A médica Priscila Prata Cursi, de 31 anos, ouve muitas queixas sobre dores crônicas nos braços, pernas e no tronco, nos atendimentos voluntários que costuma prestar às pessoas em situação de rua na região central de São Paulo.
A causa mais provável é a falta de um colchão; as pessoas dormem no chão das calçadas protegidas, no máximo, por papelões, roupas ou sacos de dormir. E também atende reclamações de dores crônicas - aqui, a causa provável são brigas, conflitos e quedas. Nos últimos dois anos, a pediatra vem atendendo mais famílias, com mulheres e crianças que vivem nas ruas. As crianças apresentam problemas respiratórios, inflamações na garganta, doenças de pele e até sarna.
Priscila é uma das voluntárias do Médicos nas Ruas, um dos braços da ONG Bem da Madrugada, que atua há mais de 20 anos em todas as regiões paulistanas. Além da falta de comida, os voluntários perceberam que havia muitas queixas de problemas de saúde.
Aí, a assistência aumentou, como conta a economista Priscila Rodrigues, de 33 anos, gestora da ONG, que inclui médicos, odontologistas e psicólogos, por exemplo. A carência de atendimento médico é tão grande que as pessoas protegem os voluntários de assaltos para garantir que voltem nos próximos atendimentos, feitos a cada 15 dias. "Uma vez, roubaram a câmera da equipe. Os pacientes se reuniram e conseguiram recuperá-la."
Casos mais urgentes são encaminhados para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). "A gente não consegue tratar situações mais complexas, pois não somos um órgão de saúde. Muitos precisam de ortopedistas, por exemplo. Damos medicação para situações agudas e fazemos o encaminhamento", diz a especialista. l