SÃO PAULO - A Defesa Civil descartou a possibilidade de desabamento, na tarde desta terça-feira, 7, de dois prédios residenciais interditados na Aclimação, zona sul da cidade de São Paulo. O edifício Norma foi evacuado já na segunda-feira, 6, enquanto o outro, chamado Ernani, teve os moradores removidos na manhã desta terça-feira. O risco de colapso nas edificações foi descartado após análise técnica de uma equipe de engenheiros da Defesa Civil.
Como os prédios, que são geminados, ficam em um barranco de cerca de 12 metros, um talude de concreto era responsável por conter a terra. Essa estrutura cedeu na manhã desta terça, um dia após o edifício Norma ser interditado por causa de rachaduras em parte de uma estrutura de vigas.
Ao despencar, o talude derrubou a passarela de entrada dos moradores do edifício Norma. As edificações têm 16 pavimentos (dos quais 15 são de apartamentos e um é de garagem). Quatro andares ficavam abaixo do nível da rua.
Segundo o coordenador-geral da Defesa Civil da capital, coronel Edernald Arrison de Souza, o deslizamento foi "possivelmente provocado por uma umidade". "Não tivemos a drenagem dessa umidade e, com a deficiência da resistência daquela encosta, nós tivemos um deslizamento", disse.
O coronel descarta risco de desabamento em nenhuma das duas edificações. "Nós vamos acompanhar por 24 horas para ver a progressão. Hoje, o prédio está seguro", garante. "Não houve abalo da estrutura do prédio."
Para conter um novo deslizamento, uma estrutura de plástico deve ser colocada. Segundo o coronel, uma "análise mais detalhada" apontará o motivo do incidente.
O coronel declarou, ainda, que a interdição do edifício Ernani ocorreu apenas um dia depois do Norma porque até então "não havia nenhum sinal" de que "estaria em risco". "Nós temos que proteger a integridade física das pessoas, então, por cautela, a Defesa Civil entende que devemos retirar todas as pessoas."
Os edifícios ficam localizados na Rua Nicolau de Sousa Queirós, a um quilômetro do Parque da Aclimação. Idênticos, com exceção das diferenças de cores (laranja e verde), tinham 60 apartamentos cada um ano. Segundo a Defesa Civil, 116 famílias moravam nas duas construções, que têm cerca de 50 anos.
Na tarde de terça-feira, os moradores puderam retirar pertences de ambos os prédios. A rua deve permanecer interditada pela Companhia de Engenharia de Trafego (CET) ao menos até a tarde de quarta-feira, 8. No local, vizinhos chegaram a montar uma mesa de café, com lanches, e oferecer cobertores.
Segundo o Corpo de Bombeiros, ao menos oito viaturas com 24 homens trabalharam no local. O fornecimento de água, energia elétrica e gás foram cortados. Parte dos apartamentos localizados abaixo do nível da rua foi atingida pela água e pela terra durante o deslizamento.
O prefeito regional da Vila Mariana, Benedito Mascarenhas, informou que os síndicos dos prédios foram orientados a contratar análises técnicas privadas, pois, à Prefeitura, caberia apenas verificar o risco de desabamento do edifício.
Moradores relatam que um cano teria rompido na segunda-feira, enquanto outros falam também de uma obra feita na estrutura do talude há uma semana - o que não foi confirmado pela Defesa Civil.
Moradores ouviram estrutura de prédio rachar
O edifício Norma foi interditado na segunda-feira devido à rachadura de ao menos uma viga, o que teria causado um tremor e um estrondo, de acordo com relato de moradores. Ainda pela manhã, os Bombeiros e a Defesa Civil foram ao local e determinaram a retirada dos moradores, que teriam sido orientados a levar mantimentos para três dias.
A empresária Isabela Salazar, de 38 anos, diz que sua cozinheira ouviu o barulho da rachadura e sentiu um tremor. O apartamento fica no terceiro andar da parte subterrânea. "Foi um caos, a pior sensação da vida, uma loucura", conta.
A pedagoga Ana Paula Abate, de 43 anos, veio conferir se o Edifício Norma corria risco de desabar. Ela viveu no local durante a infância e a adolescência, onde sua mãe, Elisabeth, de 77 anos, reside há quase 50 anos. Como a garagem dos dois prédios é separada apenas por um portão, ela conseguiu retirar o automóvel da mãe do local. Segundo Ana Paula, Elisabeth tem um "apego" pelo prédio. "É uma perda muito grande de repente."
Moradora do edifício Ernani há cinco anos, a enfermeira Veruska Montenegro, de 50 anos, soube da evacuação do prédio por volta das 11 horas, quando voltava do trabalho. "A única coisa que eu quero que está lá e o gato, porque o resto a gente conquista", diz sobre a gata Minerva, adotada ainda filhote, há cinco anos. Pela tarde, o animal foi retirado sem ferimentos do local.
"A gente se preocupa, se não deixarem entrar, não tem nem comida suficiente", diz. "Sou muito apaixonada por ela." Veruska conta que, quando chegou em casa, a noite, achava que o prédio vizinho já estaria liberado.
Já a aposentada Maria de Lourdes Silva, de 70 anos, reside há 12 anos no edifício Ernani, junto de um dos filhos. "Estava na rua, com o cachorro. Saí para levar ele na rua e, quando voltei, o zelador disse que uma das colunas estava estourando", conta.
Pela tarde, ela conseguiu entrar no edifício e retirar os pertences mais essenciais, como roupas, remédio e cobertorese, além da ração e da caminha do cachorro Totti, de 7 anos.