Máquina de lavar roupas. Fogão. Utensílios de cozinha. Em uma rápida busca pela internet, esses são alguns dos itens que podem ser encontrados em promoção no mercado em “homenagem” ao Dia da Mulher (comemorado em 8 de março). Mas provavelmente nenhuma dessas empresas perguntou às brasileiras se elas gostariam, de fato, de passar o fim de semana desempenhando serviços domésticos. Para as publicitárias Maria Guimarães, Thais Fabris e Larissa Vaz, pelo menos, a resposta é não. Criadoras de um coletivo que busca repensar a maneira estereotipada com que as mulheres são retratadas na publicidade, eles preferem aproveitar a data debatendo e degustando sua mais recente criação, a Cerveja Feminista.
“É muito triste como algumas marcas reduzem a mulher à figura da dona de casa que cuida dos filhos e faz jantar para o marido. Obviamente existem mulheres que são assim, gostam de ser assim e têm todo o direito de ser assim. Mas não são todas. Não tem como reduzir dessa maneira 52% da população brasileira”, disse Maria ao Terra. “O Dia da Mulher não é para ganhar rosas, chocolates e ‘parabéns’. Isso seria apagar tudo que acontece nos outros 364 dias do ano. É para apresentar as mudanças que queremos”, completou.
O nome do grupo, 65 / 10, de cara dá o tom do projeto. Ele foi pensado a partir do resultado de duas pesquisas: uma que mostrou que 65% das mulheres não se identificam com a publicidade e outra que revelou que apenas 10% dos profissionais que trabalham com criação são do sexo feminino.
“Nós três trabalhamos na mesma agência. Um dia saímos para almoçar e foi um daqueles ‘almoços desabafos’ sobre trabalho. Começamos a discutir problemas em campanhas e em empresas. Falamos, por exemplo, sobre como é difícil indicar outras mulheres quando surge uma vaga. Aí tivemos a ideia de criar um grupo fechado no Facebook com publicitárias para iniciar uma rede de indicações”, explicou.
As discussões que inicialmente seriam sobre oportunidades de emprego, no entanto, tornaram-se cada vez mais amplas. Em poucos dias, as participantes sentiram a necessidade de tentar encontrar possíveis soluções que tivessem resultados efetivos no problema do machismo na propaganda. Enquanto debatiam, aconteceu a polêmica envolvendo a Skol e as acusações de incitação ao estupro que a marca recebeu. Era o estalo que precisavam.
“Quisemos aproveitar a discussão que foi levantada com aquele caso para continuar falando sobre a questão. Não podíamos deixá-la morrer. E a cerveja tem o ‘dom’ de colocar diferentes pessoas sentadas por um tempo e fazê-las conversar. Queremos que isso aconteça. Que todos, homens e mulheres, sentem para discutir o machismo com a Cerveja Feminista”, afirmou Maria.
As bebidas, do tipo Red Ale, são produzidas pelos arquitetos e cervejeiros Marilia Hamada e Otávio Dornelas. Thaís explicou que uma receita feita em casa rende 80 garrafas de 600 ml. Cada uma foi colocada à venda por R$ 14. Em apenas três dias, o trio recebeu 1,2 mil pedidos via internet. As encomendas para o primeiro lote foram encerradas, mas já é possível fechar encomendas para o segundo. Diante da grande procura, elas estudam também a possibilidade de fechar parcerias para produzi-la em escala industrial e, quem sabe, comercializar em pontos de venda físicos.
Além disso, outro serviço que o grupo pretende prestar é oferecer consultoria criativa para que as empresas saibam como conversar com o público feminino. Em breve, elas ainda devem apresentar uma nova ação, mantida em segredo, que já está encaminhada.
"Coloca uma Cerveja Feminista na mesa, faz um brinde à igualdade e entra nesse papo com a gente", diz a descrição do produto em seu site oficial. Se você também não quer passar o domingo em frente à máquina de lavar ou ao fogão, fica aí o convite.