Uma investigação realizada por mais de um ano pelo Ministério Público de São Paulo aponta que membros da Guarda Civil Metropolitana (GCM) estavam colaborando com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para remover usuários da Cracolândia em troca de propinas. Os detalhes dessa apuração foram revelados com exclusividade pela Fantástico, da TV Globo.
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De acordo com o MP, os guardas civis metropolitanos deslocavam os usuários de drogas para uma área comercial específica. Em seguida, exigiam dos comerciantes um pagamento mensal para removê-los novamente e movê-los para outra região comercial.
"Era um oferecimento de um serviço de segurança privada para poder oferecer aos comerciantes uma suposta tranquilidade. Por isso foi usado o termo milícia", afirmou ao Fantástico Lincoln Gakiya, promotor de Justiça.
A organização criminosa também desenvolvia outras atividades para assegurar o lucro na Cracolândia. Uma testemunha revelou que membros da GCM, juntamente com um policial, informavam os traficantes sobre as operações antes que elas ocorressem.
Além disso, as investigações apontam que o grupo se beneficiava explorando a mão de obra dos dependentes químicos, que eram forçados a trabalhar em ferros-velhos ilegais.
- Testemunha: "Esses ferros velhos são depósitos de esconderijo de drogas."
- Promotor: "Você sabe se o crime, os criminosos aí, integrantes do PCC, foram comprando esses hotéis e prédios velhos aí na região?"
- Testemunha: "Sim, sim, sim."
Os hotéis, por outro lado, atuam como "QG do crime", sendo usados para armazenar drogas. A Favela do Moinho, localizada na região central, é um ponto estratégico para a milícia, funcionando como uma base para o PCC e servindo também como local de armazenamento de armas e entorpecentes.
Ao programa da TV Globo, os guardas apontados na investigação por estarem envolvidos na milícia negam todas as acusações. Já a Prefeitura de São Paulo afirmou que "desconhece a atuação de milícias na cidade" e que "repudia qualquer tentativa de uso do episódio para comprometer a credibilidade da corporação", mas complementou que está investigando "eventual enriquecimento ilícito por parte dos agentes públicos municipais".
Comerciantes pagavam R$ 50 mil por mês para milícia
Segundo o Ministério Público, os comerciantes pagavam cerca de R$ 50 mil mensais para que a milícia removesse dependentes químicos de frente das lojas, tentando assim conter a queda nas vendas na região.
O Fantástico conversou com seis comerciantes do centro de São Paulo, que preferiram não aparecer em entrevista. Todos confirmaram que faziam pagamentos a membros da Guarda Municipal, relatando que as vendas haviam caído muito e que pagavam propina para que os dependentes químicos fossem retirados.
Testemunhas ouvidas pelo MP identificaram Leonardo Monteiro Moja, conhecido como Leo do Moinho, como o principal traficante da área. Ele, que estava em liberdade condicional, foi preso devido a essas novas acusações. A defesa de Leo do Moinho afirma estar segura de sua inocência e considera a prisão injusta.
Em 6 de agosto, outra operação na Cracolândia resultou na interdição de 48 imóveis e na prisão de 15 pessoas. Entre os presos estavam Renata Scorsafava, Elisson de Assis e Antonio Carlos Amorim, acusados de integrarem a milícia entre outubro de 2019 e janeiro de 2023. Eles faziam parte da Inspetoria de Operações Especiais (IOPE), uma tropa de elite da guarda civil envolvida em confrontos frequentes.
Rubens Alexandre Bezerra, ex-GCM que trabalhou na Guarda Civil de 2003 a 2019, também foi preso, acusado de vender armas para o crime organizado. A defesa de Rubens nega as acusações, afirmando que "nada de ilegítimo foi encontrado em posse do acusado".