O presidente da Alstom no Brasil, Marcos Costa, negou qualquer envolvimento da empresa na formação de cartel e fraude nas licitações de trens do Estado de São Paulo. O empresário prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Transporte Coletivo na manhã desta quinta-feira, na Câmara Municipal de São Paulo. Costa reiterou também que não pagou propina a políticos e funcionários públicos - em referência a denúncias de que seis membros do PSDB e partidos da base do governador paulista Geraldo Alckmin teriam ligação com o esquema.
"Todos os nossos contratos de consultoria são legais. Serviços foram prestados e pagos em função desses serviços. Não acreditamos e não acredito que tenha havido esse procedimento. Eu não era responsável pela empresa na época, mas não acredito que tenha havido esse desvio mencionado", disse Costa, presidente da Alstom desde setembro de 2012 e funcionário da empresa desde 2006.
O atual presidente da empresa negou também participação de um cartel. Costa reafirmou a negativa em relação às irregularidades e, com a orientação de dois de seus advogados presentes na CPI, disse que não tem a intenção de processar os denunciantes do esquema e jornalistas.
"A Alstom não participa de cartel. E não vê indícios de formação de cartel. Não posso dizer sobre supostas empresas que participaram de algo que não participamos. Não temos essa identificação de desvio de conduta de funcionários. Os consultores prestaram serviços e não temos identificado nenhuma irregularidade. Existem investigações em curso. Os jornais fazem acusações, e em todas as investigações para as quais a Alstom é chamada em intimações, estamos cooperando com todos os órgãos públicos", disse.
O vereador Milton Leite (DEM), um dos membros da comissão parlamentar, disse que a Alstom é uma "organização criminosa" e questionou Marcos Costa em relação ao histórico da empresa francesa, segundo ele processada em vários países por pagamento de propina. De acordo com o parlamentar, o Banco Mundial impediu a empresa francesa de participar de alguns projetos por "desvio de conduta" de alguns de seus funcionários.
"O mesmo processo encerrado na Suíça reconheceu que o código de ética implantado na empresa desde 2001 é adequado. Houve um suposto desvio de conduta de um consultor que poderia ter suscitado dúvida. Nada foi provado contra a Alstom e, em função disso, o Banco Mundial não permitiu que participasse de nenhum projeto. A Alstom não recorreu e aceitou a decisão. Estamos contribuindo com o banco para aprimorar nossos procedimentos de ética e temos adotado medidas que visam melhorar nosso código", completou.
O presidente da CPI, Paulo Fiorilo (PT) não ficou nada satisfeito com a posição de Marcos Costa na Câmara Municipal de São Paulo. "A ação feita pelo presidente é dizer que desconhece, contra várias evidências apresentadas. Mas é uma opção dele. Cabe à CPI, no que diz respeito à questão do custo e com relação às tarifas, continuar com suas perguntas", afirmou Fiorilo.
Os membros da comissão levantaram também o nome de José Luiz Alquerez, ex-presidente da Alstom. Nos autos do inquérito da Polícia Federal, constam e-mails da autoria de Alquerez em que ele recomenda o uso dos serviços do lobista Artur Teixeira a outros dirigentes da empresa. Nas mesmas mensagens, o ex-presidente fala do bom relacionamento com políticos paulistas. Marcos Costa, atual gestor da Alston, revelou que Alquerez ainda é funcionário da empresa, atuando no conselho estratégico.
"Ele (Marcos Costa) trouxe uma informação nova. O Alquerez continua como conselheiro desde 2006, portanto, se de fato os e-mails existem e são reais, cabe à Alstom inquiri-los, e vamos avaliar. Até porque o escopo é discutir de que forma isso pode interferir no preço das tarifas, até para evitar a politização do debate", disse Fiorilo.
O vereador Eduardo Tuma (PSDB), vice-presidente da CPI dos Transportes, não acredita que a presença do presidente da Alstom ajudará no motivo real da comissão: verificar as planilhas do transporte paulista. "Continuamos fugindo do escopo da CPI que visa analisar as planilhas de custo de transporte coletivo da cidade de São Paulo. A Alstom não tem contrato com a prefeitura e, mesmo assim, todos os contratos dos quais faz parte no governo do Estado não influenciam em nada na planilha de custo. Mais uma vez, existe instrumento de pressão política para tentar atingir o governo do Estado de São Paulo", disse Tuma.