Em ato, lésbicas relatam agressões: 'dizem que é nojento'

Manifestantes foram às ruas para ocupar o "espaço público" em ato que classificaram como "político". "Somos muitos, e os direitos ainda não são iguais", diz ativista

3 mai 2014 - 20h17
(atualizado às 23h58)

Participantes da 12ª Caminhada de Lésbicas e Bissexuais, ocorrida na tarde deste sábado, na região central de São Paulo, relataram que são comuns agressões morais sofridas apenas pelo fato de estarem com parceiros do mesmo sexo --em público. "A própria comunidade LGBT precisa entender que nos escondemos muito e que a violência contra gays e lésbicas existe”, disse a estudante Dana Rodrigues, de 25 anos, que foi à passeata com a namorada, a contadora Elisabete Fernandes, 36 anos.

“Isso que fizemos foi um ato político; foi mostrar para a sociedade que a gente não está se escondendo e está ocupando, nem que seja por um tempo pequeno, o espaço público", completou Dana. Se já sofreram algum episódio de violência? “Quando me olham feio, quando dizem que é nojento duas pessoas do mesmo sexo se beijarem ou quando um homem sugere algo sexual, simplesmente por não entender nosso afeto como algo diferente, me sinto, sim, violentada”, afirmou. “Já ouvimos no metrô homens dizerem que vão nos ensinar a ‘ser mulher de verdade’ ou que somos nojentas. Isso não é violência?”, questionou Elisabete.

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Amigas e lésbicas, a cantora Tainá Molina, 18 anos, e a estudante Daniela Moreira, de 17, afirmam já ter ouvido xingamentos em diversas oportunidades – inclusive na Paulista, palco da 14ª Parada do Orgulho Gay da cidade, que acontece amanhã, e da caminhada de hoje. “Já fui chamada de vagabunda, na Paulista, andando com outra menina", disse Daniela. "Não é raro acontecer”.

“Amigos meus, gays, já apanharam no Tatuapé (zona leste de SP) por demonstrarem carinho juntos”, relatou Tainá, para quem “o preconceito ainda demora a acabar”. “Mas muita gente tem assumido sua orientação, dando a cara a tapa – mostrar isso com uma manifestação dessas, de hoje, ajuda muito”, opinou Daniela.

Marcha como ato político

Críticas ao machismo, à homofobia e até contra a Copa do Mundo e contra a falta de moradia para pessoas de baixa renda em São Paulo deram a tônica à caminhada das lésbicas e das bissexuais. O ato fechou vias importantes da capital paulista e transcorreu pacificamente.

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As manifestantes, que saíram em um grupo de aproximadamente 200, do vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), afirmam ter reunido pelo menos mil pessoas até o Largo do Arouche, tradicional reduto LGTB paulistano. Durante a passagem do “superbloco”, a avenida Paulista e as ruas Augusta e Consolação sofreram interdições por agentes da Companhia de Engenharia de Tráfego e pela Polícia Militar, a exemplo do Largo do Arouche. Não houve incidentes.

Sozinhas, em grupo ou com as respectivas parceiras, as ativistas portaram placas denunciando violência e pediram igualdade de direitos e fim de intervenções religiosas nas decisões políticas de senadores e deputados.

“Ato político” também foi a definição dada pelo casal Carine Polezi, 22 anos, assistente de logística, e Thalita Crepaldi, 22, estudante, como razão para participarem da caminhada. “Antes de tudo, o que fazemos é um movimento político de mostrar que somos muitos e os direitos ainda não são iguais; o respeito não é o mesmo. A passeata ajuda a conscientizar as pessoas”, definiu Carine. “Muitas mulheres de idade, senhoras, mesmo, ainda não aceitam quando demonstramos carinho em público, ou acham que é moda e vai passar”, completou Thalita. “Mas no trabalho, como o meio ainda é muito masculino, tenho receio de expor minha orientação sexual e ser prejudicada. Falo apenas que namoro, por exemplo, mas não digo que é uma mulher”, observou a assistente de logística.

Homens apoiam marcha das lésbicas

Os amigos Luís Gênova, 51 anos, e Raimundo Alves, 59, também foram à manifestação e relataram que a violência é comum contra a comunidade LGBT. “Há grupos de homens que defendem a ‘correção’ de lésbicas, há pessoas que acham que homossexualidade é doença... nossa sociedade ainda é muito conservadora, infelizmente”, sugeriu Alves.

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“A presidente Dilma (Rousseff) capitulou a bancada evangélica e essa bandeira história do PT, pela defesa dos LGBTs, ficou em segundo plano”, constatou Gênova. Ambos são militantes do PSTU, partido que, junto com o próprio PT, teve bandeiras na caminhada de hoje.

Portuguesa de 79 anos vai à passeata

Participante mais idosa da caminhada, dona Judite, 79 anos, portuguesa, definiu em rápidas palavras o porquê de estar no ato – ao lado, bem entendido, do filho Paulo, 49 anos, gay assumido. “É a primeira vez que venho a uma manifestação. E vim porque a mulher ainda é muito desrespeitada pelo machismo, pela violência, porque muitas vezes é aviltada, chamada até de vagabunda, sem razão. Isso precisa acabar”, considerou a aposentada.

Fonte: Terra
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