À véspera do fechamento dos dois anos da tragédia na boate Kiss, em Santa Maria, na região Central do Estado, uma série de atividades está programada para lembrar a data. Entre os eventos, chama a atenção e divide opiniões: uma festa em uma casa noturna foi programada por sobreviventes e familiares de vítimas ligados à associação “Ah, Muleke”.
O evento está marcado para o mesmo dia do incêndio, 27 de janeiro.
Para Jéssica Rosado, sobrevivente da tragédia e irmã de Vinícius Rosado - um dos 242 mortos no incêndio- a festa é apenas mais uma forma de homenagear os que perderam a vida na tragédia. “A programação está mantida, vai ser uma festa onde quem vier deverá estar vestido de branco, como uma forma de conscientizar os jovens em relação ao consumo de álcool. Além disso, uma parte da renda será doada para uma entidade beneficente.”
Jéssica está à frente da associação “Ah, Muleke”, que foi batizada com um bordão usado pelo irmão Vinícius. Além dele, os amigos Danilo e Roger também são homenageados pela organização, que ajuda instituições beneficentes e realiza trabalhos de conscientização em casas noturnas na cidade. "Nós apenas estamos dando continuidade ao que o Vinícius fazia em vida, e o que ele certamente seguiria fazendo”, diz Jéssica.
Nas ruas, as opiniões se dividem. A Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia, por meio do presidente Adherbal Ferreira, afirma que “cada um tem o próprio modo de trabalhar a dor da perda e assimilar o luto”, sem criticar a iniciativa.
Já Flávio da Silva, do movimento "Santa Maria do Luto à Luta", lamentou a decisão de ser organizada uma festa na noite em que o incêndio completa dois anos. “Se a intenção é fazer caridade, eles podem fazer isso em outra oportunidade. Eles estão usando a tragédia para fazer marketing, lucrar”, disse. A festa está marcada para ocorrer no Muzeo Pub, no centro de Santa Maria.