Cientista diz que retirada de cães de instituto afeta pesquisa anticâncer

Ativistas retiraram 178 cães da raça beagle de um laboratório em São Roque

22 out 2013 - 09h00
(atualizado às 19h25)
<p>Ativistas divulgaram fotos nas redes sociais dos cães beagles libertados do Instituto Royal, em São Roque (SP)</p>
Ativistas divulgaram fotos nas redes sociais dos cães beagles libertados do Instituto Royal, em São Roque (SP)
Foto: Twitter / Reprodução

Experimentos avançados de um medicamento para tratamento contra câncer - além de fitoterápicos para usos diversos - foram comprometidos com a retirada de 178 cães da raça beagle de um laboratório em São Roque (SP). A informação é do médico Marcelo Marcos Morales, um dos secretários da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e coordenador do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. "Um trabalho que demorou anos para ser produzido, que tinha resultados promissores para o desenvolvimento do país, foi jogado no lixo", disse ele, em referência à invasão do Instituto Royal por ativistas na semana passada, afirmando que o prejuízo "é incalculável para a ciência e para o benefício das pessoas". As informações foram publicadas no jornal Folha de S. Paulo. 

Você sabia: por que os beagles são usados em pesquisas de medicamentos?

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O nome do medicamento desenvolvido e para qual tipo de câncer seria usado não foram revelados pelo cientista por exigência por contrato, mas Morales disse que se tratava de um tipo de remédio produzido fora do País e que teve a patente quebrada. O Royal também não detalha os experimentos alegando restrição contratual. Os fitoterápicos eram baseados em plantas da flora nacional e poderiam ser usados, por exemplo, para combater dor e inflamações. Ele alega que os cientistas "também não querem trabalhar com animais", mas que o método é ainda o mais eficaz para testes de tratamentos médicos e vacinas. Morales também criticou o fato das pessoas estarem "confundindo" animais domésticos com cães que nasceram dentro de biotérios, sob condições controladas e rígidas para o uso científico. "O apelo do cão é muito grande, tanto é que levaram todos os beagles, mas deixaram todos os ratos", acusou. A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), autoridade brasileira responsável por aprovar pesquisas com humanos, não avaliza projetos de drogas que não tenham passado por testes de segurança em animais.

Ativistas retiram animais de instituto

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Ativistas invadiram, por volta das 2h de 18 de outubro de 2013, a sede do Instituto Royal, em São Roque, no interior de São Paulo, para o resgate de cães da raça beagle que seriam usados em pesquisas científicas. Mais tarde, coelhos também foram retirados do local. Cerca de 150 pessoas participaram da invasão. Ao todo, 178 cães foram retirados do instituto. O centro de pesquisas era alvo de frequentes protestos de organizações pelos direitos dos animais.

Os beagles são usados por ter menos variações genéticas, o que torna os resultados dos testes mais exatos. Apesar de os ativistas relatarem diversas irregularidades, perícia feita no Instituto Royal não constatou indícios de maus-tratos aos animais. No dia seguinte à invasão, um novo protesto terminou em confronto entre policiais militares e manifestantes e provocou a interdição da rodovia Raposo Tavares. Quatro pessoas foram detidas.

Em nota, o Instituto Royal refutou as alegações dos manifestantes. "O instituto não maltrata e nunca maltratou animais, razão pela qual nega veementemente as infundadas e levianas acusações de maltrato a seus cães. Sobre esse ponto, o instituto lamenta que alguns de seus cães, furtados na madrugada da última sexta-feira, estejam sendo abandonados", diz a nota, acrescentando que todas as atividades desenvolvidas no local são acompanhadas por órgãos de fiscalização.

Segundo o instituto, a invasão de sua sede constituiu um "ato de grave violência, com sérios prejuízos para a sociedade brasileira, pois dificulta o desenvolvimento de pesquisa científica no ramo da saúde". A invasão ao local, de acordo com a posição do Royal, provocou a perda de pesquisas e de um patrimônio genético que levou mais de dez anos para ser reunido. O instituto também informou que os animais levados durante a invasão, quando recuperados, serão recolhidos e receberão o tratamento veterinário adequado, podendo ser colocados para adoção.

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Marcelo Morales, coordenador do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) - órgão responsável pela fiscalização do setor -, afirmou que nenhum animal retirado do laboratório sofria maus-tratos ou tinha mutilações. De acordo com o médico, o instituto era acompanhado pelo Concea, ligado aos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Saúde, nos testes para medicamentos coadjuvantes na cura do câncer, além de antibióticos e fitoterápicos da flora brasileira, feitos a partir de moléculas descobertas por brasileiros. "Milhões de reais foram jogados no lixo e anos de pesquisas para o benefício dos brasileiros e dos animais também foram perdidos", disse o pesquisador.

Fonte: Terra
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