O Sistema Cantareira, principal rede de reservatórios que abastece a Grande São Paulo, já estaria sem água a partir deste sábado se não fosse a captação do volume morto, iniciada no dia 15 de maio. Na época, os reservatórios estavam com 8,2% da capacidade total e, com a injeção do volume morto, esse volume acabou subindo para 26,7%.
Como a estiagem não deu trégua na região, o volume apresentado pelo reservatório hoje é de 18,5%, a mesma quantidade de água captada pela reserva técnica. A chuva média acumulada em julho atingiu 28, 6 mm e está dentro da média histórica. O sistema abastece 9 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo.
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O Sistema Alto Tietê também dá sinais de esgotamento e chegou a 24 % da capacidade. Ele abastece mais de 4 milhões de habitantes da Grande São Paulo. No começo de junho, o volume armazenado estava em 30,8%. Em março, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) anunciou a redução da captação do Cantareira e a complementação dele por meio de outros sistemas, incluindo o Alto Tietê.
De acordo com Neide Oliveira, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a escassez é uma característica do inverno e, nos próximos dias, o tempo seco voltará. Para o segundo semestre, no entanto, a presença do El Niño pode trazer chuvas acima da média na primavera e no verão. O fenômeno é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico que pode afetar o clima regional e global.
Para o professor Frederico Fábio Mauad, coordenador do Programa de Ciências da Engenharia Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), a estiagem deste ano, no entanto, não justifica por completo a baixa histórica nas represas. “Não é um acaso da natureza, é falta de planejamento. Não é um ano de estiagem que causa um apagão no sistema de abastecimento. O nível não cai assim. Não é uma banheira que se tira o tampo e a água desce rapidamente. O nível vem caindo paulatinamente”, apontou. Ele estima que, se não houver chuva nos próximos meses, será necessário adotar racionamento em novembro.
Mauad destaca que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estabelece um mínimo de 1,4 mil metros cúbicos de água por habitante/ano (hab/ano). “É um volume para ser usado em 365 dias para todas as necessidades. Mas a conta não é linear, pois as pessoas que ficam mais longe dos sistemas de captação têm maiores dificuldades, porque existem muitas perdas de vazamento”, explicou. Segundo o professor, antes da crise, o índice destinado para os habitantes da região do Alto Tietê era de 200 metros cúbicos por hab/ano.
Ele avalia que, do ponto de vista técnico, é preciso trazer água de outras regiões e investir, sobretudo na redução drástica do desperdício. “Há muito vazamento, da ordem de 40%”, informou. Além disso, ele acredita ser necessário continuar fazendo campanhas de conscientização ambiental. “Água é um bem renovável e não infinito. As pessoas precisam estar conscientes disso”, apontou.
Comitê ordena diminuição em vazão
Um comitê que acompanha o abastecimento no Sistema Cantareira, na Grande São Paulo, estabeleceu que a Sabesp devesse diminuir a retirada dos reservatórios do sistema, pelo menos na primeira quinzena do mês de julho.
Segundo recomendação do Grupo Técnico de Assessoramento para Gestão do Sistema Cantareira (GTAG), o Sistema Cantareira deverá usar a vasão de 19,7 metros cúbicos por segundo no período. A pretensão da Sabesp era usar 20,9 metros cúbicos por segundo no mês de julho. A GTAG monitora situação do Sistema Cantareira e deve divulgar um novo parecer para a segunda quinzena do mês.
Com informações da Agência Brasil
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