O médico cancerologista Drauzio Varella publicou nesta semana em seu portal um vídeo no qual critica fortemente os estupros denunciados por alunas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), instituição na qual ele se formou.
No vídeo, o médico manifesta seu repúdio àqueles que culpam as mulheres pelos estupros sofridos. “Quando acontecem esses casos de estupro, todo mundo acha que a mulher tem uma culpa nessa história toda, principalmente quando ela bebeu. Eu fico chocado com esse tipo de interpretação. Eu já muitas vezes bebi, passei do ponto também e nunca fui estuprado. E não conheço nenhum homem que tenha sido estuprado nesse tipo de situação”, diz Drauzio. “Homem nenhum tem esse direito. Ele não pode se aproveitar de uma mulher porque ela bebeu; nem pode se aproveitar de uma mulher porque ela apareceu vestida de um jeito que estimulou a sua fantasia. Estupro é crime”, continua.
Drauzio diz ainda que, como aluno da FMUSP, se sente “envergonhado” com as denúncias. Segundo ele, o caso chocou a sociedade por envolver profissionais da medicina. “Nós, médicos, temos acesso ao corpo das pessoas, ao corpo dos pacientes. E os pacientes e as pessoas de um modo geral têm que ter confiança de que nós não vamos abusar delas, de que nós vamos respeitá-las independentemente do fato de elas estarem bêbadas, anestesiadas ou drogadas.”
O médico ainda faz questão de lembrar que a prática de estupro é crime previsto pelo Código Penal brasileiro e, em uma de suas falas mais fortes, o autor do livro “Estação Carandiru” lembra que, nas penitenciárias, os estupradores são alvo de atos de crueldade pelos demais presos. “Na cadeia, e eu digo por experiência, eles matam, mas antes de matar eles estupram os estupradores. Tanto que todos os estupradores presos no Estado de São Paulo vão para uma cadeia especial. Eles não têm condição de sobrevivência. Estupro é crime, não interessa se quem praticou foi branco, foi preto, tem dinheiro, estudou ou não estudou”, diz.
Entenda o caso
As denúncias de estupro em festas e trotes da FMUSP vieram a público por meio de audiências realizadas pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Até agora ao menos quatro casos de estupro no âmbito da FMUSP estão sendo investigados.
Além de abuso sexual, denúncias de casos de racismo, homofobia e misoginia – ocorridos especialmente em eventos da Associação Atlética Oswaldo Cruz (AAOC) e do Show Medicina – estão sendo apurados em um inquérito civil instaurado pelo Ministério Público de São Paulo.
A partir dessas denúncias, a Comissão de Direitos Humanos da Alesp, presidida pelo deputado Adriano Diogo (PT), conseguiu nesta semana aprovar a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar denúncias de violações de direitos humanos em todas as universidades do Estado.