Briga pelo Cristo Redentor vira caso de polícia

Arquidiocese do Rio, que cuida do monumento, acusa ICMBio de barrar acesso de forma ilegal

16 set 2021 - 15h11
(atualizado às 15h30)
Vista aérea do monumento do Cristo Redentor, na cidade do Rio de Janeiro
Vista aérea do monumento do Cristo Redentor, na cidade do Rio de Janeiro
Foto: WILTON JUNIOR / Estadão Conteúdo

Uma disputa entre a Arquidiocese do Rio de Janeiro e o Ministério do Meio Ambiente foi parar na delegacia nesta semana. Na segunda-feira, 13, a Arquidiocese registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) do Rio, acusando o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) de intolerância religiosa. Segundo a queixa, o órgão federal teria, ilegalmente, impedido a passagem de religiosos rumo ao Santuário Cristo Redentor.

O Santuário é composto pela estátua do Cristo Redentor - principal símbolo do Rio- e o seu entorno. O conjunto inclui o mirante e a capela de Nossa Senhora Aparecida. Ali são celebradas missas, batizados, casamentos e vigílias. Toda essa parte construída no topo do morro do Corcovado é mantida e administrada pela Arquidiocese do Rio de Janeiro. O padre Omar Raposo é o reitor do santuário - a autoridade máxima sobre aquela área católica.

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Mas o morro e todo o santuário ficam no Parque Nacional da Tijuca. Trata-se de uma área de floresta administrada pelo ICMBio, órgão do Ministério do Meio Ambiente. O instituto tem o poder de controlar o fluxo de visitantes rumo ao Cristo.

Os turistas têm duas formas de chegar ao monumento. Uma é pelo Trem do Corcovado; outra, por vans credenciadas pelo ICMBio. O transporte de trem custa de R$ 27 (para idosos a partir de 60 anos residentes no Brasil) a R$ 88 (bilhete comum para sábado, domingo ou feriado). A tarifa da van é de R$ 28,20 a R$ 91,40, conforme o ponto de embarque, o dia da semana e outros fatores.

Segundo a Arquidiocese, nesse valor estão embutidas duas taxas, de transporte e de visitação, cobradas pelo órgão ambiental federal. Por lei, a administração de qualquer parque nacional pode cobrar taxas de seus visitantes. Nesse caso, o ICMBio só cobra de quem vai ao Cristo - a visita a qualquer outro ponto do Parque Nacional da Tijuca é gratuita.

Apesar de cobrar as taxas, segundo a Arquidiocese o ICMBio não repassa nenhum valor à Igreja Católica, que diz arcar com as despesas de conservação do monumento.

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Além dos turistas, circulam pelas vias de acesso ao Cristo Redentor os religiosos responsáveis pelo Santuário e eventuais convidados deles. Quando se promove um casamento, por exemplo, uma lista com nomes de todos os convidados é enviada previamente pelo Santuário ao ICMBio solicitando a autorização de acesso para aquelas pessoas.

No último sábado, 11, porém, uma comitiva composta pelo padre Omar e pessoas que iriam participar de um batizado agendado para as 7h30 foi barrada. O grupo foi parado na estrada das Paineiras, rumo ao monumento, por funcionários do ICMBio. Eles alegaram não haver autorização para que os visitantes seguissem adiante. A demora para a liberação atrasou o batizado, que só ocorreu às 9h30.

Após esse episódio, o Santuário do Cristo Redentor divulgou nota. No texto, relatou que, só nos primeiros onze dias de setembro, religiosos ou profissionais que trabalham para a igreja haviam sido barrados três vezes por seguranças do ICMBio.

Um incidente ocorreu em 2 de setembro. Funcionários de uma empresa que faz a gestão da iluminação do monumento foram barrados. Na ocasião, usando veículos identificados, rumavam ao Cristo para iluminar o monumento de verde, em uma campanha pela doação de órgãos. Também foram barrados veículos e funcionários da Secretaria de Estado de Saúde.

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No dia seguinte, 3 de setembro, convidados da Arquidiocese foram impedidos de chegar ao monumento. Lá ocorreria uma celebração litúrgica seguida de café da manhã.

Em agosto também houve um problema, segundo o Santuário. No dia 22, a fiscalização do Parque Nacional da Tijuca falhou ao não identificar turistas franceses que se esconderam na mata após o encerramento da visitação de domingo. Na manhã do dia 23, o monumento foi invadido por esses turistas, que arrombaram os cadeados da porta de acesso ao interior do monumento. Eles subiram até a cabeça e os braços do Cristo Redentor, colocando em risco até a própria vida.

A nota do Santuário conclui: "Nos últimos meses, a postura dos seguranças do Parque Nacional da Tijuca tem sido hostil em relação ao Padre Omar e aos funcionários do Santuário. O ICMBio tem a postura de relativizar a autoridade da Igreja, que cuida, com todo o zelo, do monumento ao Cristo Redentor".

Após o incidente de sábado, o ICMBio também se manifestou por nota. "Por questões de segurança dos frequentadores e conservação ambiental de alguns Parques Nacionais, todos os veículos que acessam as áreas restritas precisam se identificar. Eventualmente essa checagem pode levar um pouco mais de tempo, devido à quantidade de frequentadores em eventos e nos finais de semana."

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No domingo, 12, o padre Omar foi ao Vaticano para debater com líderes da Igreja Católica essa situação no Santuário do Cristo Redentor. Na segunda-feira, a Arquidiocese registrou o boletim de ocorrência contra o ICMBio.

Na terça-feira, 14, a reportagem consultou o ICMBio e o Ministério do Meio Ambiente sobre a situação. Nenhum dos órgãos quis se manifestar. O Estadão apurou que o ICMBio está proibido de se pronunciar sobre o episódio - qualquer manifestação cabe ao ministério.

Briga por causa de lojas

Outra questão que opõe o Santuário Cristo Redentor e o ICMBio são seis lojas situadas no entorno do monumento. Na década de 1930, a União cedeu à Igreja Católica o domínio sobre a área onde estão os espaços de comércio. Coube à Arquidiocese escolher quem as administraria. Desde a década de 1990, porém, as taxas pagas pelos lojistas ficam com a União. Em julho de 2019, entretanto, o ICMBio enviou comunicado aos lojistas. Deu prazo de 90 dias para que desocupassem os espaços.

Desde então, há uma disputa judicial entre os lojistas e o ICMBio, mas os lojistas saíram. Atualmente todas as lojas estão vazias. Para beber água ou fazer um lanche durante um passeio, os visitantes do Cristo precisam levar sua própria água e comida. O banheiro mais próximo, que ficava em um restaurante, também está fechado.

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