Há quase 30 anos, a família Andrade vive uma disputa interna pelo comando dos pontos do jogo do bicho e das máquinas caça-níqueis, que pertenciam ao patriarca Castor de Andrade, um dos maiores bicheiros do Rio de Janeiro.
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Na última terça-feira, 29, a prisão de Rogério de Andrade, sobrinho de Castor e considerado atualmente o principal nome do jogo do bicho no Rio, marcou mais um episódio dessa longa rivalidade. Rogério é acusado de ser o mandante do assassinato de Fernando Iggnácio, seu cunhado e também genro de Castor.
Castor de Andrade faleceu em 1997, vítima de um infarto durante uma reunião com amigos em Copacabana. Na época, a sua morte deixou uma lacuna no controle do império da contravenção, gerando dúvidas sobre quem assumiria o comando.
Três figuras despontaram como sucessores: Paulinho Andrade, filho de Castor; Rogério de Andrade, sobrinho e braço-direito; e Fernando Iggnácio, genro de Castor, que já administrava as máquinas caça-níqueis. O ambiente de tensão logo resultou em uma série de disputas, nas quais cada um tentava eliminar os concorrentes.
O primeiro a cair foi Paulinho Andrade, assassinado em um atentado na Barra da Tijuca, em 1998. Ele e seu motorista foram mortos a tiros enquanto circulavam pela Avenida das Américas. Rogério foi apontado como o mandante do crime, mas, anos depois, o Supremo Tribunal Federal anulou a condenação por falta de provas.
Após a morte de Paulinho, a rivalidade entre Rogério e Fernando Iggnácio se intensificou, com ambos disputando o controle do jogo do bicho e dos cassinos. Em 2001, Rogério sobreviveu a uma emboscada em um apart-hotel na Barra da Tijuca. No entanto, a guerra entre os dois deixou um saldo de mais de 50 mortes, segundo a Polícia Federal informou à TV Globo.
Rogério e Fernando também chegaram a ser detidos juntos durante a Operação Gladiador da Polícia Federal, que expôs a ligação entre a máfia dos caça-níqueis e o jogo do bicho com servidores públicos. Os dois inimigos históricos dividiram momentos próximos e até se envolveram em uma briga dentro da penitenciária Bangu 8.
Em 2010, Diogo Andrade, filho de Rogério, morreu em uma explosão de carro na Barra da Tijuca. Rogério, que costumava dirigir, estava no banco do carona. Embora ferido, sobreviveu ao atentado. A disputa entre os rivais se intensificou ainda mais.
Em 2020, Fernando Iggnácio foi morto com tiros de fuzil ao desembarcar de um helicóptero no Recreio dos Bandeirantes. A execução foi rápida, ocorrendo antes que ele conseguisse entrar em seu carro blindado. A investigação apontou que o chefe de segurança de Rogério participou do crime. Em 2021, Rogério foi formalmente acusado pelo assassinato, mas a denúncia foi trancada pelo STF no ano seguinte.
Após anos de disputas e ser alvo de operações policiais, Rogério de Andrade foi preso em 2022, durante a segunda fase da Operação Calígula, que visava combater jogos ilegais. Em abril de 2023, o ministro Kassio Nunes Marques, do STF, autorizou a retirada de sua tornozeleira eletrônica.
Na última terça-feira, Rogério voltou a ser preso, agora como parte da Operação Último Ato, acusado de ser o mandante da morte de Fernando Iggnácio. A prisão ocorreu em sua residência na Barra da Tijuca, em um condomínio de luxo.
Imóvel em Angra
De acordo com o jornal O Globo, o bicheiro Castor de Andrade, que acumulou uma vasta fortuna ao longo de sua vida com dinheiro proveniente da contravenção e das máquinas caça-níqueis, possuía uma propriedade cercada de água em Ilha Grande, Angra dos Reis. Foi de lá que seu genro, Fernando Iggnácio, decolou de helicóptero antes de ser assassinado na emboscada de 2020. Ele e sua família tinham passado o fim de semana na casa construída no local, aproveitando o tempo livre com passeios de lancha.
A propriedade, parte do espólio de Castor, tornou-se foco de disputas entre os membros da família. Processos sobre a divisão das terras envolveram Fernando Iggnácio, sua esposa Carmen Lúcia, e Elizabeth Costa de Andrade Silva, viúva de Paulinho, tanto na Comarca de Angra dos Reis quanto no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, segundo o jornal.