A Escola de Educação Infantil Almanac precisou se prevenir para não ter problemas com a falta de água na cidade de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. A instituição privada gastou cerca de R$ 29 mil para construir reservatórios e trocar todo sistema de torneiras e vasos sanitários, já que o bairro Bom Clima, onde está localizada a escola, é um dos que mais sofre com a falta de chuva e a perda de recursos hídricos imposta pela Sabesp. O Sistema Cantareira, que abastece a região, está com apenas 14,7% de volume de água.
O casal Alexandre Rodrigues e Adriana Venditti Rodrigues, donos da escola, precisaram consultar um arquiteto para construir novas caixas d’água e um reservatório subterrâneo de 30 mil litros de água. A escola está crescendo e um novo prédio está sendo construído. Por isso Alexandre e Adriana decidiram se prevenir e tomaram a decisão de um novo reservatório no fim do ano passado, quando a situação do Sistema Cantareira já estava complicada.
"Já tínhamos um reservatório, mas como vamos aumentar as salas e o prédio pensamos em aumentar a capacidade de água. O reservatório era de 7 mil litros e tinha uma caixa d’água de 2 mil. O total da escola já não estava mais sendo suficiente porque estávamos tendo dois dias com água e um sem", explicou Alexandre.
Ao conversar com o arquiteto, o profissional orientou o casal a construir um reservatório subterrâneo, já que o suspenso seria mais caro e esteticamente desfavorável. “Além disso, aumentamos de dois para seis mil litros a capacidade de nossa caixa d’água. Ou seja, com nosso reservatório e a caixa podemos ficar duas semanas sem que não falta água pra gente”, explicou Alexandre.
Contando o reservatório e as caixas, a Almanac soma 36 mil litros de água. Porém, a ideia do proprietário é construir mais um reservatório no novo prédio, desta vez um de 20 mil litros.
"Vamos ficar com 50 mil litros. Sai caro pra fazer. Gastamos 35 caçambas mais mão de obra, o que dá cerca de R$ 26 mil. Mas se for ver o prazo, com o que eu pago de conta que é cerca de R$ 2,5 mil. Comprando a água essa conta caiu para R$ 900. A água do SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) de Guarulhos é muito cara, então compensa mais a do caminhão pipa, que é ainda mais potável", explicou.
Além dos R$ 26 mil gastos com o reservatório, Alexandre precisou comprar torneiras de pressão e vasos sanitários com ação dupla, o que custou mais R$ 2,5 mil, totalizando quase R$ 29 mil para evitar a falta de água na escola.
"Eu estava fazendo um (reservatório) de 7 mil e o arquiteto me sugeriu um de 40 (mil) pois 7 era pouco, mas achamos melhor fazer um de 30 e duas caixas de 3. Quem está usando o reservatório por enquanto são os pedreiros. Estamos com 7 mil de caixa d’água, mas agora está faltando muita água e nosso reservatório está baixando. Enchemos três vezes apenas, a primeira para ver se estava vazando, a segunda para limpar e agora essa vai ser a primeira vez que vamos encher para uso", disse.
Segundo Adriana, a situação antes de ter o reservatório era muito complicada, já que o bairro Bom Clima sempre teve problemas com abastecimento de água. Ela conta que antes do Carnaval a escola ficou três dias sem água, mas acabou usando o reservatório, e precisou fazer uma reunião com os pais dos alunos para mostrar a situação da escola. A Almanac conta com 235 alunos, de 4 meses a 10 anos.
"Se a gente não tivesse aumentado as caixas d’água e feito o reservatório teríamos muitos problemas. A situação era terrível antes de ter o reservatório. A escovação e a parte de higiene das crianças, quando não tínhamos o reservatório, gerou uma polêmica com os pais. Eu tive que reduzir isso. A criança que ficava o dia todo na escola, liberávamos duas escovações. Já a de meio período não fazia escovação. Tivemos que fazer uma reunião, explicar. Mas agora já foi resolvido", lembrou.
Alexandre lembrou ainda que o arquiteto sugeriu fazer um recipiente para captação de água da chuva. "Mas eu não quis fazer. Imagina gastar R$ 15 mil e quando eu ia usar se não chove desde outubro. Fiz um reservatório de R$ 26 mil, mas eu uso quando quiser e precisar. O que faremos é o recipiente para captação no prédio novo porque vamos trabalhar a sustentabilidade com as crianças, mas em termo emergencial não ia adiantar nada", disse.
Adriana disse também que, além de todo investimento para evitar a falta de água em Guarulhos, a escola trabalha a sustentabilidade e o uso da água de forma pedagógica com as crianças. "Desenvolvemos um trabalho pedagógico com as crianças de conscientização, do uso da água, da importância. Elas que vão levar para vida. Fizemos as mudanças das torneiras para as econômicas e elas, graças a Deus, estão bem instruídas e elas mesmas se policiam umas as outras sobre o uso incorreto da água. Esse é o diferencial."
Novo sistema de racionamento
O Saae de Guarulhos está implantando rodízio de água dia sim, dia não em diversos bairros devido à redução do volume de água fornecido pelo Sistema Cantareira. A Sabesp reduziu 390 litros por segundo do total de 2,5 mil devido à escassez de água nos reservatórios. Segundo a Saae, não há distinção entre os bairros abastecidos pelo sistema Cantareira, ao contrário do que havia sido planejado anteriormente. No total, são 850 mil moradores atingidos. Outros 210 mil, que vivem em seis bairros da cidade, já convivem com o racionamento desde fevereiro devido à redução da água do sistema Alto Tietê.
A Saae compra da Sabesp 87% da água distribuída em Guarulhos – sendo 62% do Cantareira e 25% do Alto Tietê. Os demais 13% são produzidos pelo próprio município.
Porém, além do sistema de rodízio, os moradores estão tendo que construir caixas d´água em suas pequenas residências. "Tiveram que colocar caixa d’água só contavam com a água da rua. Mas dessa vez eles já viram no fim do ano passado que esse problema aconteceria e construíram pequenas caixas. As pessoas sempre souberam desse problema e faziam as reservas de água em baldes", disse a guarulhense Isilda Ribeiro de Carvalho, 51 anos, moradora do bairro Jardim São Francisco.
Situação no Sistema Cantareira
A partir de maio, cerca de 200 bilhões de litros de água que estão no volume morto do Sistema Cantareira estarão disponíveis para distribuição. As obras foram iniciadas na segunda-feira nas represas de Atibainha e Jaguari. De acordo com a companhia, essa quantidade de água é suficiente para abastecer os moradores da região metropolitana de São Paulo por quatro meses.
Segundo a Sabesp, as águas do fundo das represas ficam abaixo do nível das comportas, por isso a obra é necessária. Serão construídos dois canais de 3,5 quilômetros e, instaladas 17 bombas, que envolvem um investimento de R$ 80 milhões. A Sabesp garantiu que a água passará pelo mesmo tratamento da que é fornecida atualmente e terá, portanto, a mesma qualidade.
A companhia destacou ainda que o total de água no volume morto chega a 400 bilhões de litros, mas serão disponibilizados, neste momento, 196 bilhões de litros. Além disso, informou que essa quantidade será usada apenas se houver necessidade.