Crianças desaparecidas no RJ foram mortas por traficantes

Lucas Matheus, de 9 anos, Alexandre Silva, de 11, e Fernando Henrique, de 12, moravam na favela do Castelar, em Belford Roxo

10 set 2021 - 18h27
(atualizado às 18h38)

A Polícia Civil do Rio de Janeiro afirma ter esclarecido o desaparecimento das três crianças que moravam em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, e estão sumidas desde 27 de dezembro. Segundo o secretário estadual de Polícia Civil, Allan Turnowski, Lucas Matheus, de 9 anos, Alexandre Silva, de 11, e Fernando Henrique, de 12, foram mortos por traficantes da facção criminosa Comando Vermelho devido ao suposto envolvimento em um furto de passarinhos.

O responsável por ordenar os assassinatos foi morto, meses depois, porque, ao pedir aos próprios chefes autorização para os crimes, não informou que as vítimas eram crianças. Os chefes temeram que a repercussão do caso prejudicasse o tráfico no bairro em que as crianças moravam.

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Crianças desaparecidas no RJ foram mortas por traficantes
Crianças desaparecidas no RJ foram mortas por traficantes
Foto: Reprodução

As três crianças eram amigas, moravam com suas famílias na favela do Castelar, em Belford Roxo, e na manhã de 27 de dezembro saíram de casa para brincar juntos no campo de futebol vizinho ao condomínio onde moravam. Como eles não voltaram para o almoço, seus familiares estranharam, foram procurá-los no campo e constataram o desaparecimento. Passaram a tarde e a noite procurando os meninos em hospitais, delegacias e até no Instituto Médico Legal, sem sucesso. No dia seguinte eles registraram o caso na Polícia Civil, que iniciou as investigações.

A última imagem dos meninos mostra o trio caminhando juntos pela rua Malopia, no bairro Areia Branca, em Belford Roxo, no próprio dia 27. Essas imagens só foram localizadas em março - três meses após o desaparecimento deles, portanto.

Em janeiro, familiares das crianças levaram um homem à Polícia Civil e o acusaram de estar envolvido no desaparecimento. Mas os investigadores concluíram que o homem era inocente. Em maio, a polícia fez uma operação na favela do Castelar e prendeu 17 suspeitos, mas não foi divulgada nenhuma ligação entre as prisões e o caso do sumiço.

Em julho, um homem afirmou que os corpos das crianças haviam sido jogados em um rio, acondicionados em um saco preto. A polícia fez buscas e achou um saco com restos mortais, mas exames de DNA indicaram se tratar de animais e não das crianças.

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Desde o início das investigações, uma das hipóteses era de que as crianças haviam sido mortas por traficantes do próprio bairro onde moravam, depois de furtar uma gaiola com passarinhos de um parente de um dos traficantes. Segundo Turnowski, essa linha de investigação se confirmou. "Os traficantes do Castelar mataram essas crianças autorizados pela cúpula da facção criminosa. O que a gente tem é que, quando pediu autorização para as chefias do tráfico que estavam presas para punir aquelas crianças, não foi falado que eram crianças", disse à TV Globo o secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski.

O responsável pela morte teria sido Willer da Silva, conhecido como Estala, um dos chefes do tráfico na região do Castelar. Ele havia pedido autorização a chefes que estavam presos, sem dizer que as vítimas dos assassinatos eram três crianças. Por isso, depois do crime, Silva foi morto por traficantes do mesmo grupo no complexo da Penha, na zona norte do Rio.

O mandante dessa morte seria Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, que estava preso na penitenciária Vicente Piragibe, no complexo de Gericinó, em Bangu (zona oeste do Rio), e no dia 27 de julho conseguiu sair da prisão, mesmo tendo ordens de prisão em vigor, por um esquema de corrupção na secretaria estadual de Administração Penitenciária - em agosto o então secretário Raphael Montenegro foi exonerado e preso.

O inquérito sobre o desaparecimento das crianças ainda não foi concluído, mas deve ser nas próximas semanas, segundo a polícia.

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