Caso Raissa: Polícia diz ter certeza de participação de adolescente no crime

Em coletiva, delegado disse que hipótese de adolescente ser vítima ou testemunha está descartada. Exame de DNA, que pode comprovar se ele agiu sozinho ou não, deve ficar pronto semana que vem

18 out 2019 - 17h23

SÃO PAULO - Em entrevista coletiva no Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o delegado Luiz Eduardo Aguiar Marturano, da 5ª Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes Contra a Crianças e o Adolescente, afirmou não existir mais nenhuma dúvida da participação do menino de 12 anos no assassinato de Raíssa Eloá, 9 anos, encontrada morta e amarrada em uma árvore no Parque Anhanguera. Ainda assim, só um exame de DNA, que deve ficar pronto na próxima semana, deve confirmar se o garoto agiu sozinho ou não.

"Nós descartamos qualquer hipótese desse adolescente ser uma vítima ou testemunha", disse Marturano. Segundo o delegado, uma série de dados apontam para a participação do menor.

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Raíssa Eloá Caparelli Dadona, de 9 anos, morava no bairro do Morro Doce, na zona norte de São Paulo
Raíssa Eloá Caparelli Dadona, de 9 anos, morava no bairro do Morro Doce, na zona norte de São Paulo
Foto: Reprodução / Estadão

A polícia também já descarta a existência do suspeito descrito pelo garoto, um homem de baixa estatura, calça branca, camiseta cinza e uma bicicleta verde. "Ouvimos mais de 20 seguranças do parque e também temos o material das câmeras de segurança. Podemos afirmar que esse homem descrito pelo menor não existe. Esse indivíduo foi criado por ele" disse o delegado.

O inquérito ainda aponta que o garoto teria se inspirado em filmes de violência e terror para cometer o crimes. Segundo a polícia, a escola frequentada pelo menor já tinha relatado pelo menos dois casos de atos obscenos com meninas da escola - e um caso de agressão a um colega de classe com deficiência mental.

Outro caso, relatado pela escola no dia 23 de setembro, mostrava que o garoto, na ocasião, atacou outras crianças com agulhadas. A escola também comunicou a polícia que, apesar das advertências e suspensões, os pais do menino não apareciam na escola para discutir as questões envolvendo o aluno. "Nas últimas semanas, ele ia para escola na segunda e terça. O restante da semana ele ficava suspenso", comentou o delegado.

A escola teria comunicado a atitude do aluno aos pais e ao Conselho Tutelar. O delegado ressaltou que o garoto não apresentava nenhum sintoma de dificuldade de aprendizagem.

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Indícios

De acordo com o delegado, vigias do Parque ficaram consternados com o comportamento frio do menino ao levá-los até o corpo da menina - um dos seguranças registrou, inclusive, uma foto do garoto chupando um pirulito a poucos metros do corpo, como se nada tivesse acontecido.

Outro indício seria o sangue na camisa do garoto. Em um primeiro momento, ele disse se tratar de picadas de mosquito, mas depois mudou a versão, dizendo que havia tocado no sangue no chão e depois limpado na camisa.

A polícia tem certeza que o menor teria mentido sobre a corda (mudando a versão pelo menos três vezes).

Laudo

Laudo da Polícia Técnico-Cientifica de São Paulo mostrou que a menina morreu por asfixia mecânica. O laudo também descreve uma série de lesões sofridas por Raissa, incluindo ferimentos compatíveis com mordidas, arraste, estrangulamento e enforcamento.

Raíssa foi encontrada amarrada pelo pescoço a uma árvore do Parque Anhanguera no dia 29 de setembro. Ela havia desaparecido quando participava de uma festa com outras crianças em um Centro Educacional Unificado (CEU) vizinho.

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No dia 14 de outubro, a Promotoria de Justiça da Infância e Juventude aditou a representação contra o adolescente, que está internado na Fundação Casa. Para o Ministério Público de São Paulo (MPE-SP), o assassinato aconteceu por meio cruel, sem possibilidade de defesa da vítima e por feminicídio.

No documento, o MPE-SP afirma que Raissa "não tinha necessário discernimento para a prática do ato e não poderia oferecer resistência", uma vez que tinha apenas 9 anos e era diagnosticada com autismo. De acordo com a versão da promotoria, a menina foi morta com "emprego de asfixia (meio cruel)", "para assegurar a ocultação e impunidade do ato infracional equiparado ao crime de estupro" e "por razões da condição do gênero feminino e em menosprezo a ela".

O adolescente também participava da festa no CEU Anhanguera e teria se aproveitado da ausência da mãe da menina para levá-la a uma área afastada do parque, a cerca de quatro quilômetros de distância do evento. Na versão do MPE-SP, o homicídio aconteceu porque Raíssa teria se recusado ao ato sexual e o adolescente pretendia "calar a ofendida e assim ocultar o estupro".

"Para tanto, (...) passou a agredir o corpo de Raissa com empurrões e chutes e golpes realizados com instrumentos contundentes, possivelmente galhos de árvores", diz o documento. O jovem teria, ainda, tentado amarrar as mãos da menina com uma meia, sem sucesso. Só então "estrangulou" a garota e a "arrastou pelos cabelos" até uma árvore, onde foi amarrada pelo pescoço.

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"O adolescente usou recurso que dificultou a defesa da vítima por atacá-la de surpresa, após tê-la levado para local ermo, aproveitando-se da enfermidade mental da vítima, de sua ingenuidade infantil e da confiança que ela, mesmo autista, depositava nele", afirma o MPE-SP.

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