Congolês Moïse Kabagambe esperou socorro desmaiado, mas quiosque funcionava normalmente, diz primo

Em entrevista à Rede Globo, família de refugiados vê racismo e quer deixar o País: 'O maior sonho dele era vir para o Brasil. Olha o que o Brasil fez com nosso irmão'

1 fev 2022 - 14h43

RIO - O quiosque onde o congolês Moïse Kabagambe, de 24 anos, trabalhava, funcionou normalmente enquanto o africano, depois de brutalmente espancado, esperava desmaiado pela chegada do socorro. O garçom morreu na semana passada, após ser agredido por cerca de 15 minutos na Barra da Tijuca,na zona oeste carioca. Segundo Yannick Kamanda, primo do refugiado, relatou à Rede Globo, Moïse foi amarrado e levou golpes com um taco de beisebol e um pedaço de madeira. A família do congolês afirmou que não tem mais vontade de continuar no Brasil.

"Vi meu primo sendo espancado até a morte", disse Yannick durante o programa 'Encontro', da TV Globo. Yannick não estava no local no momento das agressões, mas teve acesso às imagens das câmeras do quiosque. "Tudo partiu do responsável pelo quiosque à noite."

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Segundo parentes, Moise Kabagambe morreu depois de ser agredido por cinco homens após cobrar uma dívida de trabalho em quiosque da Barra da Tijuca. 
Segundo parentes, Moise Kabagambe morreu depois de ser agredido por cinco homens após cobrar uma dívida de trabalho em quiosque da Barra da Tijuca.
Foto: Facebook/Reprodução / Estadão

De acordo com Yannick, Moïse fora ao estabelecimento cobrar o pagamento de uma diária - o valor seria em torno de R$ 200. O garçom trabalhava lá, sem vínculo empregatício, e era pago por dia. Houve uma discussão, e o responsável pelo quiosque pegou um pedaço de madeira. Revoltado com a situação, o congolês então pegou uma cadeira de madeira para se defender. Mas, segundo Yannick, não chegou a agredir ninguém com ela. Foi nesse momento que o responsável pelo estabelecimento pediu a "ajuda" de outros homens.

"Eram cinco pessoas", relatou Yannick. "Assim que vieram os reforços, já arremessaram ele (Moïse) no chão. Um agarrou ele com um mata-leão, um agarrou as pernas e outro já chegou dando madeirada nele", contou. "Apareceu taco de beisebol, madeira."

As agressões só cessaram quando o congolês já estava desacordado.

"Passaram uma corda nas pernas e no pescoço. Começaram a revezar batendo nele. Quando perceberam que ele não tinha mais reação, começaram a dar uns tapas no rosto. Como viram que ele não estava reagindo, se afastaram. O que deu o golpe nele, pegou a faca, cortou as cordas - dá para ver no vídeo -, tentou reanimar, e nada. Nisso aí, tinha outras pessoas observando. E o quiosque funcionando, como se nada estivesse acontecido", narrou Yannick, que afirmou ainda que o SAMU chegou cerca de 40 minutos depois.

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Os nomes dos investigados não foram revelados pela Polícia Civil, que afirma que o inquérito é sigiloso. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital, que já ouviu oito testemunhas. O dono do quiosque onde ocorreu o crime deverá ser ouvido nesta terça-feira, 1.

Mãe de Moïse diz que família quer Justiça

Ivana Lay, mãe de Moïse, disse no "Encontro" que espera que os responsáveis sejam condenados pelo crime.

"Queremos justiça para pegar essas pessoas. Porque se não pegarem, vão fazer o mesmo com outras. Hoje foi o Moïse, e depois?", indagou.

Ivana, que chegou ao Brasil como refugiada do Congo em 2014, três anos após a chegada dos filhos ao País, demonstrou desalento.

"É triste. A gente escolheu o Brasil porque o Rio também tinha negros, e pensamos que iríamos viver aqui com calma, numa boa. Mas, olha hoje: o país que tínhamos na nossa cabeça matou ele", lamentou.

Para um dos irmãos de Moïse, o crime pode ter relação com preconceito.

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"A gente acha que tem um pouco disso, porque às vezes eles chamavam nós de angolanos (de forma pejorativa), por causa da cor", disse Djodjo Kabagambe. "Nosso maior sonho era vir pro Brasil, conhecer o país, ficar calmo, poder levar comida pra casa. O maior sonho dele era vir para o Brasil. Olha o que o Brasil fez com nosso irmão."

Sobre o futuro, a família agora cogita em deixar o País. "A gente quer que a Justiça seja feita, embora nenhum de nós queira mais ficar no Brasil", afirmou Yannick.

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