Com 3,5 mil casos confirmados e 110 mortes pelo coronavírus, o litoral norte de São Paulo iniciou a retomada do turismo quase cinco meses após a chegada da pandemia. As prefeituras das quatro cidades - Ubatuba, Caraguatatuba, São Sebastião e Ilhabela - já registram aumento da população flutuante.
O movimento do sistema de balsas, em Ilhabela, aumentou 25% depois que os hotéis reabriram, no dia 15 de julho. Já a prefeitura de São Sebastião liberou na quinta-feira a ocupação de 100% da capacidade de hotéis e pousadas do município.
De acordo com o prefeito Felipe Augusto (PSDB), as praias estão liberadas e já não há restrição à entrada de turistas. "A cidade está lotada desde o início da pandemia, pois muitos veranistas vieram fazer a quarentena aqui. Hoje, o novo coronavírus está controlado."
Academias de ginástica, saunas, solários e outros espaços de lazer nos estabelecimentos podem ser usados com agendamento prévio. Conforme a prefeitura, o distanciamento entre mesas e espreguiçadeiras em áreas sociais deve ser de 1,5 m.
Os bares e restaurantes dos hotéis devem continuar recebendo hóspedes até preencher a metade dos lugares. Pousadas e hotéis de praias receberam a recomendação de não emprestar cadeiras, guarda-sóis e outros equipamentos de lazer aos hóspedes para evitar aglomeração.
Segundo o prefeito, embora a população seja de 89 mil moradores, 140 mil estão na cidade. No último fim de semana, turistas lotaram praias como a de Camburi, onde até partidas de futevôlei eram disputadas.
Em Ilhabela, hotéis, pousadas e salões de beleza funcionam desde o dia 15 de julho, com ocupação limitada a 50%. No dia 22, a prefeitura autorizou também o funcionamento das academias e piscinas. Bares e restaurantes funcionam com até 40% das mesas. As marinas também voltaram a operar. Nas praias, são permitidos esportes em dupla por até uma hora. A ilha ficou fechada para visitantes desde meados de abril até o dia 23 de junho.
Em Caraguatatuba, não há restrição para a entrada de turistas, mas hotéis e pousadas ainda operam com 60% da lotação. As praias foram liberadas e a prefeitura fiscaliza o uso de máscaras e aglomerações. "A prefeitura não tem prerrogativa para impedir a entrada de turistas e frequentadores nas praias, mas realiza campanhas de conscientização", informou.
Com menos casos e mortes pela covid-19 que as duas vizinhas, Ubatuba é a única cidade do litoral norte que ainda restringe o acesso às praias, mas o controle não é rigoroso. Segundo a prefeitura, a areia da praia só deve ser utilizada para a prática de esportes individuais, de segunda a quinta-feira, ainda assim para moradores. No entanto, foi autorizada a abertura dos quiosques e o trabalho de ambulantes na faixa de areia.
O empresário Renan Wilson Correia, de Sorocaba, esteve em Ubatuba no último fim de semana com familiares e amigos. "A gente tomou os cuidados, usou máscaras, mas tinha gente sem máscara também", disse. A prefeitura admite dificuldade para controlar o acesso de banhistas em 70 praias espalhadas pela extensa orla, mas disse ter intensificado a fiscalização.
No último fim de semana, mais de 100 pessoas foram autuadas por não usar máscara e 35 bares e restaurantes foram notificados. No calçadão central, mais de 100 pessoas foram flagradas sem máscara.
Segundo a Associação de Hotéis e Pousadas de Caraguatatuba (AHP), a ocupação dos hotéis em julho nos dias úteis foi de quase 20%. "Nos fins de semana, ficou em torno de 50%, próxima do limite de 60% (baseado na ocupação de leitos), que é permitido atualmente no município", diz o presidente da entidade, Thiago Fabrette.
Futuro
Dias ensolarados e cansaço do confinamento motivam a procura por hotéis no litoral paulista. "As pessoas estão cansadas de ficar em casa. Ainda não abrimos áreas comuns de jogos e piscinas. Embora seja possível, o protocolo ainda não permite", explica o presidente da AHP.
'Melhor do que eu poderia esperar', afirma empresário
Depois de 97 dias de portas fechadas, o Hotel Pousada Vivendas do Sol e Mar, em Caraguatatuba, foi reaberto. "Foi um momento muito difícil. Conseguimos reabrir, mas a outra pousada, que eu tinha, precisei fechar definitivamente. Dias de insegurança, desespero. Precisei demitir funcionários. Pedi linha de crédito em março e consegui em julho. Apesar de todas as dificuldades, tentei seguir confiante em retomar meu negócio", afirma Rodrigo Tavano, proprietário do estabelecimento e vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo (ABIH-SP).
Tavano se diz surpreso com a presença de hóspedes desde a reabertura. "Melhor do que eu poderia imaginar. No primeiro dia, já recebi um casal com uma criança. Achei que passaria vários dias sem clientes." Em julho, o hotel registrou 37% de ocupação, menor que os 85% no ano passado. Mas 37% é um ótimo resultado nesse momento. "Esperava entre 5 e 10%", diz.
Para voltar a receber os hóspedes, o local, que conta com 34 apartamentos, investiu em promoções de diárias e adotou todos os protocolos de segurança. "Fizemos várias adequações. Instalamos recipientes de álcool em gel por todo o hotel, placas sinalizando o uso obrigatório de máscara e aferimos a temperatura de todos."
Segundo ele, até a forma de servir o café da manhã mudou. "Somente à la carte. No dia anterior, o hóspede preenche o que deseja comer. Há embalagens a vácuo de frutas e sachês descartáveis de sal, açúcar e azeite, por exemplo."
O momento ainda é delicado e desafios estão por vir, mas, para ele, é gratificante receber novamente os clientes. "É emocionante ver o semblante de alegria dos nossos hóspedes. Muitos até choram de emoção entre eles. Tem relatos de pessoas que não saíram de casa nem para fazer compras, tudo por aplicativo. Depois de vários meses trancados em um apartamento, é revigorante chegar a um local diferente com uma ampla área verde."
Uma delas é a vendedora Mariana Ramos, de 37 anos, que esteve no último fim de semana no litoral norte com o marido e os filhos. "Depois de 120 dias em casa na capital paulista, incrédulos ainda com tudo que acontece, decidimos viajar. Chegamos engessados sem saber como seria, mas tivemos dias incríveis."
Vacina
Apesar da procura por hotéis em Caraguatatuba, o setor ainda está receoso. "A incerteza de oscilações em reabrir e fechar novamente gera insegurança. Sabemos que até ter a vacina, não será nada fácil", estima Thiago Fabrette, da Associação de Hotéis e Pousadas. / Renata Okumura