'Em nenhum momento pensei em atirar', diz PM agredido em protesto em SP

Soldado Wanderlei Paulo Vignoli sacou arma após ser cercado por manifestantes; em meio ao tumulto, PM levou pedrada na cabeça

12 jun 2013 - 18h15
(atualizado às 18h24)
<p>Wanderlei Paulo Vignoli mostra ferimento causado por pedra arremessada por manifestantes</p>
Wanderlei Paulo Vignoli mostra ferimento causado por pedra arremessada por manifestantes
Foto: Rodrigo Paneghine/SSP / Divulgação

Um dia após ser cercado por manifestantes e ser atingido na cabeça por uma pedrada, o policial militar Wanderlei Paulo Vignoli relatou nesta quarta-feira os momentos de tensão vividos durante os protestos contra o reajuste das tarifas do transporte público de São Paulo, registrados na noite de terça-feira. O PM diz ter passado por "uma das situações mais difíceis de sua carreira" e alega que sacou sua arma em meio ao tumulto apenas para afastar o grupo. "Em nenhum momento pensei em atirar contra eles. Minha obrigação, antes de tudo, é com a vida e a segurança da população", falou Vignoli, em declarações divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública (SSP).

Segundo a SSP, o soldado está na PM há 20 anos e fazia a guarda do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-AP), na praça Doutor João Mendes, na noite de ontem. Por volta das 19h, viu um jovem tentar escalar uma das paredes do prédio para pichar. Ao tentar impedi-lo, de acordo com a secretaria, o PM foi cercado por vários manifestantes, "que passaram a agredi-lo com pedras e pedaços de pau".

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"Do nada, surgiram milhares de pessoas e, enquanto eu tentava impedir uma pichação, fui alvejado por várias pedradas na cabeça. Fiquei um pouco zonzo e caí, e um jornalista (Giba Bergamim Jr., do jornal Folha de S.Paulo) que viu a ação tentou impedir as pessoas", relata o policial. O PM afirma que, mesmo diante da ameaça, manteve o controle. "Recebemos treinamentos constantes na polícia, onde aprendemos a usar a arma só em último caso. Além do mais, mesmo entre os manifestantes, há quem não queria brigar, além de haver vítimas ali no meio", relata.

Mesmo tendo sacado sua arma, o PM nega qualquer possibilidade de fazer disparos em legítima defesa. "Eu pensei primeiro nas pessoas que estavam ali, e não em mim. Temos que evitar os crimes protegendo a população. Sempre que possível, devemos reter o agressor sem o uso da arma", afirmou. Socorrido por outros policiais do patrulhamento do tribunal, o soldado foi levado à Assistência Médica Ambulatorial (AMA), na região da Sé, e encaminhado ao Hospital da Polícia Militar, onde permaneceu internado com traumatismo craniano.

O soldado entende a causa da manifestação, mas condenou os atos de vandalismo. "A manifestação é algo previsto e permitido na Constituição Brasileira. Eu entendo o porquê das passeatas, mas não a violência delas", explicou o policial.

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Protesto dura cerca de seis horas

Após quase seis horas do início do protesto contra o aumento das tarifas de ônibus, trem e metrô na capital paulista, foram registrados pelo menos 20 prisões de manifestantes e três casos de policiais militares feridos por pedras. A informação é do tenente-coronel Marcelo Pignatari, que comandou o policiamento que acompanhou os manifestantes, e disse ainda que os detidos foram encaminhados ao 78º Distrito Policial (Jardins).

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A manifestação começou de maneira pacífica, mas os primeiros tumultos começaram logo no início da passeata, na rua da Consolação, onde um jovem ciclista foi detido ao trafegar na única faixa liberada na via. A partir daí, o clima continuou tenso, com novos episódios de confronto entre manifestantes e policiais militares. 

A situação se agravou, porém, em frente ao terminal de ônibus Parque Dom Pedro. Após cerca de 20 minutos concentrados em frente ao local, um grupo de jovens tentou levar a passeata ao local, entregando flores aos policiais, mas foi impedida pela PM, que disparou bombas de gás lacrimogênio e tiros de bala de borracha. 

A PM não soube informar quantos manifestantes ficaram feridos, mas a reportagem presenciou vários jovens sendo atingidos por cassetetes e balas de borracha disparados pelos policiais. Pelo menos dois manifestantes ficaram feridos após serem atropelados por um motorista, que dirigia um Fiat Uno, que se irritou com a manifestação e atirou o carro contra os jovens - um homem e uma mulher, que não se feriram com gravidade.

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Segundo os organizadores, o objetivo da manifestação era "parar o País para serem escutados em Paris", em referência à cidade para onde o prefeito, Fernando Haddad (PT), e o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), foram para defender a candidatura da cidade para ser sede da Expo2020. No início do protesto, muitos passageiros de ônibus demonstraram apoio à passeata, aplaudindo a manifestação. Entretanto, a pichação dos veículos - muitos ônibus - e de prédios públicos foi reprovada por muitas pessoas que assistiam ao protesto.

Confrontos

O protesto foi marcado por confrontos entre os manifestantes e policiais militares. Um grupo usou lixeiras e pedras para destruir vidraças de agências bancárias. Na rua Silveira Martins, o diretório do PT também foi apedrejado.

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A Tropa de Choque da PM usou bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes, após o confronto no terminal de ônibus do parque Dom Pedro. Com isso, grande parte dos participantes do ato subiu para a avenida Paulista.

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A manifestação teve início, no fim da tarde, com uma concentração no fim da Paulista. Depois saiu em passeata pela rua da Consolação. Em seguida, os participantes bloquearam completamente a Radial Leste, pegaram a avenida Liberdade, passando pela praça da Sé. Na avenida Rangel Pestana, um pequeno grupo apedrejou e queimou um ônibus elétrico que estava estacionado. No parque Dom Pedro, eles foram impedidos pela polícia de entrar no terminal de ônibus.

Aumento da tarifa

As passagens de ônibus, metrô e trem da cidade de São Paulo passaram a custar R$ 3,20 no dia 2 de junho. A tarifa anterior, de R$ 3, vigorava desde janeiro de 2011. Desde o dia 6, a cidade vem enfrentando protestos.

Segundo a administração paulista, caso fosse feito o reajuste com base na inflação acumulada no período, aferido pelo IPC/Fipe, o valor chegaria a R$ 3,40. "O reajuste abaixo da inflação é um esforço da prefeitura para não onerar em excesso os passageiros", disse em nota. 

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), havia declarado que o reajuste poderia ser menor caso o Congresso aprovasse a desoneração do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) para o transporte público. O decreto foi publicado, mas não houve manifestação da administração municipal sobre redução das tarifas.

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Fonte: Terra
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