O prefeito de São Paulo, João Doria, anunciou que muito em breve o Elevado João Goulart - o Minhocão - no centro de São Paulo, local de apropriação e de crescente relação das pessoas com a cidade, estará restrito para pessoas. A decisão coloca uma pá de cal definitiva no capenga - e é uma pena! - Parque Minhocão, uma iniciativa popular que foi abraçada pelo antigo prefeito, Fernando Haddad, que acabou por sancionar a lei que transforma o espaço, legalmente, em parque. Mas o petista errou ao não regulamentar, fazendo, com isso, que a situação ficasse aquela coisa meio "nem lá, nem cá". Conclusão: pressão de parte dos moradores que não gostam - por desconhecimento evidente - do Minhocão e das atividades de apropriação que se estabeleceram nele nos últimos anos e de um promotor do MP fizeram com que Doria optasse por simplesmente restringir os acessos a quem é de direito usar aquele espaço: as pessoas.
Um retrocesso no sentido de política urbanística e que vai totalmente contra a todas as iniciativas e possibilidades de uma cidade mais humana. Não precisa se especialista para saber que desertificação acarreta criminalidade.
Ainda sobre o prefeito, mas agora sobre a ausência dele à frente da prefeitura. Doria está fortemente em campanha, por mais que ainda adote um discurso conciliador - ainda mais diante do padrinho político, Geraldo Alckmin, que anseia pelo cargo no Planalto. Falou primeiro que não, negou, depois disse que tudo bem se o partido realizasse prévias, começou - à exemplo de Lula - realizar uma verdadeira caravana pelo país recebendo títulos pelos quatro cantos e disse, recentemente, que é um "prefeito global". É óbvio que está em campanha e, com essas viagens, quer se tornar conhecido além de São Paulo (do eixo Rio-SP, bem dizer). Para o PSDB, ter Alckmin pela sigla e Doria como um possível oponente deve fatalmente dividir o eleitorado e impor uma derrota aos dois. Ao mesmo tempo, escantear Alckmin, um quadro antigo da legenda, e investir em Doria não me parece provável. Por outro lado, Doria, que está tendo a oportunidade única de comandar a maior cidade do país, deixa o ego e a ambição falarem mais alto, não - ao que tudo indica - terminará o mandato a frente da prefeitura, correndo o risco de perder na corrida presidencial e não entregar todas as coisas que prometeu a capital paulista. Não me parece, em definitivo, uma boa estratégia. Doria deveria respirar fundo, fazer uma boa prefeitura e focar em 2022.