'Ele pediu para não ir à manifestação', diz amigo de Santiago Andrade

13 fev 2014 - 11h05
(atualizado às 18h09)

Santiago Andrade, cinegrafista da TV Bandeirantes morto após ser atingido por um rojão em uma manifestação no Rio de Janeiro, não gostava de cobrir esse tipo de assunto. A declaração foi dada pelo também cinegrafista da Band Adeílton Macedo, amigo de Santiago há mais de 10 anos. "Ele não gostava disso (protestos), ele sempre pedia para não ir. Até no dia que aconteceu tudo isso, ele pediu para não ir, que já tinha passado a hora dele. Ele foi, e não voltou", falou.

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Adeílton trabalha no período da manhã e sempre encontrava o colega Santiago na passagem de turno, um dos poucos momentos em que os profissionais não estavam na rua. “Santiago era um cara sem igual. Não tinha maldade, era um cara amigo. Toda vez que eu chegava da rua, ele chegava para trabalhar. A gente ficava batendo papo, era sagrado esse momento”, falou.

Seu último encontro com o amigo aconteceu quando Santiago deu uma carona para Adeílton, que estava sem carro justamente no dia da manifestação. “Na quinta-feira, no dia da morte dele, eu falei: ‘Santiago, estou sem carro’. Ele disse para eu não esquentar, que ele me levaria em casa. Ele me chamava de parceiro. Para ele, todo mundo era parceiro”, disse.

Ele pediu pra não ir, diz colega do cinegrafista Santiago sobre dia do protesto
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Ainda abalado com a morte do companheiro de profissão, o cinegrafista disse que há um vazio muito grande deixado por Santiago e o medo em cobrir eventos que possam colocar a classe jornalística em risco.  "O sentimento entre nós está péssimo em tudo que é sentido. A gente olha, vê o vazio do Santiago e vê os perigos que você corre hoje. Você não tem um apoio", completou.

A cremação do corpo de Santiago foi marcada para as 11h desta quinta, em cerimônia reservada à família. Os órgãos do cinegrafista foram doados. A família informou que esse era o desejo dele.

Atingido em protesto, cinegrafista tem morte cerebral

Santiago foi atingido na cabeça por um rojão durante a cobertura de um protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Centro do Rio de Janeiro, no dia 6 de fevereiro. Além dele, outras seis pessoas ficaram feridas na mesma manifestação.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, o cinegrafista chegou em coma ao hospital municipal Souza Aguiar. Ele sofreu afundamento do crânio, perdeu parte da orelha esquerda e passou por cirurgia no setor de neurologia. A morte encefálica foi informada pela secretaria no início da tarde de 10 de fevereiro, após ser diagnosticada pela equipe de neurocirurgia do hospital onde ele estava internado no Centro de Terapia Intensiva.

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Para delegado que investiga morte de cinegrafista, houve intenção de matar

O tatuador Fábio Raposo confessou à polícia ter participado da explosão do rojão que atingiu Santiago. Ele foi preso na manhã de domingo em cumprimento a um mandado de prisão temporária expedido pela Justiça. O delegado Maurício Luciano, titular da 17ª Delegacia de Polícia (São Cristóvão) e responsável pelas investigações, disse que Fábio já foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado e crime de explosão e que a pena pode chegar a 35 anos de reclusão.

Raposo ajudou a polícia a reconhecer um segundo responsável pelo disparo do artefato que causou a morte do cinegrafista. O tatuador, preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, afirmou, de acordo com o relato do delegado, que “eles se encontravam em manifestações" e que "esse rapaz tem perfil violento”.

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'Profissional de imprensa vai à guerra todo dia no Rio', diz jornalista

A Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou, na manhã do dia 11, uma foto do suspeito de ter acendido o rojão que atingiu Santiago Andrade. Caio Silva de Souza, 23 anos, tem duas passagens pela polícia e era considerado foragido desde que foi expedido um mandado de prisão temporária em seu nome. Fábio Raposo, que passou o rojão, reconheceu o autor do disparo a partir da imagem levada pelo delegado.

Procurado por homicídio doloso qualificado – quando há intenção de matar – por uso de artefato explosivo e pelo crime de explosão, o suspeito foi preso na madrugada de 12 de fevereiro em uma pousada na cidade de Feira de Santana, na Bahia. De acordo com o advogado Jonas Tadeu Nunes, que também defende Fábio Raposo, Caio Silva de Souza seguia em direção ao Ceará, para a casa de um avô, mas foi convencido a se entregar. Ele não reagiu ao ser preso.

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Fonte: Terra
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