Caminhões de som 'vermelho-PT' são recusados para dia 12

Empresa que atua no segmento de aluguel de trios elétricos há 20 anos informou que não trocará as cores dos seus veículos em virtude das manifestações contrárias ao governo Dilma Rousseff e ao Partido do Trabalhadores

7 abr 2015 - 08h33
(atualizado às 14h36)

No ano passado, a reedição da Marcha da Família com Deus – cinco décadas após a marcha original, em 1964 – houve uma cena inusitada: antes mesmo de a passeata ter início, na Praça da República (região central de São Paulo), um homem de meia idade foi expulso aos gritos de “Comunista!” porque usava uma calça... vermelha. O expulso se indignou: era tão manifestante da causa quanto seus algozes, ainda que trajasse roupas da cor, ao menos naquele instante, absolutamente proibida.

<p>Os caminhões trios elétricos da empresa Energia são todos vermelhos - cor proibida nas manifestações antiDilma e antiPT</p>
Os caminhões trios elétricos da empresa Energia são todos vermelhos - cor proibida nas manifestações antiDilma e antiPT
Foto: Divulgação

Desde o final das eleições presidenciais, com seu ápice no último dia 15 de março, os protestos contra a presidente Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores (PT)  elegeram de novo o vermelho como alvo de seus bordões nas ruas e nas redes sociais: “A nossa bandeira jamais será vermelha”, foi entoado com fervor por diferentes faixas etárias.

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O que parece ser novidade é a “vermelhofobia” exatamente naquilo que ajuda a potencializar gritos como esse, além de outros menos educados e amistosos à figura da presidente reeleita: os caminhões de som e trios elétricos vermelhos. Na manifestação marcada para o próximo domingo (12), na avenida Paulista, eles estão praticamente proibidos.

A reportagem do Terra conversou com uma das empresas que atua no mercado paulistano de aluguel desses veículos. De Parada do Orgulho LGBT à Marcha para Jesus, passando por manifestações, ela teve que abrir mão de trabalho porque não quis pintar seus caminhões com cores que não o vermelho vivo, marca da companhia desde o início das atividades, há 20 anos.

“A gente não tem vermelho por questão de partido ou de candidato, mas porque o dono da empresa gosta de vermelho, ué. E ele não quer tirar a cor em virtude de uma ou outra manifestação – uma hora, isso passa. Mas a gente tem medo de quebra-quebra, tem medo de ser linchado. Tanto a cabine das carretas quanto a carroceria são vermelhas”, afirmou a auxiliar administrativa Luciana Souza, de 46 anos.

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De acordo com ela, a pergunta de representantes dos movimentos que participarão do ato dia 12 não varia: além do preço cobrado, “querem saber se os caminhões nossos são vermelhos”. “A gente não vai pintar de outra cor, porque trabalha para pessoas com diversas correntes e ideologias – de Marcha para Jesus à Parada LGTB, fora Carnaval. Cada um no seu quadrado, né?”.

A auxiliar não quis citar quais movimentos que organizam o ato do dia 12 teriam requisitado carretas e, depois, desistido em função da cor. Na semana passada, porém, outro funcionário da mesma empresa, questionado sobre a natureza do serviço e informado sobre o protesto de domingo, dera os valores, mas declarou, ao final da conversa, sem saber que a pergunta era feita para fins de reportagem: “Mas nossas carretas são vermelhas. Estamos pintando de verde e amarelo, se você preferir, para ficarem mais de acordo com o propósito da manifestação”. E garantiu. “Dois movimentos do dia 12 estão quase fechando com a gente”.

Nessa segunda-feira, Luciana disse que foi tudo “um mal-entendido”. “Falamos isso (de pintar de verde e amarelo) mais para saber, de repente, quem quer contratar o serviço. Mas não pintamos, nem fomos contratados por ninguém para o dia 12”, esclareceu. Questionada como, pessoalmente, avalia a rejeição ao vermelho dos veículos, respondeu: “Uma vergonha”.

Uma carreta com trio elétrico de aproximadamente 12 mil watts de potência, conforme “negociada” pela reportagem, na semana passada, custa entre R$ 3.800 e R$ 4 mil para o período do evento.

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Fonte: Terra
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