Dia da Independência é marcado por confrontos e prisões pelo País

7 set 2013 - 19h53
(atualizado às 23h29)
São Paulo - Manifestantes formados em sua maioria por integrantes do Black Bloc entraram em confronto com policiais militares na capital paulista
São Paulo - Manifestantes formados em sua maioria por integrantes do Black Bloc entraram em confronto com policiais militares na capital paulista
Foto: Bruno Santos / Terra

Assim como era esperado, por conta do agendamento de eventos nas redes sociais, manifestantes tomaram as ruas de diversas cidades do País neste sábado, durante a celebração do feriado de 7 de Setembro. Também prevista era a ação de pessoas ligadas ao movimento Black Bloc, que, principalmente no Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, protagonizaram atos de vandalismo e entraram em confronto com a Polícia Militar

No Rio de Janeiro, os Black Blocs conseguiram furar o bloqueio policial e invadiram o desfile militar pelo Dia da Independência. Cerca de 15 homens da Tropa de Choque da PM chegaram  por trás dos manifestantes e lançaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o grupo, atingindo também alguns dos espectadores.

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Rio de Janeiro
Foto: Mauro Pimentel / Terra

O confronto entre o grupo e a PM espantou o público que assistia ao desfile.  Muitas crianças passaram mal e foram atendidas pelos socorristas. Houve corre-corre e confusão, e famílias e crianças saíram correndo do local desesperadas. 

Durante o tumulto, ao menos oito pessoas foram presas e seis ficaram feridas. Policiais revistaram mochilas de manifestantes e detiveram alguns por uso de máscaras, até que se identificassem.

Segundo a Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro, até as 20h10, 77 manifestantes foram encaminhados à delegacias na capital fluminense. Do total, 50 manifestantes foram detidos no bairro de Laranjeiras. 

Brasília

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Na capital federal, 39 manifestantes foram detidos pela PM em meio às manifestações até as 20h10. A polícia usou muitas bombas de efeito moral, além de tiros de borracha, para afastar manifestantes que tentavam se aproximar do Estádio Nacional Mané Garrincha, onde a Seleção Brasileira fez amistoso contra a Austrália.

Enquanto representantes negociam passagem com a PM, manifestantes aguardam parados
Foto: Gustavo Gantois / Terra

Um grupo de cerca de 500 integrantes se concentrou no início da tarde na rodoviária da cidade e seguiu à arena horas antes da partida. Houve registros de quebra-quebra e vandalismo no caminho, o que levou a polícia a desfazer uma primeira linha de bloqueio e recuar, aumentando a segurança no entorno do Mané Garrincha para evitar a maior aproximação.

Por volta das 14h30, manifestantes conseguiram furar parte do bloqueio formado no eixo monumental e chegaram à altura da Torre de TV, nas proximidades do Mané Garrincha. O batalhão de choque disparou bombas de gás para afastar e dispersar os manifestantes. 

Durante o confronto entre policiais e manifestantes, um fotógrafo torceu o pé, caiu e viu PMs se aproximarem com cães. Após o incidente, houve confusão entre repórteres e policiais, que usaram spray de pimenta. O jornalista ferido foi levado em uma viatura do choque para o hospital.

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São Paulo

Em São Paulo, os protestos se concentraram na região central da capital paulista. Manifestantes se reuniram no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), e partiram em passeata, seguindo pela avenida 23 de Maio.

Quando as pistas da 23 de maio foram fechadas, em meio a uma correria, vários motoristas, surpresos com a invasão, acabaram ficando sem saber o que fazer. Dois que vinham na frente, na tentativa de escapar, tiveram os carros atingidos por barras de ferro.

Homem foi atropelado em protesto em São Paulo neste sábado
Foto: Taba Benedicto / Futura Press

Em meio à correria, até o carro do comando de área da Polícia Militar, teve o vidro de trás estilhaçado por um manifestante. No trajeto, pedras foram arremessadas contra policiais e até contra veículos que passavam nas alças acima da avenida. 

Quando o grupo chegou ao centro, a situação ficou mais tensa. Em frente à Câmara Municipal de São Paulo, bastaram 3 minutos para que a confusão começasse. Em um primeiro momento, manifestantes começaram a atirar pedras contra as vidraças do prédio. Algumas janelas foram atingidas com êxito.

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A Polícia Militar, que já cercava o prédio, respondeu rapidamente, com bombas de efeito moral e de gás lacrimogênio ao mesmo tempo em que eram atacados com pedras, bolas de gude e bolas de chumbo, utilizadas em pescarias.

Enquanto parte do grupo se dispersou, outra partiu para o enfrentamento, atirando pedras de todos os tamanhos contra os policiais. Nesse momento, uma cena chamou a atenção. Vários policiais revidando as pedradas com as mesmas pedras arremessadas pelos manifestantes. 

Um grupo grande se dirigiu à região da Praça da Sé, quebrando tudo o que via pela frente. Dezenas de lixeiras, telefones públicos e fachadas de agências bancárias ficaram totalmente destruídas.

São Paulo - São Paulo Homem quebra vidro de viatura durante manifestação
Foto: Bruno Santos / Terra

Na região da praça da Sé, quatro pessoas foram atropeladas, uma delas por uma viatura da Polícia Militar. O motorista de um Corsa atropelou duas pessoas, que sofreram fraturas nas pernas. Elas tiveram um primeiro atendimento por um grupo de médicos solidários à manifestação e, com a demora do resgate, foram levados em um táxi para o hospital.

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O caso mais grave da tarde aconteceu na praça João Mendes, quando manifestantes derrubaram um policial militar de uma moto. Acuado, ele sacou um revólver e atirou contra o chão. Estilhaços atingiram o fotógrafo da agência Futura Press Tércio Teixeira, que foi socorrido no Grupamento do Corpo de Bombeiros que fica praticamente em frente de onde ocorreu o fato. Depois disso, ele foi encaminhado para a Santa Casa. Um estilhaço ficou alojado em seu queixo.

Até as 20h50, ao menos 28 pessoas haviam sido detidas na avenida Paulista e nove na região central.

Belo Horizonte

Em Belo Horizonte, a PM afirmou que 40 adultos foram detidos e seis adolescentes apreendidos durante as manifestações na cidade. 

Os integrantes do movimento Black Bloc foram identificados e separados dos demais manifestantes, já que há uma investigação contra eles desde os protestos de junho. Eles podem ser autuados também por formação de quadrilha, além de depredação e desacato.

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Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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