avenida Pedro I.

“Lá (em 1999) foi imprudência do homem, do 1505, porque era uma cerquinha (grade) no rio Arrudas  (...) lá na Hanna (no desabamento da última quinta-feira)  foi imprudência do homem de novo. Então envolve a mão humana. Não foi um acidente natural, foi um acidente que envolveu a irresponsabilidade de alguém” afirmou, rebatendo em seguida a declaração do prefeito Marcio Lacerda (PSB), que em entrevista após a queda do viaduto disse que “acidentes como esse infelizmente acontecem". "Ele não pensou para falar, ele devia ter pensando mais um minuto antes de usar esssa palavras”, reclamou.

Sobrevivente de acidente viu viaduto desabando sobre ônibus
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Foto: Arte / Terra

Fonte: Terra
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