O homem e a mulher que foram presos ao serem encontrados com um bebê de dois anos que havia desaparecido em Santa Catarina se conheceram em um grupo de interessados em adoção, afirma a Polícia Militar de São Paulo. A prisão aconteceu em São Paulo, na noite da segunda-feira, 8.
A investigação indica que a mulher envolvida teria interesse em adotar Nicolas, o bebê. Em meio a isso, o homem detido teria feito uma intermediação entre a mãe do bebê e a mulher, apresentando até mesmo a certidão de nascimento original da criança.
Ainda não se sabe se o caso se trata de um sequestro ou de uma tentativa de tráfico humano e venda de criança, podendo envolver uma rede organizada. Nesta terça-feira, 9, as polícias Civil e Militar de Santa Catarina reforçaram que a tipificação do crime apenas será definida após a conclusão das investigações.
De acordo com os depoimentos colhidos, a mãe de Nicolas teria entregue o bebê à dupla que ela conheceu nas redes sociais. O que não se sabe é se ela recebeu dinheiro pelo ato. Ela continua sendo investigada, e as autoridades afirmam que só terão certeza dos fatos quando houver a queda do sigilo bancário de todos os envolvidos.
Entenda o caso
Tudo começou na noite de sexta-feira, 5, quando tios e a avó do bebê foram à delegacia registrar o desaparecimento da criança. Ele tinha sido visto pela última vez no dia 30 de abril. Os familiares levavam o celular da mãe de Nicolas, para tentar achar alguma pista sobre onde ele poderia estar.
"Eram 21h de sexta e nós estávamos na polícia científica tentando abrir o celular que nos foi entregue”, disse a delegada Sandra Mara, responsável pelo caso na Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (Dpcami).
O aparelho foi desbloqueado cerca de 1h30 depois. Nele, a polícia encontrou indícios de que a mãe do bebê estava sendo aliciada para entregá-lo há cerca de dois anos. “Nós vimos que houve um assédio à vítima para que ela entregasse a criança”, afirmou Sandra Mara.
A mãe, que tem 22 anos, também está sendo investigada. A polícia ainda não sabe se ela recebeu algum tipo de benefício para entregar a criança. O que tem sido repetido é que ela possui uma “fragilidade emocional e psicológica”. O bebê está registrado apenas no nome da mãe.
A mãe de Nicolas estava internada quando o filho desapareceu. Com aval dos médicos, ela pôde prestar depoimento à polícia e disse ter sido convencida a entregar o bebê a um casal. Ela ainda negou ter recebido algum tipo de vantagem.
Dupla que levou Nicolas
Para chegar até a dupla que levou o bebê, as polícias Civil e Militar precisaram pedir a quebra de sigilo de aplicativos de deslocamento - Uber e 99 Táxi - para traçar os últimos passos da mãe com o menino. A agilidade das instituições foi essencial nesse momento.
Com essas informações, os policiais chegaram até imagens de um carro saindo de um restaurante na cidade de São José, na Grande Florianópolis, e acompanharam seu trajeto até a cidade de São Paulo. As mesmas pessoas que levaram Nicolas do município catarinense são as que foram presas em São Paulo.
Os dois, que não são um casal, estavam rodando com placa adulterada em Santa Catarina. Porém, ainda assim, a Polícia Rodoviária Federal conseguiu fazer o monitoramento de placas até a chegada no Estado de São Paulo.
O delegado-geral da Polícia Civil de Santa Catarina, Ulisses Gabriel, não acredita que a dupla ficaria com o bebê. "Seria um aliciador e uma pessoa que ficou com a guarda da criança em São Paulo", explica.
Ao que tudo indica, eles teriam decidido entregar a criança às autoridades depois da repercussão que o caso teve na imprensa. Quando estavam a caminho do Fórum de Tatuapé, em São Paulo, foram presos em flagrante.
Afinal, qual crime cometeram?
A dupla que estava com Nicolas foi presa em flagrante por tráfico de menores. Com relação à mãe do bebê, a polícia ainda não sabe precisar. Existem alguns fatores a serem analisados, como se ela recebeu ou não dinheiro por ter entregue o bebê ao casal.
Além disso, há a possibilidade do caso ter alguma relação com uma rede de tráfico de crianças.
Quando Nicolas volta para casa?
Por enquanto, o menino Nicolas está sob os cuidados do Conselho Tutelar de São Paulo. Como o mandado de busca foi cumprido em São Paulo, a jurisdição indica que a responsabilidade passa a ser do Estado em que a criança está, apesar de a avó materna do menino ter uma determinação para ficar com a tutela provisória do bebê.
"Nós já podemos assegurar que ele se encontra em lugar seguro, e todas as providências estão sendo tomadas para que muito em breve ele retorne ao nosso Estado", garantiu o secretário de Segurança Pública de Santa Catarina (SSP-SC), Paulo Cezar Ramos de Oliveira.
Quando o retorno de Nicolas for autorizado pela Justiça, a SSP-SC deverá assegurar uma equipe multidisciplinar para levar o menino para casa em segurança.