A disponibilidade hídrica da bacia do rio Paraíba do Sul está longe de ser confortável. Antes de pensar em desviar água do manancial para o Estado de São Paulo, o Rio de Janeiro tem que encontrar soluções que façam frente às projeções de expansão da demanda no próprio Estado, que deverá crescer cerca de 40% em menos de 20 anos, mostra o Plano Estadual de Recursos Hídricos feito pelo Instituto Luiz Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio (Coppe-UFRJ). O plano foi feito a pedido da Federação das Indústrias do Estado (Firjan), com o objetivo de avaliar a situação de abastecimento de água a médio e longo prazos.
Foi o que disse o gerente de Meio Ambiente da Firjan, Luiz Augusto Azevedo, em resposta à posição do governador paulista, Geraldo Alckmin, que apresentou como alternativa à baixa vazão do Sistema Cantareira a possibilidade de captar água do rio Paraíba do Sul, que nasce naquele Estado, para abastecer a Grande São Paulo.
Segundo Azevedo, a proposta do governador paulista é parte de um estudo contratado pelo governo de São Paulo em 2008, divulgado em 2010, que aponta nove alternativas para o abastecimento de água em São Paulo. Duas dessas propostas envolvem a captação de água do Paraíba do Sul.
“É importante deixar claro que, ao contrário do que a maioria acha, a disponibilidade hídrica da bacia do rio está longe de ser confortável. A gente já tem hoje, em diversos trechos, regiões onde, principalmente na época de seca, a disponibilidade hídrica é reduzida drasticamente tanto no Estado do Rio quanto em algumas cidades de São Paulo”.
O ambientalista da Firjan cita, particularmente, a região de São José dos Campos e o Vale do Paraíba, na região de Barra do Pirai, onde a vazão do rio cai drasticamente, de tal forma que na época de seca fica difícil até tratar a água.
“Na Foz do Paraíba do Sul, na região de Atafona, em Campos, uma pressão muito grande da água do mar entrando, em função da baixa vazão do rio, chega a inviabilizar a irrigação da agricultura e criação de animais em uma extensão muito grande por causa da salinização da água”, lembra.
Na avaliação do gerente de Meio Ambiente da Firjan, hoje qualquer retirada de água do Paraíba do Sul vai necessariamente afetar a operação dos reservatórios existentes ao longo do rio – estejam eles ligados ou não às usinas de geração de energia elétrica.
“E esses reservatórios têm um papel importante na regularização do fluxo da água para o controle das cheias. Então é possível que, mexendo nessa vazão, a gente perca a capacidade de controle da situação e fique mais exposto a eventos extremos: a seca em períodos de seca, a enchentes em períodos chuvoso, sem contar que essa operação influencia diretamente a geração de energia elétrica - e a gente tem problemas de energia, o que pode agravar ainda mais a situação”.
Azevedo lembra ainda que o estudo do governo de São Paulo traça um cenário até 2035, enquanto o do Rio de Janeiro procurou comparar esse estudo com o Plano Estadual de Recursos Hídricos feito pela Coppe e que projeta o cenário para um horizonte até 2030. “E aí a situação fica ainda mais complicada porque, com a demanda por água no Estado do Rio até 2030 aumentando cerca de 40% em menos de 20 anos, nós não teríamos alternativas de abastecimento.”
O ambientalista da Firjan destaca que o estudo paulista mostra nove alternativas e sete delas não envolvem o Paraíba do Sul. "Nós não temos alternativa ao Paraíba do Sul. Ele é o único manancial com capacidade suficiente para abastecer a população e prover as outras necessidades do Estado. Não temos de onde tirar água se não for do Paraíba do Sul e aí você pode ver a nossa preocupação. Enquanto São Paulo tem, repito, sete alternativas que não a do Paraíba do Sul.” Para Azevedo, são "impraticáveis as pretensões do governo Alkimin de desviar água do Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira”.
Em sua opinião, antes de falar em obras para desviar a água do Paraíba do Sul é necessário tentar compatibilizar o estudo de São Paulo como o de Visão de Futuro, elaborado a pedido da entidade: “Tentar encaixar as duas coisas e ver se continua fazendo sentido essa proposta do Alkimin, ponderados todos os problemas decorrentes.”
Embora o estudo elaborado pela Coppe ainda não apresente alternativas para a situação do Rio, em face das projeções do crescimento da demanda por água, as alternativas que se apresentam vão desde a redução de perdas à otimização dos processos. “O estudo que foi feito pela Coppe não se aprofunda nesses aspectos e não sei dizer quais são as alternativas. Esse é um trabalho que a gente vai ter que fazer em um futuro próximo. Mas elas caminham pela otimização, pela redução dos desperdícios, economia, pelo reuso da água.”
Para Luiz Augusto Azevedo, porém, uma necessidade se impõe. “Há que se encontrar formas de garantir o atendimento ao aumento da demanda no Rio e não desviar água para outro Estado - principalmente se esse Estado tem outras alternativas, outras opções, indicadas pelo próprio estudo que eles fizeram”.