Família de atingida por pedrada pede reforço na investigação

Família da menina pede a apuração do caso e a prisão dos dois homens acusados de intolerância religiosa

23 jun 2015 - 10h10
Menina vítima de pedrada participa de manifestação no RJ
Menina vítima de pedrada participa de manifestação no RJ
Foto: Luiz Souza / Futura Press

O chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro, delegado Fernando Veloso, recebeu na segunda-feira (22), Kátia Marinho, avó da menina Kaillane Campos, de 11 anos, que levou uma pedrada na cabeça, no último dia 14, depois de sair de um culto de candomblé. Kátia estava acompanhada do babalaô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, e da coordenadora do Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir), da Superintendência de Direitos Difusos do governo do Rio de Janeiro, Lorrama Machado.

A família da menina pede a apuração do caso e a prisão dos dois homens acusados de intolerância religiosa. A avó, que no candomblé tem o nome de mãe Kátia de Lufan, saiu do encontro otimista quanto à apuração do crime. Segundo ela, o chefe da Polícia Civil informou que foram pedidas imagens das câmaras internas de um ônibus usado pelos criminosos para fugir do local e estão sendo colhidos depoimentos de integrantes de igrejas evangélicas do bairro.

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“Foi uma reunião maravilhosa, e surgiram ideias para que se chegue à identificação dos criminosos, inclusive (com) setores de apoio para esse tipo de crime. Então estamos muito felizes”, revelou.

O babalaô Ivanir dos Santos disse que com relação às imagens das câmaras do ônibus ainda não há definição se elas realmente existem. Isso será apurado pela polícia, como também a identificação dos criminosos. “É impossível que duas pessoas desapareçam na poeira. Diz que o motorista não viu nada, não lembra de nada. Então, a gente está aguardando que a investigação caminhe. Claro que a gente sabe que, pela prudência, eles nunca dizem tudo de uma investigação, até para não atrapalhar onde vai chegar”, disse.

Kátia acrescentou que está satisfeita com a mobilização da sociedade contra a intolerância religiosa, e um dos exemplos disso foi a manifestação de ontem (21) no Largo do Bicão, na Vila da Penha, que reuniu integrantes de várias religiões. Para ela, o ideal é um respeitar o espaço do outro. “Hoje já não vejo a pedrada na Kaillane como uma tragédia. Vejo como uma vitória para uma nação, para um povo, para você poder ir e vir sem que sofra nenhum tipo de violência, seja física ou verbal”, analisou.

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Na avaliação da coordenadora do Ceplir, Lorrama Machado, o crime contra Kaillane representa o início para que o Estado preste mais atenção aos casos de intolerância religiosa que vêm ocorrendo no Rio de Janeiro há muito tempo. “Independe de ser um segmento religioso ou não. Pode até não ser um evangélico, pode ser qualquer pessoa que não tenha religião. A Kaillane levou uma pedrada, o ato houve, e a gente quer que seja punido, porque é crime”, comentou.

Hoje pela manhã, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e a secretária de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, Teresa Cosentino, se reuniram, no Palácio Guanabara, em Laranjeiras, zona sul do Rio, com representes da umbanda e do candomblé, entre eles Kátia Marinho.

O governador informou que todas as delegacias do estado têm o dever de apurar os casos de intolerância, e por isso os policiais precisam estar preparados. “Intolerância é crime previsto em lei, ninguém pode ser discriminado em razão de credo religioso. É dever do Estado assegurar esse direito e prestar atendimento digno e humanizado. Assim deve ser para qualquer tipo de crime. Precisamos perseguir um atendimento humanizado em todos os casos”, disse.

Para a secretária Teresa Cosentino, é missão do Estado consolidar políticas capazes de evitar que casos como esse ocorram. “Devemos lutar pela tolerância, sim, mas a luta maior é pelo respeito”, apontou.

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Segundo a avó de Kaillane, o governador acenou com a possibilidade de criar uma delegacia especializada para os casos de intolerância religiosa, e a coordenadora do Ceplir acrescentou que faz três anos que a sociedade pede a criação do órgão, que atenderia todos os tipos de casos de intolerância, incluindo os de racismo. Ela ponderou que a questão vem evoluindo, e atualmente já é mais fácil que os registros sejam feitos na Polícia Civil como crime de intolerância religiosa e não como ocorrência de outro tipo. Ainda assim, Lorrama Machado, teme que se houver um órgão específico instalado no Rio de Janeiro, pessoas de outros municípios do estado sejam prejudicadas.

Na reunião da tarde, o chefe da Polícia Civil lembrou que em 2010 foi criado o Núcleo de Aconselhamento Religioso, que funciona na Cidade da Polícia. Nele, representantes de diferentes religiões dão aconselhamento aos policiais civis e atendimento à sociedade, às terças, quartas e quintas-feiras, de 9h às 13h.

Agência Brasil
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