O dentista brasileiro Daniel Felipe Cervelati do Amaral, que morava em Portugal há mais de 20 anos, foi morto em São Paulo ao vir para o Brasil passar um tempo com os pais. A vítima foi assassinada a tiros por criminosos ligados ao PCC, em fevereiro deste ano, após ser vítima do chamado "golpe do amor". O caso foi revelado inicialmente pelo colunista Josmar Jozino e confirmado pelo Terra.
Na última quarta-feira, 26, quatro criminosos identificados pela Polícia Civil foram condenados a mais de 40 anos de prisão, cada um. A decisão foi da juíza Carla de Oliveira Pinto Ferrari, da 20ª Vara Criminal de São Paulo. Um quinto suspeito, que é apontado como mentor do crime, segue foragido.
Conforme consta no processo ao qual o Terra teve acesso, a irmã de Daniel relatou que ele estava visitando os pais no Brasil à época do crime. Como o pai tem câncer em estágio avançado, os irmãos se revezavam para acompanhá-lo.
Segundo a família, por volta das 18h do dia 23 de fevereiro, Daniel saiu de casa dizendo que iria encontrar amigos. Depois disso, uma das três cuidadoras do pai dele recebeu três chamadas por volta de meia-noite, mas não viu.
No dia seguinte, no período da manhã, após ser ameaçado de morte, Daniel ligou na casa, por volta das 7h, falando para uma das cuidadoras que tinha sido pego em uma blitz e que precisava de seus documentos e carteira.
Segundo a cuidadora, ele a avisou que mandaria um carro por aplicativo para buscar as coisas e não retornou para casa. Até então, a família não sabia do desaparecimento, mas seus pais estavam preocupados.
Quando estava sendo mantido preso no cativeiro, os criminosos fizeram várias compras com um cartão de crédito internacional de Daniel. Eles se revezavam para vigiá-lo e queriam deixá-lo mais tempo lá para conseguir tirar mais dinheiro dele.
No entanto, durante a tarde do dia 24 de fevereiro, o dentista percebeu que tinha apenas um criminoso na residência e tentou fugir. Ele entrou em luta corporal com o sequestrador e foi baleado no peito e no abdômen. O ladrão fugiu em seguida, mas a vizinhança ouviu o barulho de disparo e acionou a Polícia Militar. A vítima chegou a ser socorrida, mas não sobreviveu.
Investigações
O caso foi investigado pela equipe da 4ª Cerco (Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas), da qual o delegado Ronald Quene Juy Saia Justiano é responsável.
O delegado foi informado que a vítima havia dito aos policiais militares que teria marcado um encontro em um aplicativo de namoro, mas que acabou sendo sequestrada, reagiu e foi baleada.
A autoridade policial então pediu que os policiais colhessem filmagens do entorno do local do crime. Durante esse trabalho investigativo, a equipe descobriu que o espaço onde ocorreu o homicídio era alugado para um rapaz, identificado como Ederson Carvalho de Barros, vulgo "Gordo".
Uma câmera obtida pelos policiais registrou a vítima entrando na residência por volta das 21h20, e Ederson aguardando o dentista nesta casa. Nas imagens, também foi possível ver um suspeito fugindo após os disparos feitos contra a vítima. Uma testemunha identificada pela Polícia Civil confirmou que esse rapaz era Paulo Cesar da Silva Ferreira, conhecido como "chupa-rato".
A polícia conseguiu prender Paulo, que confirmou a participação no crime a alegou que Ederson era o mentor e que fazia aquilo há algum tempo e naquele mesmo imóvel.
O homem ainda apontou outro suspeito, chamado Thiago de Oliveira Silva, que, segundo ele, era quem criava os perfis falsos em redes sociais e aplicativos de namoro. Thiago foi preso pela delegacia de antisequestro por um crime parecido.
Pelas imagens, a políca também chegou a outro integrande do grupo criminoso, Rafael Ourives Rodrigues. Já no carro da vítima, a perícia localizou as digitais de Anderson Rodrigues Ribeiro, preso posteriormente com uma arma compatível com as munições do local do crime.
Um outro envolvido identificado ao longo das investigações, João Vitor, confessou participação no crime e disse que foi contratado apenas para vigiar a vítima. Ele alegou que veio de São Carlos e estava participando de sequestros via Tinder. Além disso, apontou um adolescente envolvido no caso. As digitais de ambos foram encontradas no cativeiro.
Tanto Anderson, quanto Ederson, foram apontados pelos criminosos como integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).
Após decisão da Justiça, Paulo César foi condenado a 44 anos de prisão; Anderson Ribeiro terá que cumprir 46 anos em regime fechado; Rafael foi condenado a 47 anos e três meses e João Vitor, a 37 anos e nove meses de reclusão.
Golpe do Amor
O número de pessoas vítimas dos chamados "golpes do amor" tem crescido e já aparece em alguns tribunais. A armadilha geralmente acontece da mesma forma. O criminoso cria perfis falsos nos aplicativos de namoro e aborda possíveis vítimas com um papo envolvente para extorquir dinheiro. Assim, ele acaba por induzi-la a fazer transferências bancárias e até a enviar fotos íntimas para depois chantageá-la.
Em alguns casos, os criminosos enganam as vítimas a partir de encontros falsos organizados pelo aplicativo Tinder ou pelas redes sociais, para sequestrá-las e roubá-las.