Fotógrafo da Câmara de Porto Alegre é agredido, e vereador pede desocupação

12 jul 2013 - 19h04
(atualizado às 21h03)
 Integrantes do Bloco de Luta pelo Transporte Público ocupam a Câmara desde quarta-feira para reivindicar, entre outras medidas, o passe livre municipal e a abertura das contas das empresas de ônibus
Integrantes do Bloco de Luta pelo Transporte Público ocupam a Câmara desde quarta-feira para reivindicar, entre outras medidas, o passe livre municipal e a abertura das contas das empresas de ônibus
Foto: Ederson Nunes / Divulgação

O presidente da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, Thiago Duarte (PDT), pediu nesta sexta-feira que manifestantes desocupem o plenário da Casa até o fim do dia. A solicitação foi feita depois que um grupo agrediu um fotógrafo da Câmara e tentou violar a porta da TV que transmite as sessões.

O fotógrafo Elson Sempé Pedroso foi abordado com truculência ao tentar fotografar uma suposta tentativa de invasão à sala da TV Câmara. O grupo acreditava que um funcionário do Grupo RBS, afiliado da Rede Globo, acompanhava a movimentação no local.  Duarte disse ter sido empurrado ao tentar conter os agressores.

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"Eu fui empurrado, mas o nosso fotógrafo, o Sempé, que foi efetivamente agredido com mais intensidade", disse o vereador. Sempé alega ter sido chutado e empurrado pelos manifestantes, que, segundo o fotógrafo, tentaram tomar a sua câmera.

Integrantes do Bloco de Luta pelo Transporte Público ocupam a Câmara desde quarta-feira para reivindicar, entre outras medidas, o passe livre municipal e a abertura das contas das empresas de ônibus. A presidência da Casa permitiu a ocupação desde que os manifestantes preservassem o prédio.

"Nossa saída é negociada, para que as pessoas não se machuquem", disse o presidente da Casa. Duarte afirmou já ter entrado em contato com o Tribunal de Justiça para um eventual pedido de reintegração de posse, mas espera acordo com os manifestantes. Os portões que dão acesso à Câmara foram fechados até que a situação se resolva. Segundo Duarte, uma bomba caseira foi encontrada no estacionamento da Casa.

O vereador condenou a forma como o grupo tratou a imprensa nas dependências da Casa. Veículos de imprensa foram impedidos de entrar no Plenário. "A gente não pode, em nenhum momento, transigir em defesa da democracia. O parlamento é um símbolo, e ele não pode ser atacado e agredido dessa forma. Nós entendemos que algumas reivindicações são justas, temos que discutir, mas não podemos perder nossa independência, se não os regimes de exceção podem avançar", disse. Segundo Duarte, há crianças dentro da Câmara. 

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Em resposta aos pedidos dos manifestantes, a Câmara de Vereadores se comprometeu a formar um Grupo de Trabalho para analisar o projeto de passe livre. A Casa também prometeu a elaborar um projeto para possibilitar melhor transparência das planilhas das empresas de ônibus. Sobre o pedido de "quebrar o sigilo bancário dos empresários", os vereadores responderam que a lei só permite esse tipo de providência por meio de decisão judicial.

A Casa Legislativa afirmou também, em carta enviada aos manifestantes, que a estatização do transporte público só será possível se o Executivo Municipal enviar projeto de lei para a Câmara.

Um representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se reuniu com vereadores após a agressão. Por volta das 20h, os vereadores decidiram abrir os portões da Casa para que um grupo que estava do lado de fora pudesse se reunir com os manifestantes no plenário, onde eles farão uma assembleia para decidir se deixarão ou permanecerão no prédio.

Manifestantes negam agressões

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Em nota publicada no Facebook, o Bloco de Luta negou veementemente as acusações do presidente da Câmara. "Antes de mais nada é fundamental deixar claro que não houve nenhuma agressão física a Thiago Duarte nem ao fotógrafo da Câmara Elson Sempé. Temos imagens que comprovam nossa versão", alega o movimento, que vê uma "jogada política" nas declarações do vereador, com o objetivo de "sabotar a ocupação" da Câmara. Os manifestantes também acusam o jornal Zero Hora, do Grupo RBS, de filmá-los "sem autorização".

Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País

Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.

A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.

A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São PauloRio de JaneiroCuritibaSalvadorFortalezaPorto Alegre e Brasília.

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A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.

Fonte: Terra
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